imagem noticia

Polêmica - O ilusionismo espelhado da direita, por Natanael Sarmento*

10/11/2025 -

imagem noticia
Com destreza de ilusionista que faz parecerem reais truques mágicos de espelhos, Jorge Henrique Freitas Pinho retira da cartola argumentos surrados da direita, na crítica ao meu artigo “A visão distorcida da direita sobre a criminalidade” (O Poder, em 07/11). No espetáculo de magia, mistura fé e razão e no combo das distorções, o polemista confunde críticas políticas e ideológicas com ataques pessoais.

Corações ou mentes?

O ensaista e articulista auto-denominado "livre pensador" é contumaz contestador de minhas opiniões em O Poder. Espaço que, como sobejamente sabido, estimula o livre debate de ideias e propostas e acolhe o pensamento contraditório, até mesmo em relação à sua linha editorial e aos artigos assinados por sua equipe e direção. Foi nesse espírito e em respeito a uma relação que já ultrapassou meio século, que opinei criticamente sobre o artigo de José Nivaldo Junior acerca da chacina dos 121 mortos no Rio de Janeiro. Discordei. Dei-me ao trabalho, por ser José Nivaldo referência como formador de opinião. E até onde sei nesses mais de 50 anos, nunca foi da direita e muito menos fascista. Estranhei ele acender vela para defunto ruim, o governador do RJ, principal responsável pela chacina de 121 pessoas nas comunidades do Alemão e na Penha. Voltando ao texto de "livre pensador", considero tese de direita a falácia de “quebrar os ovos para fazer omeletes”. Na cozinha é verdade. No combate à criminalidade, não.

Caráter do Estado

O Estado burguês é classista. A quebradeira dos ovos não acontece na Casa Grande, nos condomínios de luxo. Quebram e matam nas senzalas atuais e nas favelas. Como restou comprovado, nenhum chefe importante do mundo do tráfico e atividades criminosas correlatas, foi neutralizado na ação desastrosa. Os verdadeiros responsáveis e chefões do crime são empresários, investidores da Faria Lima e de refinarias de petróleo, possuem indústrias de armas, ocupam cargos nos Três Poderes, em todos os níveis.

O espelho

O ilusionismo idealista hegeliano, avocado pelo doutor Freitas, inverte e distorce a realidade ao optar pela primazia do “espírito”, da ideia, sobre a matéria. Tal primado justifica mitos, crenças e deuses e isso, desde os iluministas, é afronta à razão. Todavia, com a bênção de “Deus”, o filósofo ataca o materialismo dialético e diz que a teoria de Marx colocou o ser humano de joelhos. Nada mais estapafúrdio! O materialismo marxista retirou a humanidade das trevas de se curvar de joelhos diante de deuses e o colocou como senhor da própria história. Mas o mágico dos espelhos tem muitos truques. Sob obscura cortina de fumaça teratológica, diz que a “verdadeira dialética” visa ao diálogo da “verdade consigo mesma”. Aula de retórica, nada mais. Bolha de sabão sem substância alguma, pois o mágico não define o que chama de verdade, tampouco faz esforço para identificá-la.

O que é a verdade?

Os materialistas marxistas afirmam que a verdade tem critérios objetivos e se confirma na prática, na árvore frondosa da vida. Discutir a verdade abstratamente sem comprovação na práxis social é o terreno dos sofistas e escolásticos. Dizer que o Estado está acima dos interesses de classes é uma manifestação do idealismo que interessa à burguesia que explora e oprime todas as outras classes sob o capitalismo e suas superestruturas ideológicas, repressivas e políticas como o Estado, inclusive. É a mágica da ocultação ou falsificação da verdade. O Estado não é ideal, é material e tem classe que o domina e controla. No capitalismo é o comitê dos negócios da burguesia. Defende os interesses da burguesia. A violência contra pobres do Estado burguês não é “ideologia” no sentido da falsificação da verdade. É ideologia no sentido de exposição e demonstração de um fato comprovado na prática. Portanto verdadeiro, historicamente. Neste artigo daremos vários exemplos práticos que confirmam a natureza classista do Estado, a começar pela seletividade na escolha dos bandidos que devem ser fuzilados e dos que devem ser anistiados ou permanecerem intocáveis, “cidadãos acima de qualquer suspeita”, como o chefe de polícia do filme francês.

Martelo

O chiste do martelo foi bom e para ficar completo calhava colocar também a foice, da simbologia comunista da união operário-camponesa. Das alianças históricas de classes exploradas nas revoluções socialistas que desde o século XX deixou de ser “questões teóricas” para serem fatos históricos. O “espelho da dialética” busca uma verdade em si que ninguém sabe e ninguém viu, idealiza. A teoria marxista usa a ciência econômica, a filosofia e a política para denunciar a exploração capitalista e demonstrar a necessidade histórica da revolução proletária e socialista. Sem truques de mágica, fumaças, jogos de espelhos.

Adeus, Hegel

O materialista Marx rompeu com os hegelianos idealistas. Porque chegou à conclusão de que não é a consciência ou ideia que cria o ser humano e o mundo, pelo contrário. É no mundo material que os homens criam símbolos, ideias e “todas as formas de consciências”. O estado alemão não representava a “ideia suprema” ensinada por Hegel. Reprimia trabalhadores que lutavam contra a fome e o frio. O Estado é sempre força organizada de uma classe que se impõe sobre outras.

Amoral?

Na crítica vulgaríssima ao marxismo, os ilusionistas aduzem que a teoria de Marx reduziu o ser humano a mero produto – economicismo – retirando-lhe o “espírito”, doutrina amoral. A caricatura do espelho reflete exatamente as deformações e truques dos mágicos. O marxismo é uma teoria de totalidade e como tal, lida com a base produtiva na qual se engendram as relações de produção da vida e também com as superestruturas ideais, ideologias, culturas, correspondentes a determinadas formações históricas.

Reducionismo?

Reduzir o marxismo a economicismo é a crítica mais banal e pífia. Entendida como luta ideológica ou como ignorância, ágrafos da Terra Plana criticam o que desconhecem. Comunistas possuem elevada força moral para viver e lutar contra todas as formas de exploração humana. Para encarar ricos e enfrentar poderosos. Muitos pagaram e continuam pagando alto preço por esse desafio. Contestamos a falsa moral e a ética capitalista. Do faça tudo por dinheiro, individualismo e “competição” baseada na exploração e opressão de ricos sobre pobres.
A teoria de Marx origina-se da indignação ética diante dessa sociedade capitalista decadente. Que não traz esperanças para a humanidade. Que representa incessante ameaça de hecatombe nuclear em guerras imperialistas e destruição ambiental, em busca do lucro e do poder. Na “Questão Judaica”, Marx constata o fato do trabalhador ser, no capitalismo, reduzido a mercadoria visando produzir riquezas para os burgueses. Nos “Manuscritos Econômicos e Filosóficos”, aponta a divisão social do trabalho e a condição degradante de vida dos trabalhadores. Em “O Capital” explica a mais-valia e a acumulação de riquezas coletivas apropriadas por indivíduos ou grupos restritos. O trabalhador é transformado em mercadoria e máquina alienada da exploração capitalista. A desumanização do ser humano no sistema degenerado pela ganância capitalista, prova o caráter explorador do capitalismo e aponta como bússola o caminho da emancipação do proletariado.


Totalidade: da Terra ao Céu

Sem truques de espelhos, sem mistificações, sem deuses, com a ciência, Marx compreende e explica o desenvolvimento da história humana, sem inverter ou ocultar a realidade. Ele parte da Terra – da infraestrutura e estabelece as conexões necessárias dessa base econômica e social com as superestruturas – Estado, leis, formas de consciências, ideologias.
As relações da estrutura social com base na propriedade privada dos meios de produção expressam divisões de classes. Contingentes humanos que ocupam lugares diferentes e opostos, no sistema de produção. Distinguem-se os papéis da produção e quem parte e reparte a riqueza, que é socialmente produzida. A burguesia capitalista dispõe dos meios de produção e se apropria da maior parte das riquezas. Os trabalhadores geram riquezas e recebem o suficiente para sobreviver, proliferar e continuar gerando mais-valia, vivendo ou escapando como puder. Podemos provar com marteladas nos dados oficiais.
Na divisão social do Brasil, o 1% mais rico da população detém 27,4 de toda renda nacional e os 10 % mais ricos 60% do PIB.

Corrupção sistêmica

Os estudos e estimativas sobre a corrupção no Brasil variam. A CNC – Confederação Nacional do Comércio aponta R$ 100 bilhões. O CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público estima R$ 130 bilhões. A Fiesp – Federação das Indústrias de São Paulo, RS 200 bilhões. Em qualquer das hipóteses a corrupção é bilionária. De líquido e certo é que os bilhões de desvios da corrupção não estão nas favelas do Alemão e da Penha. Os grandes criminosos e traficantes não estão no Alemão e na Penha, estão na Barra da Tijuca e na Faria Lima!

Mais Provas

Corrupção e tráfico de drogas integram e alimentam o sistema capitalista de empresas privadas e tem agentes no aparato estatal.

Corrupção

O IPC – Índice de Prevenção à Corrupção – é o principal indicador mundial (Transparência Internacional) da preocupação ou da leniência do poder público com a corrupção. Nos 180 países pesquisados, o Brasil ficou entre os menos preocupados, na 107ª posição. O binômio do símbolo nacional não é ordem e progresso, mas corrupção e impunidade.

Organizações públicas facilitam

O Tribunal de Contas da União - TCU e Controladoria Geral da União – CGU coordenaram estudo e pesquisa em nove mil entes dos três poderes, em todas as esferas da administração pública. Constata-se que a porteira está escancarada para a boiada da corrupção passar. 87% têm baixo nível de prevenção à corrupção; 90% têm nível baixo de práticas para detectá-la; 92% baixo nível para investigá-la. A porteira é mais aberta nos legislativos municipais, segundo a pesquisa.

Congresso

O Congresso Nacional é reflexo do espelho do sistema de representação política da corrupção burguesa. Em 1988, na “redemocratização” mais de 500 parlamentares foram investigados no STF, 43 por crimes comuns. Em 2020 dos 106 investigados, eleva-se para 178, nos inquéritos. Quantos foram presos?

Judiciário

Nos templos das sacerdotisas togadas da magistratura, a “mão invisível do mercado” assina sentenças e acórdãos. Em 2024, 16 desembargadores e 7 juízes foram afastados. Um, apenas um, foi preso. Os outros, punidos com tornozeleiras eletrônicas. Trabalhador afastado do trabalho sem justa causa não recebe mais salário. Mas os togados afastados recebem o “subsídio básico”, só perdem os penduricalhos da corrupção legalizada tipo “auxílio moradia”, “diárias” e outras prebendas.

Seletividade

O Brasil substituiu a escravidão negreira e indígena pela servidão da exploração capitalista. Casas Grandes dos engenhos deram lugar aos sobrados das cidades, as senzalas às favelas e mocambos, da sociologia gilbertiana. O Capitão do Mato substituído pelo chefe de polícia. A punição dos delitos, historicamente, é seletiva, classista e racista. Reflete-se na população carcerária do país que é de 941.752 pessoas (2025). Pobres e negros, na quase totalidade. Negros somam 70%. Nos assassinatos das ações policiais em 9 estados, 86% dos mortos são negros - absurdos 3.066 de 4.068 mortos violentamente, todos pobres.

Falácias da luta de classes?

O doutor Jorge Henrique Freitas Pinho considera a luta de classes falácia, porque para ele a história é o espelho das ilusões e falácias ideológicas do mambembe enredo do espetáculo da direita. É, sim, um debate entre esquerda e direita e “entre lucidez e fé” como ele reconhece. Ele avoca Deus, portanto tem propriedade para falar de fé. Nós avocamos a economia política, a filosofia – materialismo histórico-dialético e a teoria da revolução socialista, fatos da história humana. Ainda estamos, na maior parte da humanidade, sob o regime da exploração humana, portanto na pré-história do verdadeiramente humano. O martelo ainda nem começou a sua experiência na maior parte do mundo, os espelhos dos ilusionistas se sustentam nos truques cada vez menos convincentes, haja vista o desespero do decadente Império Americano e dos sionistas no genocídio em Gaza. O meu ideal de humanidade não repousa em falácias e truques. Nossa militância é pública, dizemos com todas as letras o que pensamos e pelo que lutamos, sem os truques das falácias, dos sofismas, das ocultações e manipulações dos liberais e dos fascistas serviçais da burguesia.

*Natanael Sarmento é professor e escritor. Membro do Diretório Nacional da Unidade Popular Pelo Socialismo - UP

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula o livre debate de ideias e acolhe o contraditório. Pessoas e instituições citadas ou interessadas, em qualquer texto publicado, têm garantido espaço para suas manifestações.

Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.

Confira mais notícias

a

Contato

facebook instagram

Telefone/Whatsappicone phone

Brasília

(61) 99667-4410

Recife

(81) 99967-9957
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Jornal O Poder - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Jornal O Poder.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Jornal O Poder implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar