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O Farol que conversava com o mar - A lâmpada que ensinou o Recife a acreditar, por Zé da Flauta*

26/11/2025

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Antes de existir psicólogo, anjo da guarda e aplicativo de previsão do tempo, já existia o Farol do Recife, aquele velho guardião de pedra que, desde o século XVII, vigia a entrada do porto com olhos de fogo. Construído pelos holandeses, adotado pelos portugueses e amado pelos pescadores, ele sempre foi mais que farol. Foi pai, mãe, sentinela, mapa, conselheiro e, em dias de mar bravo, quase santo. Há relatos antigos de pescadores que conversavam com ele como quem fala com gente. E juro, tem noite que ainda parece que ele responde.

Luz e escuridão

O Farol nunca dormiu. Enquanto a cidade sonhava com carnavais futuros, enquanto o Recife crescia e se esquecia de olhar pro mar, ele seguia lá, firme, aceso, apontando o caminho para quem chegava e para quem escapava. Salvou mais vidas que qualquer hospital da época. Luz pulsando na escuridão, lembrando aos navegadores que havia terra, vida, abrigo. E aos imprudentes, lembrando que a morte mora um palmo abaixo da linha da água. A luz dele nunca julgou ninguém, iluminava marinheiros bêbados, embarcações perdidas, jangadeiros pobres e navios orgulhosos que juravam saber o caminho.

Velho sábio

Os pescadores diziam que, quando o mar ficava nervoso, o Farol ficava mais forte, como quem aumenta a voz para proteger um filho. E quando um barco demorava a voltar, muitos iam à beira do cais conversar com ele. “Farol, traz meu homem pra casa”, implorava a mulher. “Farol, guia meu menino, que ainda é verde na pesca”. Eles falavam de peito aberto, sem cerimônia, porque sabiam que a luz entende o que o homem não diz. E o Farol, velho sábio, fazia o que podia: cortava a noite em duas, acenava para o horizonte, piscava como sinal de esperança. E em tantas noites… isso bastou.

Sabe tudo

Hoje, no século das telas brilhantes e das rotas por satélite, o Farol ainda está lá, teimoso como todo recifense, iluminando mesmo quando ninguém mais pede. Ele carrega dentro da torre todas as conversas que já ouviu: as promessas nunca cumpridas, os medos confessados só ao vento, o choro escondido dos que pareciam fortes demais para fraquejar. O Farol sabe de tudo, mas não conta. Guarda os segredos como quem guarda maré. E talvez seja por isso que emociona tanto: porque representa tudo que o Recife tem de mais bonito, essa mistura de solidão, coragem e luz.

No fim das contas, o Farol ensina a maior de todas as lições:
Ninguém precisa vencer a escuridão. Basta atravessá-la com uma luz que não desiste.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.



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