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O Dia em que o Banco do Brasil Levou uma “Passa” no Recife (1828), por Zé da Flauta*

19/11/2025 -

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Pouca gente sabe, mas o Recife já deu um susto daqueles no Império. Em 1828, quando o Banco do Brasil ainda era um menino de calça curta tentando parecer sério, aconteceu aqui a espécie de “assalto do século”, antes de existir século pra se chamar assim.


Ladrões elegantes

Um grupo de ladrões elegantes, bem vestidos e instruídos, formou uma quadrilha tão fina que até hoje faria inveja a roteirista de série policial. Não eram arruaceiros, nem malandros de beira de cais. Eram homens de terno, pena e tinta, funcionários internos, comerciantes e gente que sabia exatamente onde ficava cada chave, cada cofre, cada descuido.

Prendendo a respiração

O golpe foi tão bem arquitetado que deixou os diretores do Banco do Brasil boquiabertos. Os ladrões não entraram pela janela, não quebraram parede, não usaram violência. Nada disso. Eles simplesmente abriram o banco como quem abre a própria gaveta.

O horário

Sabiam o horário dos guardas, o código das fechaduras, o momento exato em que o gerente ia tomar café. E quando o cofre se abriu, foi como se o Recife inteiro prendesse a respiração. De lá de dentro saiu um rio de dinheiro, ouro, notas e promissórias. O suficiente para deixar o banco cambaleando, pedindo água, quase entrando em falência no meio do Império.

Susto

Quando a notícia começou a circular, o Recife entrou em estado de poesia criminosa. A população comentava o feito com uma mistura de escândalo e admiração. “Roubaram o Banco do Brasil? De novo?” Não, era a primeira vez, mas a cara de espanto já vinha ensaiada desde a colônia. A verdade é que o povo daqui tem essa mania filosófica de achar graça na tragédia.

E aquela era uma tragédia de luxo, um assalto sem violência, quase cordial, onde ninguém levou tiro, mas o Estado levou um susto que ecoou no Rio de Janeiro. Dizem até que Dom Pedro II, anos depois, comentou o episódio com certo sorriso de canto de boca, como quem reconhece talento, ainda que mal aplicado.

Duas economias

No fim das contas, o assalto expôs uma velha verdade brasileira, a corrupção não desce o morro, ela sobe as escadas. E, muitas vezes, entra pela porta da frente com crachá no peito. O povo humilde, que apanhava por muito menos, olhava aquilo de longe e dizia: “Eita, se fosse eu, tava preso até hoje”.


O banco

O banco se reergueu, claro, banco bom nunca morre, só adoece de susto. Mas o episódio ficou na memória subterrânea do Recife como uma parábola sobre esperteza, vaidade e vulnerabilidade. Porque, no fundo, o Brasil sempre teve duas economias: a oficial e a subterrânea. E, naquele ano de 1828, quem deu aula foi a segunda.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

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