É Findi - Frida Faz Quatro Anos - Poesia, por Romero Falcão*
08/11/2025 -
Hoje, Frida faz quatro anos
não haverá bolo de aniversário
minha cadela não vestirá saiote
nem tampouco lacinhos, fita
para sair numa foto ridícula
Pensei em botar Baleia, Baêta, Piaba
mas o cartório não aceitou
acusou maus-tratos psicológico
sofreria bullying na escola
me sugeriu Brigite, Beatriz, Paloma
Ficou, Frida
Hoje, Frida faz quatro anos
O politicamente correto
Não permite vira-lata
Frida é raça indefinida
Quem virou o mundo, Frida?
Hoje, Frida faz quatro anos
Nunca adoeceu
Talvez o poderoso anticorpo
É preservar natureza que Deus lhe deu
Hoje, Frida faz quatro anos
criada feito os cães das antigas
imune às neuroses humanas
longe das suas feridas
Hoje, Frida faz quatro anos
Eu e ela
Duas feras soltas, sólidas, queridas
Brincando no terreiro
Nada, nada, nada
Nada de dependência emocional
Hoje, Frida faz quatro anos
livre das dentadas do amor dos homens
que aperta, exige, cobra
carente com todas as sobras
Hoje, Frida faz quatro anos
olhar sempre aceso
altivo, cortante, de vidro
caçando lagartixa no quintal
forçando a borboleta se esquivar
do seu bote fatal
Hoje, Frida faz quatro anos
Intacto instinto animal
pupila de lobo que me olha
Beleza primitiva, ancestral
Hoje, Frida faz quatro anos
Ela sabe, ora, se sabe
Vou contra a corrente
Gente ser tratada feito animal
Animal ser tratado feito gente
Hoje, Frida faz quatro anos
ela não é minha filha
é meu bicho de estimação
jamais irei humanizá-la
quero amá-la, respeitá-la
com o que me restou de cão
Talvez Freud explicasse
O ápice da solidão atual
Na qual o pet é remédio
Num prédio de luxo vazio
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.


