
VIVE E LUTA - PCR COMEMORA 57 ANOS COM A MESMA PROPOSTA IDEOLÓGICA
26/05/2023 - Jornal O Poder
Os primeiros anos de enfrentamento à ditadura militar foram pródigos na multiplicação organizações revolucionárias que visavam derrubar o regime militar e implantar algo semelhante ao que existia em Cuba, na União Soviética, na China ou até na Albânia. O modelo dependia da orientação interna de cada uma. AP ( Ação Popular); PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário); VPR ( Vanguarda Popular Revolucionária, que veio a se fundir com o movimento Palmares, formando a VAR-Palmares); COLINA (Comando de Libertação Nacional); VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) ALN (Aliança Libertadora Nacional); MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro); e o aniversariante da vez, o PCR ( Partido Comunista Revolucionário).
DISSIDÊNCIAS
Na maioria, essas siglas foram fundadas por lideranças dissidentes dos antigos Partido Comunista Brasileiro ( PCB, o velho "partidão") e do PC do B, (Partido Comunista do Brasil), ferrenho rival do PCB. Ambos divergiam desde sempre, o PCB da linha Soviética, o PC do B inspirado na China e na Albânia.
LUTA ARMADA
Todas essas siglas, antigas ou jovens, com a solene exceção do PCB - defendiam a derrubada do regime por meio da luta armada. Cada qual com o seu modelo, suas teorias divergentes e uma rivalidade por vezes disfarçada, na maioria dos casos expostas abertamente. Cada uma tinha o seu estatuto, sua linha ideológica, seu alinhamento internacional. E desenvolviam ações políticas e militares, visando ganhar prestígio e conquistar adeptos.
O PCR
De todos essas siglas, a de mais improvável sobrevivência era certamente o PCR. Criado em maio de 1966, em algum lugar entre Pernambuco e Alagoas, teve como fundadores cinco dissidentes do PC do B. O veterano líder camponês pernambucano Amaro Luiz de Carvalho, conhecido como Capivara, com treinamento politico-militar na China; o jovem engenheiro paulista Ricardo Zarattini; o estudante de medicina, Manoel Lisboa. A também estudante de medicina, Selma Bandeira (companheira de Lisboa) e o estudante de veterinária Valmir Costa, os três últimos alagoanos. Redigiram o manifesto do partido, intitulado "Carta dos Doze Pontos", onde defendiam teses oriundas da Revolução chinesa. Segundo eles, o principal cenário para o enfrentamento da ditadura não estava nos grandes centros urbanos e muito menos em áreas isoladas de guerrilha. E sim na zona canavieira nordestina. A partir daí, pregavam uma aliança operario-campesina, e defendiam que a principal estratégia da revolução brasileira era o cerco da cidade pelo campo.
DISSIDÊNCIA E MORTE
Zarattini, o mais notório e articulado do grupo, foi falsamente acusado pela colocação da bomba que explodiu no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, em julho de 1966, matando duas pessoas e deixando 14 feridos e mutilados. Preso no Quartel da Cavalaria, no Recife, conseguiu fugir. Prosseguiu combatendo a ditadura mas abandonou a sua criatura. Capivara foi preso e morreu assassinado misteriosamente na Casa de Detenção no Recife, em 1971, poucos dias antes de cumprir a pena. No ano seguinte, foi a vez do líder camponês Amaro Félix, que atuava na clandestinidade na zona canavieira, ser capturado e morto, sem registro público do ato.
RESISTIR E CRESCER
Manoel Lisboa continuou a caminhada. Juntou um punhado de companheiros fiéis, entre os quais o estudante de agronomia Juarez Gomes. Conseguiram militantes e aliados entre operários de diversas fábricas do Grande Recife. Conquistaram lideranças estudantis entre Alagoas e o Rio Grande do Norte. E ampliaram o trabalho no campo, sob a liderança dos canavieiros Manoel Aleixo, conhecido como " Ventania" e Amaro Félix. Em 1973, suspeito de realizar um assalto no Parque da Aeronáutica, no Recife, de onde foram levadas armas e munições. o PCR foi implacavelmente caçado por uma inédita mega-mobilização do DOI- CODI, no Recife. A operação, comandada pelo notório delegado Sérgio Fleury, terminou impondo grandes perdas ao partido. Muitos militantes e aliados foram sequestrados e presos, resultando na morte sob torturas de Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra (ex-lider estudantil natalense) e Manoel Aleixo.
ATÉ A ÚLTIMA HORA
Sobreviventes, Selma, Valmir e mais o estudante de sociologia paraibano Edval Nunes, conhecido como Cajá, conseguiram juntar os cacos do partido. Em 1978, porém, todos foram presos. Cajá, que além de líder estudantil integrava a Comissão de Justiça e Paz, liderada pelo arcebispo D. Helder Câmara, foi sequestrado, torturado e mantido um ano em cárcere privado. O fato gerou uma mobilização nacional de lideranças civis, políticas e religiosas e uma inédita greve de mais de 12 mil estudantes universitários, sob o lema " Cajá está sendo torturado e você vai assistir aula?".
Cajá foi o último preso político libertado após a Lei da Anistia, em 1979.
NOVOS CAMINHOS
Com os ventos da abertura política soprando forte, o PCR fundiu-se ao MR-8, mas o arranjo não deu certo. O núcleo do PCR, então, divergiu e refundou o partido. Sob a direção de Edval Cajá e do líder estudantil Luiz Falcão, o partido, mesmo não reconhecido pela justiça eleitoral, cresceu. Existem hoje Centros Culturais com o nome de Manoel Lisboa em quase todas as capitais brasileiras.
O PCR através dos seus militantes, foi o principal suporte para a criação do partido Unidade Popular pelo Socialismo, de orientação marxista-leninista. Entre 2016 quando foi fundado e 2019, conseguiu as assinaturas necessárias para ser reconhecido e legalizado pela Justiça Eleitoral.
COMEMORAÇÃO
O PCR celebra, hoje, ato político marcando os seus 57 anos. A convocação para a festa resume a história e as propostas da única organização daquela sopa de siglas do início da matéria, que sobrevive atuando na mesma linha original. E explica muita coisa sobre a essência do partido.
A CONVOCAÇÃO
"Atenção Camaradas!
O Partido Comunista Revolucionário está completando seus 57 anos de luta. Desde 1966, o PCR está nas trincheiras de defesa do marxismo-leninismo, do socialismo científico e da libertação do povo. Neste ano, vamos comemorar o aniversário do PCR com muita alegria e energia revolucionária. Contaremos com a presença do companheiro Edival Nunes Cajá, militante histórico do nosso partido e ex-preso político da Ditadura Militar Fascista.
Venha celebrar conosco esta data tão importante! O PCR vive, luta e avança!".
SERVIÇO
Quando: hoje, 26/05
Hora: 18h
Local: IFCS/UFRJ - Largo S. Francisco de Paula, 1, Centro - São Paulo - SP.