O Escândalo do Master e o futebol pernambucano dos anos 80, por Roberto Vieira*
19/11/2025 -
Todos lembram os bons tempos do futebol pernambucano nos anos 1980 jogando de igual pra igual com os grandes times do Sul e Sudeste. No Arruda, na Ilha do Retiro ou nos Aflitos, a força do Sport, Santa Cruz e Náutico era inegável. Hoje, tivemos o escândalo do Master, né? E você deve estar se perguntando: o que será que tem de comum entre o futebol dos anos 80 e esse tal banco Master? Te explico.
Master
O Banco Master foi liquidado pelo Banco Central (BC) devido à baixa liquidez e gestão temerária. O banco oferecia CDBs com altos retornos (até 140% do CDI), usando a garantia do FGC para atrair capital. Contudo, investia em ativos de dificílima venda (precatórios, empresas com problemas), gerando suspeitas de uma "pirâmide do FGC".
Não honraria
Ao perceber que o Master não honraria saques (falta de caixa), o BC interveio. A polêmica venda para o Grupo Fictor e a prisão do sócio Daniel Vorcaro confirmaram o desrespeito às regras do mercado. Em suma, o Master prometia muito, mas não tinha lastro líquido para pagar.
Bandepe
O Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco), de 1938, representa a crise dos bancos estaduais nos anos 90. Sua queda foi ligada à má gestão política e ao uso da instituição para conceder empréstimos duvidosos e financiar o governo, acumulando grande volume de crédito "podre". Para sanear o sistema, o governo federal interveio.
A intervenção
A intervenção culminou na privatização em 1998, quando foi vendido ao ABN AMRO (hoje Santander) através do Programa Proes. A venda encerrou um ciclo de irregularidades e marcou o fim de um símbolo financeiro pernambucano, evidenciando como o dinheiro público foi drenado por interesses políticos.
Banorte
O Banorte (Banco Nacional do Norte), criado em 1941, foi um gigante regional que sucumbiu a problemas de liquidez. O Banco Central decretou sua liquidação extrajudicial em 1996, um processo que se arrastou por mais de 25 anos.
A crise
A crise do Banorte, como o Master, revelou desequilíbrios de liquidez: a incapacidade de cobrir obrigações de curto prazo. A longa liquidação demonstra o custo social e econômico de quebrar um grande banco. Em 2022, o processo foi finalmente encerrado, retornando à família controladora para gerir os ativos remanescentes, mas o nome Banorte já era sinônimo de um passado financeiro turbulento.
Patrocínio
A ligação futebol-banco está nas camisas dos clubes pernambucanos patrocinadas pelo Banorte nos anos 80. O banco, fundado antes da 2ª Guerra, usava o futebol para projetar uma solidez que já era frágil nos bastidores. ?
Parceria forte
O Banorte, que parecia forte para bancar grandes times, estava afundando internamente. Este contraste entre a fachada de prosperidade (no campo) e a gestão temerária (na tesouraria) é o mesmo do Banco Master hoje. O patrocínio do Banorte nos gramados dos anos 80 simboliza a ilusão que escondeu a crise que levaria à sua liquidação.
Nota final:
A quebra de bancos como Banorte não foi só "má gestão", mas um problema sistêmico ligado ao FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais) no crédito imobiliário. Banorte e Econômico cresceram muito neste setor.
Na época
O FCVS, criado na época de investimentos estrangeiros, atrelava prestações a salários. Quando a inflação disparou, as prestações não cobriam o custo de captação, e o fundo zerou. Bancos sem provisão suficiente, como o Banorte, ruíram. O Bradesco, por exemplo, provisionou e resistiu. Apesar da queda, o Banorte foi um pioneiro em TI, sendo o primeiro banco a ter agências interligadas no país.
*Roberto Vieira é médico e cronista
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