É Findi – Série: Personalidades Sepultadas no Cemitério de Santo Amaro - por Carlos Bezerra Cavalcanti*
22/11/2025
Mais um Findi com as biografias das Personalidades Sepultadas no Cemitério do Bom Jesus da Redenção em Santo Amaro - Recife.
Setor 13 - Naná Vasconcelos
Juvenal de Holanda Vasconcelos, mais conhecido como Naná Vasconcelos, nasceu no Recife, em 2 de agosto de 1944, onde também faleceu, em 9 de março de 2016.
Segundo ojornalista Ben-Hur Demeneck:
"Naná Vasconcelos conseguiu fazer do berimbau um instrumento solista, tanto em grupos de jazz quanto em orquestras eruditas. A sua trajetória musical pode encher páginas com as ocorrências nominais de suas conquistas globais. No entanto, para comentar sua musicalidade, nenhuma delas compete com a perturbadora capacidade de arrancar o público de sua realidade mais imediata e de atarantar os críticos com sua variedade de timbres. (...) Além de sua carreira individual de compositor e instrumentista, Naná Vasconcelos é admirado por suas parcerias, trilhas sonoras de cinema, produção musical, liderança em eventos musicais e em projetos sociais. Um artista incansável, uma combinação afinada entre ética e estética."
Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão, embora nos anos 60 tenha se especializado no berimbau.
O primeiro contato com instrumentos de percussão se deu cedo, aos 7 ou 8 anos, quando Naná foi admitido pelo próprio pai para tocar bongô e maracas em um conjunto do Recife. Assim, ainda na infância, aprendeu a tocar sozinho, usando os penicos e as panelas de casa.
Precoce, aos doze anos já se apresentava com seu pai numa banda marcial em bares e participava de grupos de maracatu locais. Aprendeu primeiro a tocar bateria para então tocar berimbau.
Durante toda sua carreira sempre teve preferência por instrumentos de percussão e nos anos 60 se notabilizou por seu talento com o berimbau.
Em 1967 mudou-se para o Rio de Janeiro onde gravou dois LPs com Milton Nascimento. No ano seguinte, junto com Geraldo Azevedo, viajou para São Paulo para participar do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré no III Festival Internacional da Canção.
Com uma forte ligação com a cultura popular, nos seus últimos 15 anos de vida, Naná abriu o Carnaval do Recife, acompanhado pelo cortejo de nações de maracatu.
Na manhã do dia 9 de março de 2016, Naná Vasconcelos veio a falecer, aos 71 anos de idade, após uma parada respiratória em decorrência de complicações da doença. No dia de sua morte, o estado de Pernambuco declarou luto oficial de três dias em memória do artista

Setor 14 - Visconde de Camaragibe
Pedro Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, barão depois visconde com grandeza de Camaragibe nasceu no município de Jaboatão, Pernambuco, em 19 de abril de 1806, e faleceu em Camaragibe, onde havia se estabelecido, em 2 de dezembro de 1875.
Era filho do Capitão-mor Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e de sua mulher D. Maria Rita de Albuquerque Mello e irmão do Visconde de Suassuna, Visconde de Albuquerque e do Barão de Muribeca, outros importantes vultos de nossa história.
Foi deputado geral e presidente da Câmara dos Deputados e senador do império de 1869 a 1875. Casou-se com D. Ana Teresa de Araújo, em 1833, com quem teve três filhos. Fez o curso de humanidades em Pernambuco, estudou dois anos na Universidade de Coimbra e seguiu o curso da Universidade de Göttingen, na Alemanha, onde se doutorou, em 1827. Voltando ao Brasil, foi nomeado lente da Academia de S. Paulo, em 1829, e depois da Academia de Olinda em 1830, onde regeu a cadeira de Direito Civil. Diretor da Faculdade de Direito do Recife, jubilou-se em 1875, resignando a percepção dos honorários a que tinha direito.
Quando a Faculdade de Direito veio de Olinda, em 1854, para o Recife, o visconde assumiu a direção do Curso, com seu estilo conservador, ao ser jubilado, foi substituído pelo Dr. João Alfredo de Oliveira.
Presidiu a Província de Pernambuco em 1859, tendo sido seu Vice-Presidente em 1844. Deputado Provincial em várias ocasiões, sempre eleito; foi Deputado à Assembléia Geral em seis legislaturas, tendo presidido a Câmara diversas vezes. Senador por sua Província, nomeado em 1869, era do Conselho de S. Majestade, Grande do Império, Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial, Grã-Cruz da I. Ordem de Cristo, Comendador da Ordem de N. S. da Conceição de Villa Viçosa de Portugal.
Brazão de Armas: Escudo partido em pala; na primeira, as armas dos Albuquerque, — escudo esquartelado, tendo no primeiro quartel as armas inteiras de Portugal —; no segundo, de góles, cinco flores de lis de ouro, postas em santor, e assim os contrários —; na segunda pala, as armas dos Cavalcanti, — de vermelho e de prata, divididos estes esmaltes por uma asna de azul, coticada de sable; sendo a parte de baixo de prata e a de cima de góles semeada de flores de prata de quatro folhas.

Setor 15 - Moura Cavalcanti
José Francisco de Moura Cavalcanti, nasceu no Engenho Cipó Branco, em São Vicente Férrer, primeiro distrito de Macaparana, situado na Zona da Mata Norte de Pernambuco, em 30 de outubro de 1925,filho de João Francisco de Mello Cavalcanti e de dona Áurea de Moura Cavalcanti.
Iniciou seus estudos ainda no mundo rural que marcou sua infância de menino de engenho, crescido na bagaceira. Aos nove anos de idade, perdeu sua mãe e menos de um ano depois, faleceu seu pai, assim, sozinho na vida, veio, ainda de luto, para o internato do Colégio Osvaldo Cruz, no Recife, de onde fugiu na primeira oportunidade.
Transferido para o Colégio Nóbrega, na Soledade, ficou interno dos dez aos dezesseis anos, sob a autoridade dos jesuítas, até concluir o curso ginasial e realizar o curso clássico entre os colégios Carneiro Leão e Nóbrega.
Em 1945, logo depois do fim da 2º Guerra Mundial, casou-se com Maria Margarida Krause Gonçalves, sua eterna Suçu, misto de esposa, mãe e, principalmente, conselheira, com quem viveria até o final da vida.
A carreira política teve início com a eleição para Prefeito de sua terra natal, em 1946, com apenas 21 anos de idade. Em 1954,diplomou-se na tradicional Faculdade de Direito do Recife e no ano seguinte, terminado o seu mandato municipal, dedica-se as atividade jurídicas assumindo as funções de advogado de ofício, em seguida de auditor da Policia Militar de Pernambuco, Assistente Jurídico,Procurador Geral do IPSEP e Procurador Jurídico do Estado, quando se aposentou.
Por Ato do então Presidente da República Jânio Quadros, foi designado Governador do Amapá, em 1961.
Vinculado, politicamente, ao PSD – Partido Social Democrático, assim aos regressar a Pernambuco, foi Secretário de Administração, em 1964 e Secretário de Coordenação e Planejamento, de setembro de 1964 a agosto de 1966. Filiou-se a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Foi presidente do Conselho Nacional de Cooperativismo, do Grupo Executivo de Eletrificação Rural, fundador e presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), participou da elaboração do PROTERRA, e do PROAGRO.
Ministro de Estado notabilizou-se na Pasta da Agricultura, fundando instituições, estimulando o cooperativismo, transferindo populações, distribuindo terras, investindo na colonização, incentivando novas culturas, libertando a cidadania e alcançando marcantes resultados.
Governou o Estado de Pernambuco de 1975 a 1979. O seu mandato tem como expressão mais significativa, em termos de restauração e revigoramento, o Banco de Desenvolvimento de Pernambuco – BANDEPE, encontrado a beira da falência, tornando verdadeiro o lema “Um Banco Forte com Decisão Local”.
Em outros setores também deixou marcada a sua passagem, construindo o Centro de Convenções e o Terminal Rodoviário de Passageiro, entre outros relevantes empreendimentos,como o de conseguir, com o apoio e prestígio do Governo Federal, as obras de contenção de enchentes que há séculos aterrorizavam a população do Grande Recife, construindo as barragens de Carpina e de Goitá, e alargando e retificando a calha do Rio Capibaribe.
Moura Cavalcanti, o 'Menino de Engenho' que venceu na cidade,faleceu em 28 desetembro de 1994.

Setor 16 - Mário Melo
Mário Carneiro do Rego Melo veio ao mundo no Casarão do Barbalho, no atual bairro da Iputinga, em 5 de fevereiro de 1884, justamente no mês do Carnaval, ele que foi um dos maiores exemplos de Pernambucanidade, futuro jornalista e escritor incansável, com mais de cinqüenta livros publicados, em grande parte sobre a historiografia Pernambucana. Representou o Brasil em vários congressos e durante seus mais de sessenta anos de jornalismo escreveu milhares de artigos.
Era sobrinho de Dona Olegarinha, esposa de José Mariano que residia do outro lado do rio, no Poço da Panela, e que muitas vezes mandava o excedente de escravos para o Casarão do Barbalho, para serem transportados, na calada da noite, para o Ceará, onde os ventos da abolição já haviam soprado.
Na vida pública, Mário Melo foi deputado estadual e membro do Conselho Administrativo de Pernambuco, condecorado dentro e fora do País, foi por quarenta e dois anos cônsul honorário da Venezuela, sócio correspondente do Instituto Histórico Brasileiro e secretário perpétuo da Academia Pernambucana de Letras e da Instituição em que desenvolveu os mais profícuos trabalhos, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, onde ingressou já em 1909, com apenas 25 anos, e ali permaneceu até 24 de maio de 1959, quando veio a falecer, faltando apenas três dias para seu jubileu de ouro naquela casa cultural.
Seu biógrafo, jornalista Homero Fonseca, sintetizou numa pequena frase, a sua imensa grandeza: “Mario Melo era guiado por princípios e movido por paixão.”
Como lembra o Prof. Jorge Fernandes: “Era pernambucano até a medula dos ossos, defendendo as coisas da sua terra, amando o seu folclore, o seu carnaval, o seu frevo, as suas tradições, as suas leis...”.
Agamenon Magalhães afirmou: “Mário Melo é o profissional do comentário, comentário de dia e dos fatos passados. É um espanador da vida pernambucana. É um espanador feito das penas de todos os pássaros, grandes e pequenos... às vezes as penasse desprendem e vão atingir os transeuntes.
"Uns se molestam, outros acham graça, conforme o veneno das penas soltas. Ele é que não deixa o cabo do espanador... Não tem ambições, o Instituto Arqueológico é o seu capitólio...”
A nota de Césio Regueira Costa, no Jornal do Commercio de vinte e seis de maio, do ano do seu falecimento, chega perto do resumo da vida e das obras de Mário Melo: “Bem viveu e bem morreu, amando as coisas boas da vida, defendendo, até o último instante, os seus pontos de vista...
Foi corajoso, foi fiel a si mesmo, sua figura era parte da paisagem urbana do Recife, perdendo esta cidade, com o desaparecimento de Mario Melo, qualquer coisa de vital, que a mutila e diminui.”
Mário Melo “partiu para a eternidade, mas deixou entre os pernambucanos e, principalmente,os recifenses, um vazio difícil de ser preenchido."
Setor 17 - Visconde de Mecejana
Antônio Cândido Antunes de Oliveira, Barão, depois Visconde de Mecejana, nasceu em Aracati, no Ceará, em 1825, onde viveu como grande fazendeiro, comerciante e oficial da Guarda Nacional, até 1878, quando veio para o Recife, perdendo o vínculo com a sua terra natal.
Por seus préstimos ao Império, principalmente durante a Guerra do Paraguai, quando era comum a prática de se oferecer quantias financeiras aqueles que se oferecessem como voluntários para lutar no conflito, foi condecorado Cavaleiro Imperial da Rosa, em agosto de 1866.
Foi agraciado visconde em 25 de julho de 1885, o título se refere à povoação que se formou em torno do rio homônimo.
O Visconde foi casado com Colomba Antunes de Oliveira, com quem teve uma filha: Maria Cristina Antunes de Carvalho e Silva, casada com o Irineu Brasiliano de Carvalho e Silva, médico, irmão do Barão de Serra Branca, que foi de grande utilidade durante a epidemia de cólera-morbo ocorrida em Aracati, em 1862. Todavia, tanto o Dr. Irineu quanto Maria Cristina faleceram vítimas da epidemia de varíola que assolou a cidade anos depois, ele, em 10 de agosto de 1877, e ela, em 31 de janeiro de 1878. Depois destes tristes acontecimentos, o barão mudou-se para o Recife.
Esse nobre brasileiro faleceu devido a uma gastroenterite, aos sessenta e seis anos, em Paris, França, onde se encontrava a passeio.
Seu corpo foi trazido para o Brasil e sepultado no Cemitério de Santo Amaro, no Recife, em 11 de abril de 1892.
Seu túmulo, no Cemitério de Santo Amaro, é considerado um dos mais belos da necrópole, porém, com o passar do tempo, e o falecimento das pessoas mais ligadas ao visconde, além da distancia de seu torrão natal, a bela construção foi, praticamente abandonada.
“O túmulo é todo feito em mármore de Carrara com grande influência dos romanos, por causa do sentimento católico. O formato de tocha invertida é símbolo da morte e da expectativa de que essa luz se reacenda”, explica o escultor e responsável pela última restauração do túmulo, Jobson Figueiredo, realizada em 1999.
Sobre seu mausoléu escreve o próprio Barão de Mecejana, em seu testamento, conservado no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, ter sido o túmulo destinado, inicialmente, a sua filha e seu genro que faleceram de uma das epidemias que assolaram o Recife na segunda metade do século 19 (como vimos).
A posição do barão e da baronesa, em genuflexo, demonstra a atitude do casal durante a doença que vitimou o casal. Como bem observou o escritor Clarival do Prado Valadares, in Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros (1972), vale reparar também o detalhe das esculturas em mármore do barão e da baronesa, que reproduzem até a textura de uma veste rendada.
*Carlos Bezerra Cavalcanti, Presidente Emérito da Academia Recifense de Letras


