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É Findi - O Agente Secreto, crônica, por Romero Falcão*

22/11/2025

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Ano passado, eu caminhava bem cedo pelo centro do Recife. Ao entrar na rua da União, surpresa, carros antigos estacionados. Equipamentos de filmagem. Movimento danado num dia de sábado. Estavam se preparando para filmar “O Agente Secreto”.

Numa Crescente do Cinema

A criação do consagrado cineasta, Kleber Mendonça Filho, ganhou dois prêmios no Festival de Cannes. Melhor ator, Wagner Moura, e melhor direção, Kleber Mendonça. Também foi selecionado para mais vinte festivais. O Agente Secreto, assim como “Ainda Estou Aqui”, segue numa crescente do cinema brasileiro.

Somos Porcos Boçais

Tarde de sexta-feira. Cheguei atrasado ao Shopping. Fazia uns dez minutos que a sessão havia iniciado. Nas antigas, quando isso acontecia, a gente ficava sentado na sala de projeção, aguardando o horário seguinte para assistir ao início perdido. Convicto dessa possibilidade, ainda gastei tempo comprando pipoca. Para o meu espanto, o funcionário disse que eu não podia ficar esperando pela próxima exibição, porque o pessoal da limpeza entra pra recolher o lixão deixado pelos cinéfilos.

- O senhor não imagina a sujeira, diz o homem.

- Sim, sei como é, somos porcos boçais. Que os porcos me perdoem.

Agentes de Uma Lei Sombria

Poucas pessoas na sala, escolhi uma cadeira ainda melhor que a do mapa me apresentado na bilheteria. Na tela, a cena de um corpo coberto por papelão, farejado por cães de rua. Ao redor, agentes de uma lei sombria. O fusca amarelo canário dirigido pelo personagem de Wagner Moura roda no túnel do tempo. O Recife de 1977, no qual eu tinha 13 anos. Meu pai não me falava da ditadura. “Meu coração era verde, amarelo, branco, azul anil. Eu te amo meu Brasil”.



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Saudoso Comércio

Durante o filme, duas sensações antagônicas. Por um lado, a nostalgia. Como se eu estivesse tomando sorvete no Gemba - famosa sorveteria - olhando os carros da época colorindo as pontes. Fusca, Rural, Galaxie, Simca, Karmann-Ghia, Variant, Chevette, Brasília. Tubarão e King Kong em cartaz no cinema São Luiz. A farda dos carteiros. O saudoso comercio do centro, “Casa Matos”, “Dunga Mate”. As gírias na boca do pernambucano: “Bigu”- carona - “Qual é o pó”? - qual é o problema. Cigarro pendurado em quase todos os lábios.



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Delegado Euclides

Por outro lado, a face tenebrosa, perversa, sádica, dos tempos de chumbo. Delegado Euclides, personagem tão bem retratado na escuridão das manhãs. A ilustre Veraneio circulando feliz, alegre, com a desova dos presuntos. As repartições e seus birôs mal - encarados, corredores austeros. Temores no ar. Pacotes de corpos amarrados por cordas e pedra, atirados da ponte, afundados no rio. No entanto, um ponto crucial é abordado por Kleber. As transações comerciais. Negócios escusos falavam através de baionetas caladas. Kleber fala da sua aldeia - Recife - entretanto sem comprometer a universalidade do tema.



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A Perna Cabeluda

As metáforas perturbadoras, as quais retratam o horror. Uma perna atravessada na garganta de um tubarão. Até no inofensivo desenho animado do marinheiro Popeye, a sorrateira tortura. Por falar em perna. Eis que surge a “Perna Cabeluda” - lenda recifense dos anos 70. Na película, tem mais tom de horror do que greia.

Claridade do Povo Pernambucano

Tudo era possível no regime autoritário, inclusive uma perna cabeluda saltando na noite. Determinada a atacar “vagabundos", “comunistas”, prostitutas, homossexuais. Nada, nada daquele período nefasto da história deve ser secreto. Tudo, tudo precisa ser revelado, estudado, execrado, para que nunca mais aconteça. Parabéns à interpretação impecável de Wagner Moura, e Kleber Mendonça que, apesar das trevas, trouxe nos mínimos detalhes a grandeza da nossa terra, a claridade do carnaval, do povo pernambucano. Da mesma forma, minha reverência ao papel extraordinário exercido pela personagem, dona Sebastiana, cuja espontaneidade e senso de humor merecem a estatueta de ouro.


*Romero Falcão é um cronista que se arrisca a fazer poema torto.



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