Quando a felicidade entreabre suas portas, o corpo se manifesta, revelando movimentos sutis que deslocam emoções adormecidas. A porta da alegria jamais é inatingível; por vezes, apenas nos parece que os ventos estagnaram ou se afastaram do nosso território íntimo.
Ledo engano.

A mente, em sua engenhosa arquitetura, inicia o envio de mensagens luminosas capazes de serenizar a alma. É nesse momento que o sorriso, aquecido pelas lembranças que nos habitam, ressurge, iluminando o coração e convertendo-o, conforme afirmou o poeta, em farol a orientar vidas.

Nenhuma dor perdura indefinidamente, assim como nenhum bem se perpetua eternamente. À luz dessa compreensão, reconhecemos a delicada transitoriedade da existência.

Desejo viver plenamente a alegria de cada instante e permitir que ela reverbere no âmago pelo tempo que lhe aprouver, sem grilhões.

Percorro a estrada da vida nutrindo fé na poesia do existir, que se entrelaça aos versos silenciosos da alma em ritmos extensos e infinitos.

Saber viver é adentrar o vasto salão da existência, abrindo portas, ainda que emperradas, com chaves lubrificadas pelo amor, pela perseverança e pela dignidade altiva.


*Maria Inês Machado é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Intervenção Psicossocial à família. Possui formação em contação de histórias pela FAFIRE e pelo Espaço Zumbaiar. Gosta de escrever contos que retratam os recortes da vida. Autora do livro infantojuvenil 'A Cidade das Flores'.