imagem noticia

É Findi - A Queda, crônica, por Romero Falcão*

14/11/2025 -

imagem noticia
Ninhada de Cobras

Todos nós caímos, cairemos, em algum período da vida. Um amor escapa sem explicação. Loucura se apossa do juízo. A punhalada do amigo de infância por questões ideológicas. A família amável que vira ninhada de cobras na divisão dos bens. “O homem é mais fiel ao seu ódio do que ao seu amor”- Nelson Rodrigues. De repente, o filho sadio, novo, bonito, atleta, amanhece dentro do caixão coberto de flores. É a queda. É a vida. “Apenas a matéria vida era tão fina”. São tantas quedas. Na semana passada caí com a notícia da morte de Lô Borges. Diante das manchetes dos jornais, venho caindo feito folha seca empurrada pelo vento sombrio. Minha pena é movida a quedas.

No Meio de Facínoras

Gigantes da literatura escreveram clássicos depois da queda, ou melhor, dentro da queda, no fundo do buraco. Dostoiévski afirmou que se tornou um escritor de verdade a ponto de escrever “Crime e Castigo”, após o cárcere da tenebrosa prisão na Sibéria. Foi lá no meio de facínoras que brotou o gênio literário. Na queda financeira, social, política, a secura de Graciliano Ramos floresceu alta literatura- Angústia, Vidas Secas e todo papel no qual o “Dostoiévski do sertão” inflamou palavras, acendeu fogueiras no leitor.



Acordei na Madrugada

Uma queda no meu quintal fez escrever esta crônica. Sim, ainda tenho sorrisos de quintal. Bananeira, acerola, araça, limoeiro. Acordei na madrugada com o ataque de Frida- minha cadela- perseguindo um timbu. No desespero, o bicho subiu no adolescente mamoeiro. Frida tem parentesco distante com pitbull, escalou o pé de pau, cravou os dentes no mascote do clube Náutico Capibaribe. Nem o mamoeiro, nem o bicho, suportaram a fúria da fera. O timbu expirou. O mamoeiro tombou, foi ao chão.



Peguei o Facão

Até então não tinha dado nenhum mamão, “especialistas” disseram que era macho, outros que era jovem. Então resolvi arrancá-lo, já que as raízes permaneciam fincadas na terra. Peguei o facão pra fazer o serviço. Prestes a dar o golpe fatal, desisti, não sei por qual o motivo. Só sei que decidi de última hora dar a chance de viver daquela maneira. Enfermo, caído, desenganado. Dei uma mãozinha, levantei até onde ele aguentou, escorei com pedaço de madeira.



Resiste Bravamente

O mamoeiro - tal qual Carolina de Jesus - descobriu uma saída ante a cruel adversidade. Para completar a linha de fogo, antes do escoramento, Frida desdenhava, humilhava, fazia xixi sobre as folhas. Até esqueci de aguá-lo. Mas ele resistiu bravamente. Contou com as migalhas da chuva. Não desistiu de viver, pelo contrário, a queda deu força, mamão doce sem uma única semente. Não deixará herdeiros. Delícia de mel no café da manhã. Cultivar a Poliana dentro de nós não dá polpudos frutos.


*Romero Falcão é um cronista que se arrisca a fazer poema torto.
imagem noticia-5

Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.

Confira mais notícias

a

Contato

facebook instagram

Telefone/Whatsappicone phone

Brasília

(61) 99667-4410

Recife

(81) 99967-9957
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Jornal O Poder - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Jornal O Poder.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Jornal O Poder implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar