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O paciente Bolsonaro, por Roberto Vieira*

24/11/2025

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A notícia da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, por mais esperada que fosse por seus críticos, abriu uma ferida inédita na história política brasileira. Não estamos falando apenas de um ex-chefe de Estado privado de sua liberdade, mas de um indivíduo com um prontuário médico de altíssimo risco, jogando a ética clínica e a Lei de Execuções Penais no centro do debate. Uma pergunta então é inevitável: Ele sobrevive a uma prisão federal?


Prontuário clínico oficial

A análise não pode ser política; deve ser estritamente clínica. Bolsonaro não é um detento comum. Ele é um paciente de alto risco com um quadro de comorbidades sérias e sequelas cirúrgicas que exigem monitoramento de UTI. Seu quadro oficial inclui: hipertensão grave e aterosclerose coronariana, risco de obstrução e estenose de carótidas, apneia, pneumonia aspirativa recorrente e refluxo com esofagite, o que aumenta o risco infeccioso.


Emergência

Uma emergência cirúrgica abdominal exige minutos para ser resolvida, o que simplesmente é incompatível com a logística de um presídio.


O cenário do delírio

A saúde mental, sob o estresse extremo da prisão, é um fator de risco adicional. O recente cenário de delírio do ex-presidente ao tentar se ver livre da tornozeleira eletrônica – ou seja, ao tentar romper o monitoramento judicial de forma desesperada – é sintomático de uma mente sob imensa pressão, onde o medo da perda da liberdade se choca com a certeza da fragilidade física.

Paciente

Um paciente com essa instabilidade emocional e fragilidade física tem o direito inegociável ao tratamento. O debate não é sobre culpa, mas sobre a dignidade humana e o protocolo médico.

Presídio

A infraestrutura carcerária brasileira, com raras exceções, não está apta a lidar com casos de alta complexidade. As unidades prisionais não possuem UTIs. O tempo de resposta para uma obstrução intestinal, um pico hipertensivo ou um evento coronariano pode ser fatal. Manter um paciente de alto risco em um ambiente que não pode garantir o suporte vital é, objetivamente, uma sentença de risco à morte. O direito humano à saúde é inegociável, mesmo para um detento.

Caos político

A maior preocupação para a estabilidade do Brasil reside na história. Se algo acontecer a Bolsonaro sob custódia, o risco de caos político no país é imediato.

A situação evoca o suicídio de Getúlio Vargas em 1954: a morte em cativeiro ou sob pressão judicial/política cria um mártir instantâneo, com potencial para polarizar e radicalizar a política por décadas. As consequências de um evento fatal seriam mais destrutivas para a ordem política do que a manutenção do ex-presidente em um regime de prisão domiciliar com monitoramento médico adequado.

Nota final

Tanto quanto pairam no ar as consequências políticas da prisão e da potencial morte do ex-presidente, paira também a necessidade de desconstrução de sua aura e biografia.

Paciente frágil

O homem que posava de inatingível e forte é revelado como um paciente frágil. A desconstrução de seu mito, lenta e dolorosa para seus apoiadores, parece necessária para a narrativa de quem ocupa o poder. Porém, convém lembrar o que Carlos Lacerda aprendeu: muitas vezes o cadáver sai da vida para entrar na História.

Última Hora

Este cenário de alto risco político foi subitamente agravado pela vigilância midiática: a invasão da privacidade de Bolsonaro por drone da Globo. O Deputado Nikolas Ferreira sendo filmado usando um celular na companhia de Bolsonaro joga mais lenha na fogueira na manhã dessa segunda-feira.


*Roberto Vieira é médico e cronista

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula o livre confronto de ideias e acolhe o contraditório. Todas as pessoas e instituições citadas têm assegurado espaço para suas manifestações.



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