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Um século da Odebrecht em Pernambuco

18/03/2024 - GOL DE LETRA- Médico e Cronista- Roberto Vieira

imagem noticia As construtoras NOVONOR (antiga ODEBRECHT) e ANDRADE GUTIERREZ estão na fase final da licitação para retomar as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O fato reforça os laços de mais de cem anos entre a Família Odebrecht e o estado de Pernambuco.

Hertha Odebrecht

Era o dia de Santo Antônio, 1930, quando a Sra. Hertha Odebrecht, esposa do construtor Emílio Odebrecht, aniversariou em Recife. Eram os últimos dias da República Velha, a qual iria desabar nas ruas de nossa cidade após o assassinato de João Pessoa. Apesar do sucesso e dos afagos sociais, muita água havia rolado por baixo das pontes da Veneza Brasileira na década de 20. A Odebrecht fazia sucesso em Pernambuco. A chaminé da poderosa Usina Jaboatão, de propriedade do milionário António Martins de Albuquerque, se erguia a 60 metros do solo desde 1926 - obra da empresa. Era um monumento ao progresso do nosso estado.

Campo das Princesas

Muito antes do aniversário de Hertha, em 1920, a licitação para obras de reestruturação do Palácio do Campo das Princesas já contava com a participação dos Odebrecht associados com Isaac Gondim. Oito propostas participam do processo que é julgado pelo então prefeito do Recife, coronel Lima Castro. Tudo distante de Lava Jato e redes sociais. Pouco depois, em novembro de 1920, o secretário do interior, Carlos Augusto dos Santos, aceitou as ofertas da Gondim & Odebrecht para construção de pontes em Bebedouro, Camaragibe e Pilar (sobre o rio Paraíba do Meio).

Gameleira

Odebrecht também recebe do prefeito do Recife permissão para construir a Capela da Gameleira, paróquia de S. José. Não houve licitação. Os jornais publicam que a oferta é espontânea por parte do edil para desenvolvimento da fé cristã. A firma Gondim & Odebrecht se estabelece na famosa rua Duque de Caxias, número 107, no primeiro andar. Parece que São José protege os destinos da Odebrecht.

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A ponte caiu

imagem noticia Tudo corria às mil maravilhas. Os anos de 1921 e 1922 são de lucro e festa, até que um desastre coloca os Odebrecht em perigo pela primeira vez. Desaba a Ponte do Pilar no dia 18 de junho de 1922. O rio Paraíba do Meio, que tem sua origem no município de Bom Conselho, em Pernambuco, entra para a história esquecida da engenharia brasileira. O contrato para construção da ponte fora assinado no dia 6 de novembro de 1920, após concorrência pública - já não se fala em 'ofertas espontâneas'. Pois no dia 18 de junho de 1922, a ponte desaba por falta das devidas fundações no município de Pilar, local em que o rio deságua na lagoa Manguaba, já no estado de Alagoas. O custo da obra alcança em valores atuais dois milhões e quatrocentos mil reais - acrescidos de um vão de dez metros com reajuste de 240 mil reais acordados em 1922. A vistoria realizada em 1922, e publicada no Diario Oficial, acusa 'insuficiência de fundações'. A firma está com seus dias contados.

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Adolfo Scheefer

imagem noticia O engenheiro Adolfo Scheefer da Gondim & Odebrecht corre para o Palácio do Governo para conferenciar com o governador Sérgio Loreto. Loreto concorda que a companhia refaça o projeto a partir de uma planta idealizada pelo Engenheiro do Estado. Em tempo: o contrato para a construção foi assinado pelo deputado estadual Otávio Hamilton Tavares Barreto, presidente da Assembleia Legislativa, substituto interino do governador José Rufino Bezerra Cavalcanti, afastado do cargo no dia 28 de outubro de 1920 por motivo de doença. O futuro da Odebrecht repousa na mídia, nas águas, na censura e nos distúrbios de um certo Forte de Copacabana. Porque, logo depois, no início de julho, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana coloca tudo em segundo plano no país chamado Brasil. Deixem a ponte pra lá, diziam os políticos.

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Itamaracá

imagem noticia O cenário é idílico. A Penitenciária se ergue numa elevação diante do mar e da aldeia de Itapissuma. Construída pela Emílio Odebrecht e Cia Ltda. no governo do interventor Agamenon Magalhães, a Penitenciária Agrícola de Itamaracá, chamada carinhosamente de P.A.I., foi inaugurada em 1940. Seu objetivo era afastar os marginais da presença dos cidadãos de bem. Para ligar a Ilha ao continente, facilitando o controle dos presos, ergue-se também a então Ponte Getúlio Vargas, substituindo uma antiga e precária ponte no local. Uma guarita é erguida na cabeceira da ponte separando criminosos do continente. Para conseguir a ressocialização dos criminosos surge o trabalho obrigatório e as partidas de futebol e vôlei. Já em 1940, o Atlético Clube Olindense viaja até a Ilha e disputa três partidas contra um selecionado dos detentos - vence as três. Atlético que é comandado pelo desportista Alexandre Kruse. No final, comes e e comes - bebida era proibida. O diretor Francisco Sabino saúda a nova ordem social.

Abreu Lima

O herói pernambucano Abreu e Lima não conheceu Sérgio Loreto, Washington Luís, Getúlio Vargas nem Agamenon Magalhães. Nos tempos dele, refinarias e petróleo eram sonhos norte-americanos. Filho do Padre Roma, Abreu e Lima combateu nas Américas pela liberdade dos povos e pela justiça. Apesar disso, era fã da monarquia brasileira. Colaborador do Diário de Pernambuco, Abreu e Lima ficaria decerto boquiaberto com o destino do seu nome atrelado ao novo normal da política brasileira. Onde tudo muda para permanecer igualzinho.

Autor

*Roberto Vieira é médico e cronista

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