
AGORA É FINDI- COLUNA SEMANAL - VALÉRIA BARBALHO SEXTOU COM A GENTE
03/02/2023 - Jornal O Poder
A médica e escritora VALÉRIA BARBALHO sextou com a gente
ANTIGOS CARNAVAIS DE CARUARU
Andei pesquisando sobre os velhos carnavais do País de Caruaru para escrever “Sou eu teu amor”, crônica em homenagem ao bloco de Cacho de Coco, imortalizado pelo frevo do caruaruense Carlos Fernando. Encontrei muitas curiosidades sobre outros grupos carnavalescos que existiram, no século passado, na Capital do Agreste. Entre estes, um chamou a minha atenção: “O Bloco do Dr. Silva”.
20 ANOS DE SUCESSO
Fundado, em 1929, pelo médico Adolfo Silva Filho, Silva Filho ou simplesmente Dr. Silva, juntamente com o português-caruaruense, Antônio Barbosa e pelo pé de valsa que adorava a folia, Ademar Viana, esse bloco desfilou por vinte anos. Um sucesso! Dr. Silva Filho nasceu em Recife, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, e chegou para trabalhar em Caruaru, em 1915. Logo adotou a cidade e conquistou uma legião de amigos e admiradores.
BENFEITOR
Foi um dos maiores benfeitores da Capital do Agreste, são tantas as suas realizações em prol da cidade que necessitaria de um novo artigo para citá-las. Austero, intelectual, sensível (pintava e escrevia poesias) responsável e competente, Dr. Adolfo, só andava nos trinques, com ternos feitos sob medida na Alfaiataria João Barbalho, gravatas alinhadas e camisas bem engomadas. Toda essa seriedade e elegância, porém, uma vez por ano vinha abaixo. Era na segunda feira de Momo, quando, logo pela manhã, vestindo roupas simples, ele recebia familiares e amigos em sua casa, para desfilarem no seu bloco.
TURMA ANIMADA
Faziam parte desse grupo: Chico Porto, Walfrido Nunes, Iedo Silva, Audifax Melo, Vicente Paes Barreto, Dilermano Alves Pimenta, Major Sinval, Severino Menezes, Alfredo Gomes, Heráclito Ramos, Gonçalo Cruz, entre outros. Depois do reforçado café, em torno das dez horas, com todos já calibrados, tinha início o desfile. O estandarte do bloco era de papelão. A orquestra, de um músico só, o sanfoneiro José Francisco da Silva, o gordo e pitoresco Zé Tatu, tocava sem parar, com seu fole de oito baixos, a marchinha exclusiva da troça, acompanhada pelo o coro de foliões entusiasmados, dançando. Animação contagiante!
ITINERARIO E REFRÃO
O itinerário, todo ano, era o mesmo: da casa de Silva Filho na Rua da Matriz, seguia pelo Beco do Major Sinval, Rua da Frente, Baixinha de Nana Mandu, Rua do Colégio das Freiras, Rua Treze de Maio, Rua Duque de Caxias, Rua Vigário Freire, Praça do Norte, Baixinha do Capitão Iôio, Rua Sete de Setembro, Beco de João Piston e, novamente, Rua da Matriz.
Pelo caminho, havia as paradas estratégicas, nas casas dos afiliados que se preparavam com antecedência, oferecendo bebidas para que todos recarregassem suas baterias. Estas paradas eram na casa de Manuel Campos, dos Zelaquett, de Miguel Menino, do Major Sinval, de Ademar Viana, de Bernardo Cruz (onde a farra pegava fogo), de Dózio, de Pedro de Souza, de Severino Menezes, de Alfredo Gomes, de Vicente Campos, do Dr. Eurico, entre várias.
Quando o grupo ressurgia na Rua da Matriz, já passava das três da tarde. Estropiados, caindo com o vento, tomando a benção a cachorro, mas, ainda animados, entoando seu célebre hino: “O Bloco de Dr. Silva / Barbosa e Ademar / Vai sair todo chapeado / Quem não tiver chapa / Não pode entrar". (valeriageni@gmail.com)
Postado em www.opoder.com.br