Roberto Vieira
Médico e cronista


Relógio de presidente entrou na moda no Brasil nos últimos dias. Foi um tal de Rolex pra cá, Piaget pra lá que ninguém entendia bem onde começava o certo e o errado. Até onde podem ir os presentes presidenciais? Qual o limite da ética e do erário? Qual o destino do relógio de pulso inventado por Patek Philippe e popularizado pelo brasileiro Santos Dumont em suas jornadas aéreas pela Europa após queixas dirigidas ao amigo Louis Cartier sobre o velho relógio de algibeira?

RELÓGIOS NOS EUA
Relógio nos EUA sempre esteve na moda entre os presidentes. George Washington tinha orgulho da sua coleção e Thomas Jefferson curtia um Daniel Vaucher com o qual presenteou James Monroe. Eisenhower esqueceu os tempos difíceis vendo as horas no Golden Rolex que a Rolex lhe presenteou. Kennedy se excitava com o Rolex presenteado por Marilyn Monroe. Já Nixon esbanjou- só ia de Vulvan Cricket e recusou o Omega Speedmaster oferecido pela Omega. Aliás, a mesma coisa que Ronald Reagan fez.

O EXEMPLO DE CLINTON
Bill Clinton quando estava no Salão Oval checava as horas solitário com Monica no Timex Ironman de 100 reais no pulso. Depois de sair da presidência não perdeu tempo. Era um tal de Panerai, Frank Muller, Roger Dubuis, Cartier e Audemars Piguet para ninguém botar defeito. Clinton era tão singelo no cargo mais poderoso do planeta que foi imitado por Barack Obama e seus Jorg Gray e Two-Tone Diver, ambos custando menos de dois mil reais. Até Obama receber de presente um Vulcan. Já Trump assumiu o cargo com um relógio cor de rosa: o Vacheron Constantin de 150 mil reais.

BOLSONARO
Bolsonaro posou de Aqua camelô durante muito tempo, até mesmo no encontro com o rei do Bahrein, Hamad Bin Isa Al Khalifa. O rei trajando seu Patek Philippe – lembram do Santos Dumont? O monarca gostou de Bolsonaro e lhe deu dois presentes: a Ordem do Bahrein e um relógio Patek Philippe de 250 mil reais. Faltou só registrar o relógio na alfândega. E isso deu um bafafá danado.

O PIAGET DE LULA E O ROLEX DE DIRCEU
Assim, nas mil e uma noites, Bolsonaro entrou no grupo privilegiado do presidente Lula que não declarou seu Piaget presenteado pelo presidente francês Jacques Chirac, em 2005, durante as celebrações do Ano do Brasil na França. Menos sorte teve o político José Dirceu. Deram um Rolex a Dirceu e depois Dirceu descobriu que o Rolex era falso. FHC sempre mais esperto, aceitou seu Zenith de 10 mil dólares diretamente da fábrica, agradeceu e alguém lhe cutucou o ombro dizendo que dias antes ele tinha instituído o Código de Conduta da Alta Administração Pública. FHC tristonho incorporou o relógio ao acervo da Presidência da República.

O CASO DILMA E O FOLCLÓRICO COLLOR
A coisa que mais preocupava Fernando Collor no dia do seu impeachment era o... relógio de pulso Breitling. No dia 2 de outubro, as câmeras flagraram inúmeras vezes o político contando os minutos para acabar com aquela chatice toda. Já Dilma foi de longe a menos prestigiada nos valores dos relógios de presente. Durante o tempo no poder, Dilma ganhou apenas dois relógios de mesa e nada mais. Ambos não pagariam nem um minuto dos demais relógios citados nesse texto.

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