Para brasileiros, Brasil é mais desvalorizado que admirado pelos estrangeiros
20/12/2025
Embora positiva, conforme o trabalho, emerge a opinião de que a imagem externa piorou nos últimos anos e de que o brasileiro é hoje mais desvalorizado do que admirado pelos estrangeiros.
COP 30 pode reverter tendência
O estudo indica que eventos internacionais como a COP 30 podem contribuir para reverter essa tendência. Para a maioria dos entrevistados, esse evento realizado recentemente em Belém favoreceu a imagem positiva. Além disso, atributos como simpatia, alegria e hospitalidade são centrais na forma como os brasileiros, por projeção, acreditam ser...
Embora positiva, conforme o trabalho, emerge a opinião de que a imagem externa piorou nos últimos anos e de que o brasileiro é hoje mais desvalorizado do que admirado pelos estrangeiros.

COP 30 pode reverter tendência
O estudo indica que eventos internacionais como a COP 30 podem contribuir para reverter essa tendência. Para a maioria dos entrevistados, esse evento realizado recentemente em Belém favoreceu a imagem positiva. Além disso, atributos como simpatia, alegria e hospitalidade são centrais na forma como os brasileiros, por projeção, acreditam ser vistos lá fora.
Elementos como futebol, natureza exuberante e carnaval continuam a ser vistos como os principais símbolos que identificam o país. Ao mesmo tempo, o destaque em áreas como turismo, energia limpa e proteção ambiental também constitui uma “marca” do Brasil, ancorando a percepção de relevância no cenário internacional.
Já no tocante ao futebol, certamente influenciado por um jejum de 24 anos, predomina um otimismo moderado em relação às chances da seleção brasileira na Copa de 2026.

Protagonismo na agenda climática
Conforme os dados apurados, para 66% dos entrevistados, a COP30, realizada em Belém em novembro, favoreceu a imagem do Brasil no exterior. Esse resultado, segundo o trabalho, indica o reconhecimento de que o evento reforçou o protagonismo brasileiro na agenda climática global, enquanto é minoritária a parcela que não identifica essa contribuição (28%).
Por sua vez, a pesquisa revelou que os brasileiros não estão tão animados com a próxima Copa do Mundo. Com uma longa abstinência de 23 anos sem ganhar uma Copa, e mesmo considerando o futebol como um dos símbolos que mais representam o Brasil no exterior (26%), as pessoas revelam um otimismo moderado ao fazerem projeções sobre as chances do país ganhar em 2026.
A maior parte dos entrevistados (43%) acredita que o Brasil tem alguma chance de conquistar o título; 21% apostam no histórico favoritismo do Brasil e afirmam que o Brasil tem muita chance; e 31%, mais céticos, opinam que o país não tem chance de ser campeão.
A atitude moderada (tem alguma chance) predomina em todos os segmentos, mas os números variam de forma expressiva segundo idade, escolaridade e região. No caso de homens e mulheres, ambos registram percentuais praticamente idênticos e alinhados à média nacional.

Bem visto, mas desvalorizado.
Em relação a como o Brasil é visto internacionalmente, a maioria dos brasileiros acredita que o país é conhecido, em alguma medida, no cenário internacional. 88% acham que o país é bem conhecido ou mais ou menos conhecido. Outros 10% supõem um nível de conhecimento pouco qualificado (só de ouvir falar) ou ausente. 62% dos brasileiros creditam ao Brasil uma imagem internacional positiva (36%) ou neutra (26%). Enquanto para cerca de um terço (32%), a imagem do país no exterior é desfavorável
Já com relação à imagem do brasileiro, predomina a percepção de desvalorização. Mais da metade (56%) sentem que o brasileiro é desvalorizado no exterior, enquanto pouco mais de um terço (35%) se mostram confiantes de que o brasileiro é admirado. A projeção de amplo conhecimento do Brasil no exterior é transversal a todos os estratos sociodemográficos e regiões, com variações estatisticamente pouco expressivas.
Numa perspectiva evolutiva, 60% dos entrevistados avaliam que a imagem do Brasil melhorou (32%) ou continuou igual (28%). Por outro lado, cerca de quatro em cada dez brasileiros (39%) opinam que houve retrocesso.

Simpatia distingue, corrupção desfavorece.
Na visão dos brasileiros, a imagem externa do país ainda está ancorada em traços como cordialidade e símbolos como o futebol, carnaval e natureza. O agregado de atributos positivos imputados aos brasileiros é muito superior (76%) aos negativos (22%).
Simpatia (29%), alegria (21%) e hospitalidade (19%) formam o tripé dos atributos que mais caracterizam os brasileiros no exterior, segundo os próprios. Criatividade (4%) e solidariedade (3%) completam a lista.
Esse desenho, que expressa uma imagem majoritariamente favorável, centrada em qualidades interpessoais e na capacidade de acolhimento, pode dizer muito mais sobre como o brasileiro se vê do que como ele é efetivamente visto nos outros países.
Corrupção destaca-se como o principal item negativo, mencionado por 15% dos entrevistados. Este percentual, embora inferior aos principais traços positivos, supera amplamente características como falta de educação, irresponsabilidade, preguiça (todas com 2%) e desrespeito (1%).
O levantamento do Ipespe teve o patrocínio da Federação Brasileira de Banos (Febraban) e faz parte de uma série que acompanha o humor dos brasileiros sobre temas do momento.
Leia outras informações
Recesso com boas leituras sobre Brasil e mundo, em O Poder
20/12/2025
Concluímos há pouco a publicação, para brindar aos que quiserem aproveitar o tempo de descanso desse período de Natal e Ano Novo para boas leituras. Em seguida, retornaremos com o mesmo comprometimento de oferecer informação precisa e de qualidade.
Como já dissemos na sexta-feira (19/12) — e reiteramos agora — vamos mergulhar no clima geral de relaxamento, avaliações, confraternização, planos e renovação de perspectivas e energias. Desejamos ótimas festas, saúde, paz e prosperidade em 2026 para cada pessoa querida, leitora ou leitor.
Que o próximo ano seja mais uma etapa da caminhada vitoriosa, sempre rumo à felicidade.
Um abraço muito carinhoso. E a esperança de que o novo ano chegue radios...
O Poder entra em recesso e só retorna na primeira semana de 2026, mas selecionamos uma coleção de reportagens especiais e balanços sobre as principais notícias do país e seus reflexos na política, na economia e na vida das pessoas como um todo.
Concluímos há pouco a publicação, para brindar aos que quiserem aproveitar o tempo de descanso desse período de Natal e Ano Novo para boas leituras. Em seguida, retornaremos com o mesmo comprometimento de oferecer informação precisa e de qualidade.
Como já dissemos na sexta-feira (19/12) — e reiteramos agora — vamos mergulhar no clima geral de relaxamento, avaliações, confraternização, planos e renovação de perspectivas e energias. Desejamos ótimas festas, saúde, paz e prosperidade em 2026 para cada pessoa querida, leitora ou leitor.
Que o próximo ano seja mais uma etapa da caminhada vitoriosa, sempre rumo à felicidade.
Um abraço muito carinhoso. E a esperança de que o novo ano chegue radioso, superando diferenças, unindo corações.
(José Nivaldo Junior e equipe O Poder).
Banco Mundial cita NE como região fundamental para progresso do Brasil
20/12/2025
Na avaliação do Banco Mundial, a região tem potencial de ampliar a geração de empregos e diminuir a desigualdade em relação a regiões mais ricas do país se focar em indústrias em crescimento, como manufatura e serviços, para oferecer empregos de melhor qualidade, além de impulsionar os investimentos em infraestrutura por meio de parcerias público-privadas.
Avanços e obstáculos
Segundo o relatório, o Nordeste apresentou, nos últimos anos, avanços importantes em capital humano, com aumentos de escolaridade especialmente entre os jovens. Porém, a região enfrenta obstáculos para converter...
Relatório divulgado recentemente pelo Banco Mundial destacou o Nordeste como região fundamental para o progresso do Brasil. O trabalho, intitulado ‘Rotas para o Nordeste: Produtividade, Empregos e Inclusão’ chega a essa constatação por, entre outros fatores, a região ter 80% dos seus 54 milhões de habitantes formado por jovens e pessoas em idade ativa.
Na avaliação do Banco Mundial, a região tem potencial de ampliar a geração de empregos e diminuir a desigualdade em relação a regiões mais ricas do país se focar em indústrias em crescimento, como manufatura e serviços, para oferecer empregos de melhor qualidade, além de impulsionar os investimentos em infraestrutura por meio de parcerias público-privadas.
Avanços e obstáculos
Segundo o relatório, o Nordeste apresentou, nos últimos anos, avanços importantes em capital humano, com aumentos de escolaridade especialmente entre os jovens. Porém, a região enfrenta obstáculos para converter esses resultados em melhorias no trabalho e na renda. Na região, ressaltam os dados do Banco Mundial, a parcela de trabalhadores com diploma universitário aumentou de 9,1% em 2012 para 17% em 2023.
Apesar do crescimento na qualificação dos trabalhadores, a criação de empregos, apontada como o caminho mais seguro para sair da pobreza, enfrenta dificuldades, especialmente relacionadas às taxas de desemprego e à informalidade. Entre 2012 e 2022, a taxa de desemprego ficou em 12% e a informalidade em 52%, percentuais superiores às de outras regiões do Brasil.
Transição energética
Por outro lado, o documento destaca que a região também impulsiona a transição energética do Brasil, produzindo 91% da energia eólica do país e 42% da energia solar. Na avaliação da entidade, isso dá à região a oportunidade de promover um crescimento industrial mais rápido e sustentável e aproveitar oportunidades em setores emergentes, como o hidrogênio verde.
“O capital humano e a abundância de recursos naturais, se efetivamente alavancados por meio de um crescimento mais rápido e da geração de empregos de alta qualidade, podem transformar o Nordeste num motor dinâmico para o desenvolvimento futuro do Brasil, abandonando, de vez, seu legado histórico de região defasada”, diz o documento.
O aprimoramento dos sistemas de intermediação de mão de obra para conectar pessoas a vagas, o foco em indústrias em crescimento, como manufatura e serviços, são apontados como caminhos para oferecer empregos de melhor qualidade.
Novas políticas de apoio
O Banco Mundial também propõe a criação de políticas para apoiar mulheres e grupos marginalizados, tornando o mercado de trabalho mais inclusivo. A taxa de participação feminina na força de trabalho do Nordeste é de apenas 41%, em comparação com 52% no restante do país.
Além disso, o documento afirma que é necessário estimular o empreendedorismo e atrair investimentos para dar maior dinamismo ao ambiente de negócios. Entre as recomendações estão a simplificação de procedimentos de abertura de empresas e rotinas administrativas; o fomento à concorrência; e a redução da dependência de subsídios fiscais que, segundo a publicação, tendem a diminuir a produtividade e concentrar mercados.
Outro ponto destacado é acelerar a modernização da infraestrutura, o que exige investimentos em rodovias, ferrovias e redes digitais; além de melhorias em água e saneamento.
De acordo com os analistas responsáveis pelo trabalho, também será necessário assegurar planejamento cuidadoso e fiscalização para que os projetos tenham impacto positivo. Para ajudar a financiar e executar grandes projetos, o relatório incentiva a participação do setor privado por meio de parcerias bem desenhadas.
— Com informações da Agência Brasil
Chances de Flávio e demais candidatos contra Lula - Entrevista com Marcelo Tognozzi
20/12/2025
O Poder - O bolsonarismo foi dado por muitos como morto e sepultado, após a condenação de Jair. O que o senhor acha disso?
Tognozzi - O bolsonarismo está vivinho da silva e é teimoso. A pesquisa da Quaest, divulgada na última terça-feira dia 16 de dezembro d...
Marcelo S. Tognozzi tem 66 anos e é um dos mais respeitados analistas políticos do Brasil. É jornalista e consultor independente. Fez MBA em gerenciamento de campanhas políticas na Graduate School Of Political Management - The George Washington University e pós-graduação em inteligência econômica na Universidad de Comillas, em Madri. Autor do livro 'Ninguém segura esse Monstro', análise brilhante da política brasileira e internacional. Em artigo semanal, publicado no Poder 360, ele defende que o bolsonarismo revive na pessoa de Flávio, que recentemente anunciou que é pré -candidato a presidente no próximo ano. Fomos conversar com ele sobre as possíveis alternativas à dupla Lula/Alckmin.
O Poder - O bolsonarismo foi dado por muitos como morto e sepultado, após a condenação de Jair. O que o senhor acha disso?
Tognozzi - O bolsonarismo está vivinho da silva e é teimoso. A pesquisa da Quaest, divulgada na última terça-feira dia 16 de dezembro de 2025, mostra Flávio Bolsonaro (PL) como um candidato competitivo, herdeiro de boa parte dos votos do pai. A pesquisa da Real Time Big data, publicada na quinta-feira, confirma a tendência. A eleição terá seu 1º turno no dia 4 de outubro do ano que vem. Até lá muita coisa pode acontecer. Por isso, nunca é demais ter cautela com o tal do já ganhou.
O Poder - Na sua opinião, qual a perspectiva para o próximo pleito presidencial?
Tognozzi - Teremos uma eleição difícil tanto para a situação quanto para a oposição.
Como dizia Nelson Rodrigues, só mesmo estando obnubilado para acreditar que a eleição está vencida antes mesmo de ser disputada. Ou que o Sobrenatural de Almeida anda aprontando quando as manchetes mostram Lula como imbatível. A eleição ainda está longe e mais de dois terços dos eleitores não tem candidato, mostram as pesquisas espontâneas. Não existe, como desejariam alguns, candidato imbatível. Isso porque a vida como ela é acaba sendo um pouco diferente. Não só o bolsonarismo está forte e operante, como Lula não é francamente favorito.
O Poder - Mas Lula lidera todos os cenários de todos os institutos...
Tognozzi - Basta fazer as contas: em todas as pesquisas Lula aparece na frente, com 30%, 35%, mas a soma dos demais candidatos chega a 40%, 42%. Ou seja: há mais gente disposta a votar em outros candidatos do que em Lula. Isso pode mudar? Pode, mas não é a tendência verificada até aqui.
Mesmo tendo vitórias políticas, a aprovação de Lula estancou, como mostrou a pesquisa PoderData publicada no dia 17 de dezembro. É um complicador. O presidente tem 56% de desaprovação contra 35% de aprovação – uma diferença de 21 pontos percentuais. A mesma pesquisa registrou seu governo aprovado por 42% e desaprovado por 52% dos brasileiros. Gostam mais do governo do que do presidente.
O Poder - O que isso significa?
Tognozzi - É uma situação interessante. Indica sintomas de fadiga de material, quando o eleitor já não espera nada do político e acredita não ter ele muito a oferecer, a não ser mais do mesmo.
Lula é candidato único da esquerda, enquanto seus adversários tentam se viabilizar para um segundo turno contra ele. A candidatura de Flávio Bolsonaro é a que parece estar mais forte. Mas esta situação pode mudar até abril, ou agosto, quando os candidatos estarão definidos e as chapas anunciadas. O que não deve mudar é a sina de Lula, sempre enfrentando 2 turnos.
O Poder - Em nossa opinião editorial, Kassab será peça chave nesse contexto. Qual sua opinião sobre isso?
Tognozzi - Enquanto Flávio tenta fazer sua candidatura decolar, Gilberto Kassab trabalha nos bastidores. Ele hoje conta como o melhor time de presidenciáveis de centro. Seja o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem é secretário de Governo, ou os governadores Ratinho Júnior (PSD) do Paraná e Eduardo Leite (PSD) do Rio Grande do Sul. Difícil imaginar Kassab desperdiçando oportunidades.
A eleição passará por Kassab, assim como passará por Romeu Zema, governador de Minas, pelo senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), hoje favorito para suceder Zema com 25% das preferencias, e o deputado Nikolas Ferreira (PL) o mais votado de Minas.
O Poder - Ou seja a eleição nacional em 2026 passa por Kassab e Zema...
Tognozzi - Com Flávio ou sem Flávio, a única maneira de a oposição derrotar Lula, desaprovado por 51% dos mineiros, será ganhar em Minas Gerais nos dois turnos.
Esta é a grande força de Zema, político bem avaliado por seu eleitorado. Se Zema e Kassab sentarem para conversar e decidirem fazer um acordo político para uma chapa com Ratinho Junior na cabeça, por exemplo, teremos a grande novidade para a eleição de 2026.
Ratinho é um dos governadores mais bem avaliados com 84% de aprovação. Zema tem 63% . Ambos conseguiram governar sem escândalos de corrupção, num tempo em que a Polícia Federal anda fazendo hora extra. Lula, por seu turno, tem o passivo do INSS e o roubo dos aposentados dia sim e outro também na mídia. Zema e Ratinho são exemplos de políticos que podem fazer a diferença aliados. Ambos têm juízo e bom senso de sobra. Outro, é o governador Ronaldo Caiado, que fez um belo trabalho na segurança pública e ganhou 80% de aprovação entre os goianos.
O Poder - Sim, não falamos ainda sobre Caiado. Tem um papel para ele na próxima eleição?
Tognozzi - Caiado disputará a presidência e será uma pedra no sapato de Lula. Crítico ácido da esquerda, tem a força do agro e fala o que pensa sem medo. Será um debatedor perigoso. Mas ainda não tem negociada uma chapa capaz de fazer a diferença em Minas.
Flávio Bolsonaro também necessita de um vice com força em Minas. Seu pai perdeu ali nos dois turnos de 2022, justamente por ter errado na relação com os mineiros.
O Poder- E Geraldo Alckmin?
Tognozzi - Lula, com Alckimin de vice, tem uma grande vantagem sobre os adversários por disputar na cadeira de presidente e contar com uma máquina partidária comandada por um político extremamente competente, o ex-prefeito Edinho Silva. Se o PT é um osso duro de roer fora do governo, será mais duro ainda no poder. Ainda veremos muitas cobras e lagartos saírem do baú de maldades do PT contra os adversários. Nunca é demais lembrar de Marina Silva, moída sem dó nem piedade pela máquina petista na eleição de 2014, carimbada como alguém que fez acordo com os banqueiros para prejudicar os trabalhadores.
O próprio Ciro Gomes sentiu na pele a pressão do PT para renunciar em favor de Lula na eleição de 2022. Desta vez, virão com tudo. Lula é o político mais experiente em atividade no Brasil. No segundo turno, dia 25 de outubro de 2026, estará a dois dias de completar 81 anos. Se eleito, será o único a tomar posse 4 vezes e o mais idoso dos 23 presidentes que chegaram ao poder pelo voto popular. Para isso, precisará convencer os brasileiros de que nada será melhor do que o velho Lula lá.
O Poder - Obrigado pelo seu tempo. Algo que queira acrescentar?
Tognozzi - Um Feliz Natal e um 2026 iluminado para vocês e os leitores.

As aventuras de Cacimba 21 — O cachorro que enxergava pecados
20/12/2025
O cachorro apareceu na vila numa manhã de calor besta, daqueles dias em que o sol parece botar os bofes pra fora. Era um vira-lata amarelo, orelha caída, rabo magro e um olhar tão sério que parecia ter vindo do céu ou do inferno, ninguém sabia qual.
A primeira coisa estranha aconteceu na venda de Seu Arlindo. O cachorro entrou, cheirou o ambiente e, do nada, começou a latir feito doido pra cara de Zé Limoeiro, que ficou roxo:
— Eu não fiz nada, homi! Nada!
Mas o cachorro insistia. Latia exatamente quando Zé pensava em algo que não queria contar pra ninguém. Dali a pouco, o povo descobriu o que ele estava aprontando:
o bicho enxergava pecados.
Não os grandes, não os famosos, mas os escondidos, os íntimos, os que nem a pessoa lembra que cometeu… mas que ainda late dentro dela.
Em uma semana, virou um pandemônio.
O cachorro latia para:
o vaqueiro que traía a diet...
Por Zé da Flauta*
O cachorro apareceu na vila numa manhã de calor besta, daqueles dias em que o sol parece botar os bofes pra fora. Era um vira-lata amarelo, orelha caída, rabo magro e um olhar tão sério que parecia ter vindo do céu ou do inferno, ninguém sabia qual.
A primeira coisa estranha aconteceu na venda de Seu Arlindo. O cachorro entrou, cheirou o ambiente e, do nada, começou a latir feito doido pra cara de Zé Limoeiro, que ficou roxo:
— Eu não fiz nada, homi! Nada!
Mas o cachorro insistia. Latia exatamente quando Zé pensava em algo que não queria contar pra ninguém. Dali a pouco, o povo descobriu o que ele estava aprontando:
o bicho enxergava pecados.
Não os grandes, não os famosos, mas os escondidos, os íntimos, os que nem a pessoa lembra que cometeu… mas que ainda late dentro dela.
Em uma semana, virou um pandemônio.
O cachorro latia para:
o vaqueiro que traía a dieta com buchada às escondidas,
a moça que mentia pra si mesma sobre um amor que não existia,
o padre que invejava a oratória do pastor,
o menino que filava a merenda do irmão,
e até Dona Teresa, que dizia que perdoou a vizinha, mas ainda guardava uma pontinha de veneno na alma.
O povo ficou revoltado:
— Esse cachorro é do demônio!
— Esse cachorro veio pra botar a vila abaixo!
— Amarrem essa criatura!
Mas ninguém conseguia pegar o bicho. Ele desviava, escorregava, desaparecia… como se soubesse o movimento de todo mundo antes de acontecer. Foi então que chamaram Cacimba.

Ele chegou com seu andar calmo, chapéu baixo, macaquinhos nos ombros, um dormindo, outro atento como guarda-costas.
O cachorro, ao vê-lo, parou de latir. Sentou-se. Abaixou a cabeça.
Cacimba sorriu:
— Tu tá cansado, né, bicho?
O cachorro respondeu com um gemido triste. O povo, assustado, perguntava:
— Cacimba, esse cachorro tá julgando a gente?
Cacimba ajeitou o chapéu:
— Nenhum cachorro julga ninguém. Quem julga é a consciência da pessoa quando o latido cutuca o lugar certo.
A vila ficou muda. Cacimba se agachou, coçou a orelha do bicho e disse:
— Tu não veio pra condenar ninguém. Veio pra mostrar que esse povo aqui precisa se perdoar.
O cachorro lambeu a mão de Cacimba. Os macaquinhos se aproximaram, farejaram o vira-lata e fizeram festa. Cacimba então falou alto, olhando pra todo mundo:
— O pecado late mais forte quando a gente esconde. Se o bicho tá latindo, é pra ajudar a soltar o que aperta.
O povo ficou sem saber onde enfiar a cara. Aqueles que estavam sendo denunciados por latidos improvisaram desculpas. Os que não foram latidos ficaram indignados por não terem sido importantes o suficiente. E alguns, num ataque de sinceridade repentina, começaram a confessar coisas simples, pequenas, humanas.
O cachorro parou de latir. Deitou no chão, tranquilo, como se tivesse cumprido sua missão.
— Ele vai ficar aqui? perguntou alguém.
Cacimba respondeu:
— Não. Bicho assim não pertence a um lugar só. Ele vai onde as pessoas precisam fazer as pazes com elas mesmas.
E dito e feito:
No dia seguinte, o cachorro tinha desaparecido. Só ficaram as pegadas na poeira da estrada, indo embora em direção ao horizonte, como se seguisse um chamado invisível. E desde então, quando alguém sente um aperto na alma, o povo da vila murmura:
— Será que o cachorro tá chegando?
E ninguém duvida.
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

Lula faz apelo por cooperação regional da AL contra o crime organizado
20/12/2025
O presidente afirmou que “o enfraquecimento das instituições democráticas é um dos problemas que abre caminho para atividades ilícitas”. E citou uma série de ações em curso entre os países sul-americanos. "A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado, independentemente de ideologia. O Mercosul demonstrou disposição de enfrentar as redes criminosas de forma conjunta. Há mais de uma década, criamos uma instância de autoridades especializadas em políticas contra as drogas”, ressaltou.
“Neste...
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitou reunião da cúpula do Mercosul, realizada neste sábado (20/12) em Foz do Iguaçu (PR), para pedir uma ação integrada de toda a América do Sul contra o crime organizado. Lula disse que enfrentar o crime organizado deve ser uma das prioridades do bloco, formado hoje por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, “independentemente do perfil político dos governos de cada um destes países”.
O presidente afirmou que “o enfraquecimento das instituições democráticas é um dos problemas que abre caminho para atividades ilícitas”. E citou uma série de ações em curso entre os países sul-americanos. "A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado, independentemente de ideologia. O Mercosul demonstrou disposição de enfrentar as redes criminosas de forma conjunta. Há mais de uma década, criamos uma instância de autoridades especializadas em políticas contra as drogas”, ressaltou.
“Neste semestre, assinamos um acordo contra o tráfico de pessoas. Criamos uma comissão para implementar uma estratégia comum contra o crime organizado transnacional. Instituímos um grupo de trabalho especializado sobre recuperação de ativos, a fim de asfixiar as fontes de financiamento de atividades ilícitas", disse, ainda, o presidente.
Regulação de ambientes digitais
Ele defendeu regulação dos ambientes digitais para o combate ao crime e anunciou uma reunião internacional com ministros da área de segurança para debater o assunto.
“Concordamos que a internet não é um território sem lei e adotamos medidas para proteger crianças e adolescentes e dados pessoais em ambientes digitais. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras. Mas essa é uma luta que vai além do Mercosul. Não existe hoje, em funcionamento, uma instância de abrangência sul-americana dedicada a esse problema”, frisou.
Por isso, segundo o presidente, em consulta com o Uruguai, o Brasil pretende propor a convocação de uma reunião de ministros da Justiça e de Segurança Pública do Consenso de Brasília para discutir como fortalecer a cooperação sul-americana no combate ao crime organizado", afirmou.
Risco de conflito militar
Um outro ponto chave do discurso de Lula na reunião do Mercosul, deste sábado, foi o risco de um conflito armado na América do Sul, diante da ameaça de intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, que pode levar à derrubada do atual regime do presidente daquele país, Nicolás Maduro, e desencadear uma nova guerra. Hoje, tropas dos EUA cercam o Mar do Caribe na fronteira venezuelana, sob alegação de combate ao narcotráfico.
“Passadas mais de quatro décadas, desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, alertou Lula.
Além de defender uma doutrina de paz na América do Sul, o presidente do Brasil fez uma defesa da democracia e exaltou a capacidade das instituições brasileiras debelaram a tentativa de golpe de Estado, há quase três anos.
"A democracia brasileira sobreviveu ao mais duro atentado sofrido desde o fim da ditadura. Os culpados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 foram investigados, julgados e condenados conforme o devido processo legal. Pela primeira vez na sua história, o Brasil acertou as contas com o passado", enfatizou.
— Com Agências de Notícias
Contexto histórico da visita de Pedro II a PE em 1859 — 2ª Parte
20/12/2025
Nenhuma outra província do Império do Brasil teve um passado tão marcado por movimentos de contestação aos poderes centrais como Pernambuco. As revoluções do século XIX representaram choques frontais entre a província e a dinastia dos Bragança. Durante o segundo reinado, Pernambuco continuou sendo alvo de preocupações concernentes ao seu grau de adesão ao Império. Havia muitos ressentimentos envolvidos na relação entre a província e a Corte.
No final dos anos 1850, os tempos conturbados das lutas pela Independência, do Primeiro Reinado e do Período Regencial haviam passado e a província de Pernambuco testemunhava o crescimento da agroindústria do açúcar. O velho produto rei pernambucano voltava a ser o mais importante da pauta de exportações após anos de prevalência do algodão. Entre 1830 e 1847, o açúcar passou de 59% para 84% do valor total exportado por Pernambuco, enquanto a fibra vegetal caiu de 34% para 9%.
Apes...
George Cabral*
Nenhuma outra província do Império do Brasil teve um passado tão marcado por movimentos de contestação aos poderes centrais como Pernambuco. As revoluções do século XIX representaram choques frontais entre a província e a dinastia dos Bragança. Durante o segundo reinado, Pernambuco continuou sendo alvo de preocupações concernentes ao seu grau de adesão ao Império. Havia muitos ressentimentos envolvidos na relação entre a província e a Corte.
No final dos anos 1850, os tempos conturbados das lutas pela Independência, do Primeiro Reinado e do Período Regencial haviam passado e a província de Pernambuco testemunhava o crescimento da agroindústria do açúcar. O velho produto rei pernambucano voltava a ser o mais importante da pauta de exportações após anos de prevalência do algodão. Entre 1830 e 1847, o açúcar passou de 59% para 84% do valor total exportado por Pernambuco, enquanto a fibra vegetal caiu de 34% para 9%.
Apesar das dificuldades de mercado no início do século, a produção de açúcar aumentou em 70%, quase duplicando entre 1836 e 1840 e o patamar alcançado neste último ano teve incremento de 100% até 1850. A parte interior da Mata Sul foi integrada à área de produção valendo-se da ampliação do uso de linhas férreas. Mesmo com a adoção lenta do vapor como força motriz, as melhorias nas técnicas de moagem e o uso do bagaço como combustível permitiram, a par da expansão da malha ferroviária, interiorizar os cultivos.
“Problema financeiro e emocional”
Dadas as pressões externas e as condições do mercado interno de escravizados, o tráfico interprovincial retirava braços das lavouras de cana e os destinava ao cultivo do café. Na Mata Norte, a redução da presença da escravidão foi maior que na Mata Sul. Em ambas, o trabalho escravo já não era majoritário na agricultura, o que levou J. H. Galloway a expressar que a Abolição em Pernambuco representou apenas o fim de um período de transição, sendo “um problema financeiro, político e emocional, mas não um problema de mão-de-obra”. As safras cresceram, os fluxos comerciais também e a prosperidade se refletia na substituição da moeda de cobre pela de prata como meio circulante no comércio, cada vez mais aquecido, da capital.
A bonança econômica, entretanto, não foi suficiente para evitar a última eclosão da rebeldia pernambucana no período imperial. Depois dos anos de agitação do Período Regencial, ocorreu o último movimento de contestação: a Revolução Praieira entre 1848 e 1849. O movimento estalou após a queda do gabinete liberal e a substituição da presidência da província, marcando o fim do período de hegemonia do liberalismo mais radical em Pernambuco. Permanecia vivo o viés autonomista, no sentido da defesa de um modelo descentralizado, sobretudo no que se referia à gestão fiscal.
Por outro lado, havia uma crescente tensão social produzida pela chegada de populações da Zona da Mata para o Recife, população livre e pobre que, na capital, passava a disputar oportunidades com os imigrantes portugueses. Essa tensão deu margem para que reivindicações antilusitanas eclodissem no âmbito do movimento praieiro na forma de “mata-marinheiros” e da propositura de medidas de restrição à presença de portugueses no Brasil e à sua participação no comércio a retalho. O excesso de foco dado por uma parte da historiografia a esta dimensão mais popular e urbana do movimento praieiro acabou por eclipsar seu viés elitista e rural.
Elites agrárias e elites periféricas
Se por um lado a independência feita com uma monarquia centralizada agradou às elites agrárias de norte a sul na medida em que permitiu a manutenção da escravidão e do comércio de escravizados, por outro lado, o desejo das elites periféricas de uma maior participação nos círculos de decisão política continuou uma questão candente.
Quando a conciliação permitiu que as facções provinciais do partido conservador convergissem em acordos que ampliaram a representação nos ministérios e a destinação de recursos para as melhorias materiais, isso permitiu a integração dos “grupos dirigentes do norte agrário” no sistema de poder imperial, mas não anulou completamente, em Pernambuco, sobretudo, os ressentimentos que se arrastavam de longa data.
O autonomismo, depurado de radicalismos nativistas e republicanos, passou a pelejar sobre a questão dos saldos provinciais, ou seja, contra a contínua sangria dos superávits drenados para os cofres imperiais sem o retorno esperado na forma de obras, sobretudo as de infraestrutura.
Transferência de recursos
Segundo Evaldo Cabral de Mello: “O império promoveu uma transferência maciça de recursos governamentais do Norte para o Centro-Sul, num processo de espoliação fiscal aparentado às situações coloniais de tipo clássico”.
A falta de investimentos na infraestrutura das províncias do Norte, sobretudo naquelas que favorecessem o escoamento de suas hinterlândias para os portos dos capitais, se confrontava com o rápido avanço da malha ferroviária nas províncias do Sul, levando um observador contemporâneo a denunciar que pretendia-se subverter até a geografia, transformando a corte no “centro comercial e industrial do norte do império”.
Uma outra dimensão desse enviesamento diz respeito à oferta de crédito: enquanto as taxas de juros nas províncias cafeeiras eram estabelecidas entre 10 e 12%, nas províncias do açúcar elas se situavam entre 18 e 24%.
Memórias latentes
Em meados do século XIX, a província parecia sossegada e integrada ao Império. No entanto, permanecia latente a memória das violências sofridas na repressão aos movimentos libertários, bem como fermentavam inúmeras queixas sobre como se dava a relação entre tributação e investimentos nas infraestruturas da província.
A aparente calma escondia tensões renitentes. Como seria a recepção de uma visita do imperador nesta província tão irrequieta? Sobre isso trataremos nos próximos artigos desta série.
*George Cabral é presidente do IAHGP, membro efetivo da Academia Pernambucana de Letras, professor da UFPE, doutor em História pela Universidade de Salamanca, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro honorário da Academia Portuguesa da História.

N. R.: Este texto teve intertítulos incluídos à revelia do autor, sem interferência no seu conteúdo, como forma de ficar adequado ao padrão de edição gráfica de O Poder
As aventuras de Cacimba 20 — A moça que conversava com as sombras
20/12/2025
O povo da vila começou a estranhar quando viu Raimundinha do Açude falando sozinha na beira do caminho. Falando baixinho, com a boca quase fechada, como quem conversa com alguém encostado no ouvido. Mas não tinha ninguém. Ou melhor: tinha.
A sombra dela.
A sombra de Raimundinha era comprida, fina, negra feito breu batido, e se mexia um segundo antes do corpo, como se esperasse a moça decidir, pra então confirmar o movimento. Primeiro, Raimundinha achou que era maluquice sua. Depois, percebeu que a sombra respondia. E respondia coisas que ninguém devia saber:
— Ele te ama desde 2018, só não confessa.
— Aquela promessa que tu acredita nunca foi feita.
— Tua mãe esconde uma tristeza que não tem cura.
— Teus sonhos são menores do que tu merece.
— E essa saudade que tu sente não é tua. É herdada.
As palavras vinham como vento gelado por baixo da porta.
A moça começ...
Por Zé da Flauta*
O povo da vila começou a estranhar quando viu Raimundinha do Açude falando sozinha na beira do caminho. Falando baixinho, com a boca quase fechada, como quem conversa com alguém encostado no ouvido. Mas não tinha ninguém. Ou melhor: tinha.
A sombra dela.
A sombra de Raimundinha era comprida, fina, negra feito breu batido, e se mexia um segundo antes do corpo, como se esperasse a moça decidir, pra então confirmar o movimento. Primeiro, Raimundinha achou que era maluquice sua. Depois, percebeu que a sombra respondia. E respondia coisas que ninguém devia saber:
— Ele te ama desde 2018, só não confessa.
— Aquela promessa que tu acredita nunca foi feita.
— Tua mãe esconde uma tristeza que não tem cura.
— Teus sonhos são menores do que tu merece.
— E essa saudade que tu sente não é tua. É herdada.
As palavras vinham como vento gelado por baixo da porta.
A moça começou a emagrecer. Dormia pouco. Tinha olheiras fundas, como quem anda pescando no escuro do próprio pensamento.
Quando Raimundinha chegou na venda chorando, dizendo que sua sombra tinha mandado ela “não sair de casa hoje”, o povo chamou Cacimba.
Ele chegou caminhando, com seus macaquinhos agoniados, os bichos viram sombra diferente de longe. Raimundinha estava encolhida num canto, tremendo. Sua sombra, projetada na parede de barro, parecia viva. Parecia respirar.
Cacimba tirou o chapéu, deu três passos lentos e perguntou:
— O que é que tu tá dizendo pra essa menina, criatura?
A sombra se mexeu. Mudou de forma. Cresceu. E respondeu não com voz, mas com um barulho seco, como couro sendo dobrado.
Os macaquinhos se esconderam atrás de Cacimba. Então a sombra falou com a própria Raimundinha, e todos ouviram:
— Eu tô cansada. Sou eu que carrego tudo. Suas dores, seus medos, o que tu finge que não pensa. Quero descanso. Quero trégua.
Cacimba suspirou.
— Toda sombra carrega o peso que o dono não quer levar. Mas sombra nenhuma aguenta solidão.

A moça chorava, abraçada aos joelhos.
— O que é que eu faço, Cacimba? Ela sabe tudo de mim…
Ele se abaixou, colocou a mão na terra, riscou um círculo e mandou Raimundinha ficar no meio.
— Sombra só fala demais quando tá esquecida.
Sombra quer afeto, quer atenção. Tu precisa conversar com ela… mas conversar certo.
Cacimba pegou o pife. Soprou um som baixo, grave, feito vento que vem do fundo da noite. E a sombra começou a encolher, encolher, encolher… Até ficar do tamanho exato da moça. Parada. Quietinha. No lugar dela.
Raimundinha respirou fundo. Encostou a mão no chão. Falou com doçura que nunca tinha usado:
— Se tu tá cansada… descansa. Eu carrego uma parte. Mas fica comigo.
A sombra tremeu. Estremeceu. E voltou a ser sombra, simples, obediente, morna como sempre deveria ser.
Cacimba ajeitou o chapéu, deu um tapinha no ombro da moça, e os macaquinhos, já valentes de novo, pularam nos seus.
— Pronto, disse ele.
— Sombra é igual gente: se ninguém escuta, grita.
E foi embora pela estrada, deixando atrás de si um rastro de silêncio calmo, como se a noite tivesse sido enxugada com pano molhado.
Na vila, até hoje, quando alguém se assusta com a própria sombra, o povo diz:
— Conversa com ela, criatura… antes que ela converse primeiro.
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

Tik Tok assina acordo para venda de 80% de suas operações nos EUA
20/12/2025
Juntas, elas formarão um grupo da rede social chamado TikTok USDS Joint Venture LLC, que ficará responsável pela proteção de dados, segurança de algoritmos, software e moderação de conteúdo do TikTok nos EUA. O acordo tem previsão de ser fechado em 22 de janeiro. A transação será concluída em até 120 dias, a partir dessa ordem executiva.
De acordo com representantes da empresa no documento encaminhado aos funcionários, a operação consiste num passo importante para resolver anos de incerteza sobre o futuro do aplicativo de vídeos curtos nos Estados Unidos desde agosto...
A rede social Tik Tok assinou acordo para venda de sua operação nos Estados Unidos. Conforme documentos divulgados pela agência internacional de notícias Reuters, a ByteDance, empresa controladora chinesa da rede divulgou comunicado aos funcionários afirmando que mais de 80% de operação da rede será vendido para as empresas Oracle, Silver Lake e MGX, sediada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
Juntas, elas formarão um grupo da rede social chamado TikTok USDS Joint Venture LLC, que ficará responsável pela proteção de dados, segurança de algoritmos, software e moderação de conteúdo do TikTok nos EUA. O acordo tem previsão de ser fechado em 22 de janeiro. A transação será concluída em até 120 dias, a partir dessa ordem executiva.
De acordo com representantes da empresa no documento encaminhado aos funcionários, a operação consiste num passo importante para resolver anos de incerteza sobre o futuro do aplicativo de vídeos curtos nos Estados Unidos desde agosto de 2020. Quando o então presidente Donald Trump tentou, banir do país. Hoje, pesquisas apontam que o Tik tok é usado regularmente por mais de 170 milhões de americanos.
Lei aprovada em 2024
Uma lei aprovada nos Estados Unidos em 2024 obrigou a ByteDance a ceder o controle da operação da plataforma no país para poder continuar no ar. O prazo para a conclusão da venda terminou na última terça-feira (16/12), após ter sido adiado três vezes por Trump.
A lei foi criada para evitar que o governo chinês tivesse acesso, eventualmente, a dados de usuários americanos — uma desconfiança que nunca foi fundamentada por Trump ou pelo Congresso.
A joint venture nos EUA será controlada em 50% por um consórcio de novos investidores — incluindo Oracle, Silver Lake e MGX, com 15% cada. Outros 30,1% ficarão com afiliadas de alguns investidores atuais da ByteDance; e 19,9% permanecerão com a ByteDance, informou o memorando.
Outros 30,1% do TikTok USDS serão das afiliadas de determinados investidores já existentes da ByteDance e 19,9% permanecerão com a empresa chinesa. Ainda está sendo avaliado por especialistas se a operação precisará ou não ser aprovada também pelo Congresso para ser formalizada.
— Com informações do G1 e da Reuters
2025: STJ julgou 780 mil recursos e recebeu outros 500 mil
20/12/2025
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Herman Benjamin, afirmou nesta sexta-feira (19/12), ao divulgar o balanço das atividades da Corte em 2025, que pela primeira vez o Tribunal chegou a receber mais de 500 mil processos ao longo do ano (chamados em sua maior parte de Recursos Especiais, ou REsps, por se tratar de uma Corte recursal).
No balanço, o ministro disse que apesar do número de julgados ter sido maior do que o número de processos ajuizados, a quantidade que chegou ao STJ de janeiro até poucos dias atrás, impressiona e preocupa os magistrados, pelo fato de se tratar de um “Tribunal de precedentes”.
Conforme o documento, foram recebidos no total 500.622 processos e julgados 771.418. Foram baixados para seguir com tramitação, dentre processos que constavam no acervo da Corte, 512 mil deles. Os números levaram à estatística de que foram proferidas no Tribunal ao longo do ano, 6,15 decisõ...
Hylda Cavalcanti/ Por HJur
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Herman Benjamin, afirmou nesta sexta-feira (19/12), ao divulgar o balanço das atividades da Corte em 2025, que pela primeira vez o Tribunal chegou a receber mais de 500 mil processos ao longo do ano (chamados em sua maior parte de Recursos Especiais, ou REsps, por se tratar de uma Corte recursal).
No balanço, o ministro disse que apesar do número de julgados ter sido maior do que o número de processos ajuizados, a quantidade que chegou ao STJ de janeiro até poucos dias atrás, impressiona e preocupa os magistrados, pelo fato de se tratar de um “Tribunal de precedentes”.
Conforme o documento, foram recebidos no total 500.622 processos e julgados 771.418. Foram baixados para seguir com tramitação, dentre processos que constavam no acervo da Corte, 512 mil deles. Os números levaram à estatística de que foram proferidas no Tribunal ao longo do ano, 6,15 decisões por minuto.
“É uma curva ascendente que preocupa um Tribunal de precedentes”, frisou o presidente. Ele lembrou que nem mesmo a Índia, que tem uma população de 1,3 bilhão de pessoas, possui um Tribunal com tamanho número de julgamentos.
Comparações com 2023 e 2024
O crescimento também foi observado neste último ano em relação aos dois anos anteriores. Em 2023, o STJ teve 495,3 mil processos recebidos e 755,6 mil decisões proferidas. Em 2024, o número de processos recebidos reduziu um pouco e ficou em 480,6 mil. Assim como o número de decisões, que foi de 690,4 mil. Mesmo assim, foram números menores do que os de 2025.
O ministro destacou que um dos fatos que assustaram, no tocante à percepção sobre o aumento desses números, é que foi criada uma nova área técnica responsável pela apreciação de processos ajuizados no Tribunal para análise prévia deles por tema.
E, por meio dessa avaliação, sempre que ficou comprovado que se tratavam de temas repetitivos (com jurisprudência já consolidada para todo o país), tais processos nem chegaram a ser encaminhados para os gabinetes dos ministros. Por meio desse trabalho, para se ter ideia, foram avaliados 345,9 mil processos.
Processos que deixaram de ser distribuídos
A análise prévia evitou que quase 3 mil deles fossem distribuídos para a 1ª Sessão (que julga matérias de Direito Público, abrangendo temas de Direito Administrativo e Tributário); que 6,2 mil deixassem de ser encaminhados para ministros da 2ª Seção (responsável pelo julgamento de ações de Direito Privado).
E fez com que perto de 3 mil deixassem, também, de ser distribuídos para magistrados da 3ª Seção (especializada em Direito Penal). Isto porque eram processos cujos temas já tinham posições firmadas anteriormente por meio de recursos repetitivos.
Força-tarefa de magistrados convocados
O ministro elogiou a força-tarefa criada com o apoio de magistrados convocados, que por meio de seus gabinetes em todo o país, trabalharam de forma remota para o STJ. Esse tipo de convocação, que Benjamin deixou claro que terá continuidade, apresentou bons êxitos. Conforme o levantamento, tais magistrados foram responsáveis por um total de 121.380 documentos proferidos, entre despachos, decisões e votos. O que contribuiu, segundo o presidente, para uma redução de 61,5% do acervo histórico dos gabinetes do Tribunal.
Outros números divulgados foram o de recursos repetitivos julgados, que subiu dos 49, em 2024, para 79, em 2025; e o de sustentações orais feitas durante os julgamentos este ano, que chegou a 3.517 delas. “Não há outro Tribunal no mundo que tenha recebido tantas sustentações orais, o que mostra o nosso esforço para ouvir todas as partes nos julgamentos”, frisou o ministro.
STF conclui 2025 com menor acervo processual em 31 anos
20/12/2025
O acervo atual do Supremo contabiliza 20.315 processos em tramitação, representando redução de 2,1% em relação ao final de 2024. Foram baixados 85.629 processos durante o ano, mantendo um fluxo significativo de julgamentos.
Do total de processos recebidos, 38% foram ações originárias e 62% processos recursais. Em relação a 2024, houve aumento de 21% no recebimento de ações originárias e redução de 4,2% nos recursos.
Decisões colegiadas
Conforme o levantamento, das 116.170 decisões proferidas, 80,5% foram monocráticas e 19,5% colegiadas. O crescimento nas decisões colegiadas reflete,...
O Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou nesta sexta-feira (19) o ano judiciário de 2025 com o menor acervo processual dos últimos 31 anos, segundo balanço apresentado pelo presidente da Corte, ministro Edson Fachin. O tribunal recebeu 85.201 processos e proferiu 116.170 decisões ao longo do ano, com aumento de 5,5% nas decisões colegiadas.
O acervo atual do Supremo contabiliza 20.315 processos em tramitação, representando redução de 2,1% em relação ao final de 2024. Foram baixados 85.629 processos durante o ano, mantendo um fluxo significativo de julgamentos.
Do total de processos recebidos, 38% foram ações originárias e 62% processos recursais. Em relação a 2024, houve aumento de 21% no recebimento de ações originárias e redução de 4,2% nos recursos.
Decisões colegiadas
Conforme o levantamento, das 116.170 decisões proferidas, 80,5% foram monocráticas e 19,5% colegiadas. O crescimento nas decisões colegiadas reflete, segundo o balanço, o esforço institucional de fortalecimento da deliberação plural.
O trabalho também destacou que o plenário da Corte, este ano, realizou 74 sessões presenciais e 56 sessões virtuais, julgando 6.177 processos. A Primeira Turma conduziu 38 sessões presenciais e 47 virtuais, finalizando 8.206 processos. Já a Segunda Turma realizou 14 sessões ordinárias e 44 virtuais, concluindo 8.158 processos. Foram distribuídas 13.882 reclamações em 2025, um aumento de 37% em relação ao ano anterior. Em repercussão geral, 75 novos temas foram afetados à sistemática, com reconhecimento em 40 deles.
Audiências públicas
O tribunal realizou audiências públicas sobre temas como execução de emendas parlamentares, políticas ambientais, regulação sanitária e direitos autorais na era digital. Essas audiências são consideradas instrumentos essenciais para o aprimoramento da jurisdição constitucional.
A Ouvidoria do STF recebeu 49.657 manifestações em 2025. A Ouvidoria da Mulher registrou 148 atendimentos especializados em casos de assédio e violência contra a mulher.
O Núcleo de Solução Consensual de Conflitos realizou 28 audiências de conciliação, com seis acordos homologados. O Núcleo de Processos Estruturais Complexos monitora 10 processos no momento.
Agenda 2026
Para 2026, o STF definiu prioridades que incluem garantia da independência do Judiciário, aprofundamento da colegialidade e proteção da institucionalidade. A presidente anunciou, ainda, realização de debates sobre diretrizes éticas para a magistratura.
Entre os compromissos estão proteção da infância, juventude, idosos e mulheres contra violência, equidade racial, combate ao racismo e acesso à justiça para os mais vulneráveis. A agenda prevê também ações conjuntas para o sistema prisional.
Bem como segurança jurídica, sustentabilidade, diversidade, transformação digital e plena liberdade de imprensa. O presidente do STF afirmou, no seu discurso de encerramento do ano, que “o país precisa de paz — e o Judiciário tem o dever de semear paz. Mas sem ignorar o dissenso, que é elemento vital da democracia”.
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