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Quando o Recife aprendeu a flutuar entre a tragédia e a graça, por Zé da Flauta*

13/11/2025 -

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Foi em 1975 que o Recife virou Veneza, mas sem gondoleiro e com cheiro de lama. O Capibaribe, cansado de ser rio manso, resolveu testar os limites da paciência humana. Subiu, transbordou e levou tudo: móveis, galinhas, retratos de casamento e até a paciência dos santos.


Chorava

A cidade chorava, e não era chuva. Era desespero mesmo. Gente nos telhados, criança boiando em bacia, cachorro latindo pra arca que nunca vinha. Foi um caos tão grande que até os anjos ficaram de galocha.

Lama e humor

Mas o recifense, esse ser feito de sol, barro e teimosia, tem um talento raro, sabe rir do próprio naufrágio. No dia seguinte, entre os destroços, começaram as piadas. “A Compesa tá cobrando a conta do dilúvio!”, dizia um.

Outro respondia: “Se Moisés morasse aqui, não abria o mar, abria o Capibaribe!”. E assim, entre a lama e o humor, a cidade foi secando o pranto. Teve quem pescasse sapato, quem resgatasse sofá com vara de bambu e quem jurasse ver um caranguejo levando carta de amor corrente abaixo. Recife virou aquário de histórias.

Recomeço

Houve fé também. Nos bairros mais alagados, as senhoras acenderam velas dentro de copos, rezando pra São Pedro fechar a torneira do céu. E ele, talvez comovido, mandou um sol bonito dias depois. A lama secou, o cheiro ficou, e a vida seguiu, remendada, mas firme.

Os pescadores


Os pescadores voltaram ao rio, os meninos voltaram à escola, e o povo voltou a contar vantagem. Porque, no fundo, todo recifense é especialista em recomeço, sabe que a cidade é feita de maré, e que até a dor, por aqui, desce com o rio.

Sofrimentos e risadas

Hoje, quando se fala na enchente de 75, ninguém esquece o sofrimento. Mas também ninguém esquece as risadas, os improvisos, as gambiarras de sobrevivência. O Recife aprendeu, naquela lama, uma lição que nem o tempo apaga: quando a água sobe, o humor boia. E foi com ele que a gente atravessou o dilúvio, não em arca, mas em alma.

Até a próxima!

 *Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

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