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É Findi - As Duas Bolinhas, por Marcelo Mário de Melo*

22/11/2025

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No Dia da Consciência Negra, comecemos pelas crianças


Era uma vez o País das Bolas,
onde tudo era redondo:
as ruas,
as casas,
os carros
as coisas.

Os habitantes desse país
eram as bolas
as bolonas
e as bolinhas.

Na cidade de Bolópolis, na Rua do Bola-Bola,
morava uma bola-menina preta, chamada Bolucha,
que era vizinha de uma bola-menino branca, com o nome de Bolildo.

As duas bolinhas só viviam irritando uma à outra, botando apelidos e arranjando brigas.
Uma dizia: Nega!
A outra provocava: Amarela!

Um dia o pai da Bolinha Amarela, Seu Bolão, vendo aquela confusão,
pegou um pincel e uma lata de tinta e pintou a filhota inteirinha de preto.

Ficaram pretas as duas bolinhas.

A bolinha amarela ficou toda murcha, chorosa, calada, sem poder mais abusar com a outra, porque agora ela também era preta.

Aí a bolinha preta começou a chatear:
- Me chama de nega agora! Me chama que eu quero ver!

A mãe da bolinha preta, Dona Bolota, que viu a chateação, pegou o pincel e a tinta e pintou as duas bolinhas de amarelo.

Aí a bolinha amarela se soltou:
- Me chama de amarela agora! Me chama que eu quero ver!

Seu Bolão e Dona Bolota viram que tinham de arranjar outro jeito para acabar com a briga das duas bolinhas. Rolaram os dois para um canto da sala e começaram a conversar bem demoradamente. Depois vieram outra vez com os pinceis e as tintas.

Pintaram a bolinha amarela de preto.
E pintaram a bolinha preta de amarelo.

As bolinhas não puderam mais brigar uma com a outra,
porque, quando a pretinha que estava pintada de amarelo
ia chamar a amarelinha que estava pintada de preto
de amarela, se lembrava de que ela agora também estava preta.

E quando a amarelinha que estava pintada de preto
ia chamar a pretinha que estava pintada de amarelo
de nega, se lembrava de que ela agora também estava preta.

Ficaram as duas bolinhas um dia inteiro dentro das suas casas, caladas e tristes, sem brincar, sem fazer nada, só pensando.

Mas elas não iam passar a vida toda assim.
E quando já ia fazer outro dia foram se chegando devagarzinho pra calçada, olhando uma pra outra.

Depois foram rolando mais ligeiro, chegando mais perto.

Daqui a pouco começaram a brincar e a conversar bem animadas, sem nem ligarem mais para esse negócio de ser preta e ser amarela.

Alguns dias depois, quando Seu Bolão e Dona Bolota viram que as duas bolinhas já estavam bem amigas, retiraram a tinta preta da amarela e a tinta amarela da preta.
Cada uma voltou à sua cor verdadeira.

As duas bolinhas nem deram bola pra isso.
Acharam até engraçado, dizendo assim:

- A gente era tão besta naquele tempo que vivia brigando por causa da nossa cor, não era?

Os anos se passaram, Bolucha e Bolildo foram crescendo, ficaram um rapazinho e uma mocinha.

E começaram a namorar.
Depois se casaram.
E tiveram muitos filhos, muitas bolinhas de toda cor.

Tinha bolinha preta com mancha amarela.
E bolinha amarela com mancha preta.
E bolinha metade amarela e metade preta.
E bolinha toda preta.
E bolinha toda amarela.
E era uma grande misturada.

A história das duas bolinhas ficou muito conhecida no País das Bolas. E toda vez que uma bolinha ia começar a brigar com outra por causa da cor, sempre tinha alguém para dizer:

- Lembrem-se da história das duas bolinhas!


*Marcelo Mário de Melo, ex-preso político, jornalista e poeta. Seu lema é: "Só ultrapasse pela esquerda".



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