O tema da redação do Enem 2025: “O Envelhecimento na Sociedade Brasileira”. Cutuquei meus botões. E se eu estivesse lá na sala diante do fiscal, do relógio, da pressão que o êxito exige? O cronista se daria bem? Lembro do tema, vestibular do Cesesp- é tão velho que a digitação desconhece a sigla, Cesesp.Olha aí, comecei mal, escorregando no etarismo? Sim, como vinha contando, o tema foi “Homens e Mulheres. Direitos Iguais? Também recordo com precisão matemática o rosto do fiscal de giz na mão escrevendo o título no quadro verde. E pela janela aberta do Ginásio Pernambucano, o Capibaribe me olhando, garotão, nervoso, mãos suadas. Sempre fui tenso além da conta na hora dos exames. Talvez defeito de fábrica. A memória também é além da conta, ajuda a escrever e atormentar, já que não apaga passagens tenebrosas.

Fuga do Tema

Quem sabe não sou o personagem do escritor Jorge Luis Borges, "Funes", de memória prodigiosa, mas um idiota que enche a lixeira de excessos, detalhes, e por conseguinte não amplia o pensamento, abstrai, escapa do "óbvio ululante"? Vejam só aonde passeia minha redação. Meu Deus! Fuga do tema. Ainda não escrevi uma linha sobre o Brasil descendo a ladeira- me perdoe Moraes Moreira. E fazer rima, pode? Meu aspirante a poeta esculhamba tudo.Vai pro teu lugar, Diabo. Deixa eu fazer como mandara a fórmula do meu tempo: introdução, desenvolvimento, conclusão. Eita, esse negócio de no meu tempo... Pode tirar ponto, pode?

A Inteligência Natural

E se abordar a vaca fria pelo lado mais doloroso, sombrio, aquele que ninguém quer escrever? Isso não é crônica, velho, é cosia séria. Vou logo avisando, este "velho" é quase veio, gíria da rapaziada. E se a correção for pela Inteligência artificial, ela vai saber a diferença?— será que a IA é o Funes do século 21? E vejam, até aqui não fiz uso de ironia refinada. Mas pelo menos se minha redação for avaliada pela IA, estarei salvo do julgamento moral, o qual a inteligência natural é genial. De novo a rima.Vade retro, Satanás.

Inimigo Feroz

Vou iniciar, demorou, agora, já. “Senhor, o tempo acabou”, o rapaz de azul recolhe a folha ... O tempo...Ah! O tempo.Inimigo feroz da velhice.

*Romero Falcão é cronista.