
CONTRAPONTO - OS GRILEIROS NÃO SÃO OS MOCINHOS
16/03/2023 - Jornal O Poder
Virginia Pignot
Médica e articulista.
Na questão do direito à terra e à reforma agraria, a mídia tradicional apresenta os camponeses pobres como bandidos invasores, e os ricos empresários do agronegócio como vítimas de abuso. No entanto, em artigo “Grilagem de Terras”, Morôni A. De Vasconcelos nos informa que os grileiros são os principais responsáveis pelos conflitos bárbaros no campo, constituindo uma das maiores ameaças aos pequenos produtores, trabalhadores sem-terra e indígenas.
QUEM É
Grileiro é o proprietário privado que se apossou de terras públicas ou de terceiros, geralmente cometendo outros crimes para chegar ao seu fim. No Conflito que opõe membros do MST e a Empresa Suzano, no sul da Bahia, os pequenos agricultores acusam a empresa Suzano de fazer parte da lista suja do agronegócio, se apropriando de terras camponesas para implantar o deserto verde dos eucaliptos.
A GENTE NÃO COME EUCALIPTO
A Deputada Pernambucana Rosa Amorim defende o ponto de vista da agricultura familiar e do MST: “que coloca comida no prato do povo brasileiro, com apenas 20% de terras agricultáveis, e ainda assim, sendo responsável por 80% dos empregos no campo. Enquanto isso, o agronegócio, que é o queridinho da mídia, possui 77% das terras e é monocultor, explorador e recordista no uso de agrotóxicos”. Ela lembra na sua fala o escândalo recente do trabalho escravo do agro no RGS.
SOBERANIA ALIMENTAR
Aqueles que integram o Movimento dos Sem-Terra, que já tem 39 anos de história, lutam pela democratização e regulamentação do acesso à terra. A luta pela soberania alimentar, e pela soberania popular, são dois pilares do movimento.
ACORDO DESCUMPRIDO
A Suzano descumpriu acordo de 2011 para assentar famílias na região.
Na sua fala em programa do grupo Prerrogativas na rede TVT, Rosa Amorim nos informa que em 2011 a Suzano foi condenada pelo INCRA a ceder parte da sua propriedade para o assentamento de 750 famílias. Mas veio o golpe, o governo Bolsonaro, e esse acordo não foi cumprido.
Em artigo recente (7-3-23) de Victor Correia no Correio Braziliense e no Diário de Pernambuco, a empresa Suzano diz ter disponibilizado 12 imoveis, junto com a empresa Fibria, depois do acordo de 2011, para o assentamento de 800 famílias. Dos 12, só 2 teriam sido adquiridos pelo INCRA. De quem é a culpa? A Suzano diz que a demora se deu por atraso por parte do INCRA. Ou será que os superintendentes do INCRA indicados por Bolsonaro e contrários aos assentamentos foram cúmplices dos ruralistas, para evitar a regularização de área destinada à reforma agraria?
GRILAGEM E TRAMOIAS
Então a Suzano, que move ação contra o MST por invasão das suas terras, é ela mesma especialista, ou foi, da grilagem da terra dos camponeses?
Temer e Bolsonaro, sempre do lado dos mais ricos.
O governo Temer extinguiu o Ministério do Desenvolvimento agrário, cortou orçamento para a agricultura familiar, editou medida provisoria em julho de 2017 que facilita a regularização de terra obtida pelo crime de grilagem. O Governo Bolsonaro desenvolveu narrativa e politica contrárias à reforma agraria, e impediu a regularização de assentamentos decididos. Esperemos que responsabilidades sejam apuradas.
" O BURACO É MAIS EMBAIXO"
No conflito que opõe o agronegócio à agricultura familiar no Sul da Bahia, entre a empresa Suzano e o MST, temos pronto acesso ao ponto de vista do grupo mais rico na mídia tradicional. Tentamos trazer neste artigo os argumentos do grupo economicamente menos favorecido, composto por pequenos agricultores. E que cada leitor possa formar sua opinião tendo acesso a um conteúdo informativo menos restritivo.