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Por que o Brasil parou de celebrar a República, por Emanuel Silva*

15/11/2025 -

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Por Emanuel Silva*

Entre o domingo vibrante de 1925 e o sábado indiferente de 2025, um país que perdeu o rito, a crença e o sentido do 15 de Novembro.

Quando o 15 de Novembro era uma Festa

O Diário de Pernambuco de domingo, 15 de novembro de 1925, edição nº 00264, traz uma série de solenidades em comemoração ao Aniversário da Proclamação da República. Voltar a ler o jornal deste dia é abrir uma janela para um país que ainda acreditava na própria República.

Bandeiras hasteadas nos edifícios públicos, iluminação festiva à noite, escoteiros alinhados desde as cinco da manhã, banda militar e missas solenes faziam parte da programação. Houve inauguração do Quartel Geral da Força Pública do Estado no Derby às 16h, Posse de Prefeitos e Conselheiros e até um chá-dançante de gala no Elite Club Recreativo, no Pátio do Terço.

Era um Brasil disposto a celebrar.

Havia gente nas ruas, discursos nas praças, autoridades se apresentando — e sendo vistas. Não havia internet, mas havia presença. Não havia algoritmos, mas havia civismo. Não havia perfis verificados, mas havia cidadãos.

O país parecia dizer a si mesmo: A República existe — e merece festa !

Recife, Olinda e o País que Participava

O jornal do dia 15 de Novembro de 1925 registra os nomes dos conselheiros municipais do Recife que tomariam posse:
Dr. Demócrito César de Souza, Antônio Augusto Ribeiro Pessoa, Dr. Zeferino Gonçalves Agra, Manoel Arão de Oliveira Campos, Dr. Antônio Lucena da Motta Silveira, entre outros tantos.

Em Olinda, o prefeito José Cândido de Miranda e o subprefeito Adalio Gomes de Araújo eram empossados. O povo aparecia e os políticos apareciam. E ambos se reconheciam no espaço público.

E aqui cabe a pergunta inevitável — e talvez o recado que 1925 envia pelas entrelinhas: Quem lembra destas autoridades hoje?

Certamente eram nomes de peso, de influência, de poder. Mas, todos hoje repousam num lugar comum à memória humana, uma sombra de tinta, um vestígio de uma época, registro para curiosos, historiadores e articulistas nostálgicos.

E quanto às autoridades e super excelências de hoje?

Aos que se imaginam gigantes, imortalizados por pareceres, lives, entrevistas, decisões monocráticas e discursos inflamados — fica o aviso claro:

Se os de 1925 viraram papel esquecido, os de 2025 virarão apenas um bit soterrado no fundo da web. Só questão de tempo.



O pior, não haverá nem página amarelada para resgatá-los — apenas links quebrados e arquivos comprimidos para caber nos grandes servidores web. A efemeridade, que antes era de papel, agora é digital. E é ainda mais implacável. Fica a deixa:

A vaidade nos três poderes sempre foi enorme, mas nunca foi tão inútil.


Na República de Hoje temos Menos Festa e Mais Fadiga

E chegamos ao presente: 15 de novembro de 2025, um sábado.
Civismo ?! Alvoradas festivas !? Temos silêncio. Temos vazio.

Mas, tem sobrado:

* escândalos que se sucedem como estações do ano;
* um judiciário nas instâncias supremas hipertrofiado, que também legisla, administra e executa;
* um Legislativo fragilizado, muitas vezes humilhado;
* uma dependência crescente de milhões de brasileiros a programas de assistência;
* uma cidadania exaurida, polarizada, descrente.

O feriado da República se tornou apenas um intervalo entre semana e praia.

A República parece ter virado uma abstração.

E as instituições — antes celebradas — viraram motivo para tensão diária.

Não é que falte festa.
É que falta crença !

A República de hoje não empolga porque parece não mais convencer.

O Que Fica Deste Século?

Se há algo que o 15 de Novembro de 1925 nos ensina, não é que precisamos replicar festas cívicas ou bandas militares, mas algo muito mais profundo: a consciência de que uma República sem participação, sem rito e sem respeito público se dissolve lentamente.

Cem anos atrás, as instituições se legitimavam pela proximidade.

Cem anos depois, tentam se sustentar pela força, pela interpretação criativa da lei, pela hipertrofia de poderes e pela distância crescente da população.

Quanto ao destino de todos os protagonistas — os bons, os ruins, os medíocres e os messiânicos:
Nenhuma autoridade é maior do que o tempo.

De 1925 a 2025, a República mudou — mas a vaidade aumentou ?

Certamente houve uma mudança: o civismo
antes pulsante, hoje é silencioso.

E o silêncio, neste sábado de feriado, talvez diga tudo.

*Emanuel Silva é professor e articulista.



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