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Por que a América Latina precisa diversificar sua energia firme Joyce Mendez*

25/11/2025

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Neste período em que Belém recebeu a COP30, a atenção mundial se volta para a América Latina, uma das regiões com as matrizes energéticas mais “limpas” do planeta, e para a forma como ela responderá aos novos riscos climáticos. Mas, hoje, a energia renovável, especialmente a hidrelétrica, que transformou o continente em líder global em fontes renováveis, tornou-se vulnerabilidade.

Cerca de 68% da capacidade instalada da região vem de fontes renováveis, e quase metade — mais de 45% — é gerada pela força da água. Mas o clima está mudando as regras do jogo: secas prolongadas, provocadas por El Niño e outros fenômenos, reduzem cada vez mais a eficiência das hidrelétricas e comprometem a distribuição. Aquilo que era uma vantagem estratégica tornou-se o elo fraco do sistema.

A alteração nos regimes de chuva tornou essas fontes menos previsíveis. Em 2021, o Brasil enfrentou a pior estiagem em 91 anos, levando reservatórios a níveis críticos. O país precisou importar energia e acionar emergencialmente térmicas fósseis, mais caras e mais emissoras, para evitar apagões. No mesmo período, o Chile recorreu ao gás argentino para compensar a falta de geração hidráulica. Esses episódios mostram que quando a chuva falta, a eletricidade também pode faltar.

Durante a COP30, esse risco ganhou uma dimensão adicional. Lideranças indígenas alertam para o fato de que fontes renováveis não são automaticamente sustentáveis e que a expansão de hidrelétricas, eólicas e solares, quando feita sem planejamento adequado, amplia conflitos e pressiona comunidades vulneráveis. Assim, além da variabilidade climática, emerge um segundo desafio: garantir que a transição energética reduza emissões sem aprofundar desigualdades.

E é justamente a demanda por baixa ocupação territorial que torna estratégicas as alternativas de geração de energia firme, aquela produzida de forma contínua, em qualquer condição climática.

A energia nuclear, especialmente por meio dos pequenos reatores modulares (SMRs), apresenta vantagens estruturais que respondem a esses desafios: ajuda a diversificar a matriz, fortalece a resiliência dos sistemas elétricos e reduz a dependência hídrica. Além disso, possibilita a instalação em locais já antropizados, evitando deslocamento de famílias, reduzindo disputas fundiárias e oferecendo eletricidade estável.

Argentina, Chile, Colômbia e Brasil já estudam a aplicação desses pequenos reatores, e a experiência russa comprova sua viabilidade. Desde 2020, a usina flutuante Akademik Lomonosov abastece a cidade de Pevek, no Ártico, e em 2028 entrará em operação o primeiro SMR terrestre na Yakútia, com 55 MW de potência, baseado no reator RITM-200N.

A gigante russa Rosatom se apoia nesse know-how para propor, na América Latina, projetos completos que incluem tecnologia, engenharia, suporte regulatório, capacitação local e integração com renováveis. Integrados a solar, eólica e hídrica, e sustentados por gás de transição e baterias, os SMR podem fornecer a base firme que estabiliza o sistema, reduz a volatilidade de preços e assegura energia 24 horas por dia,mesmo durante secas severas ou ondas de calor.

A América Latina reúne todas as condições para liderar uma transição energética inteligente, que una sustentabilidade, segurança e inovação. Mas, para isso, precisa ir além da expansão das renováveis e construir uma base firme e previsível, que garanta energia constante na rede, sendo ambiental e socialmente responsável.

* Joyce Mendez Diretora do Observatório Latino-Americano de Geopolítica da Energia e ex-conselheira jovem para o clima do Secretário-Geral das Nações Unidas (2023–2024).

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