
PARAÍBA – ÁGUAS DA TRANSPOSIÇÃO NÃO ESTÃO CHEGANDO AO AÇUDE DE BOQUEIRÃO
21/11/2023 - Jornal O Poder
Por Severino Lopes
Editor Regional O PODER
Uma obra concebida para matar a sede de 12 milhões de nordestinos. Salvação para o semiárido. Apontada como redenção do Nordeste, a transposição do Rio São Francisco, ajudou o açude Epitácio Pessoa em Boqueirão, a sair do volume morto, e superar uma das crises mais drásticas de sua história em 2017. No entanto, passados seis anos desde o esperado encontro das águas do Velho Chico com Boqueirão, no Cariri paraibano, a realidade é outra. E a água oriunda do velho Chico, não está chegando ao manancial, sendo desviada no percurso do rio. O Jornal O PODER refaz o caminho das águas e traz informações sobre o atual estágio da obra.

O ALERTA
O alerta sobre o desvio das águas do “Velho Chico” foi feito pelo especialista em recursos hídricos Isnaldo Cândido. Segundo ele, as águas advindas do Rio São Francisco chegam à cidade de Monteiro, na entrada no território paraibano, e deveriam desaguar no açude Epitácio Pessoa, cerca de 140 quilômetros depois, o que não está acontecendo.
O DESVIO
Segundo ele, em Monteiro, a última etapa da água transportada por canal tem chegado, em média, 2 mil litros por segundo. Já em Boqueirão, tem entrado praticamente “zero litro”, o que levou o especialista a supor que muita água está sendo ´desviada´ pelo percurso leito do Rio Paraíba, porque não é possível creditar tudo à evaporação.

CAPACIDADE
O açude Epitácio Pessoa, tem capacidade para armazenar até 411.686.287 de m³ de água, e é o principal manancial da Paraíba a ser beneficiado com a transposição. O manancial voltou a receber água do Velho Chico há dois anos atrás, após seguidas interrupções no projeto, conforme o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) de Boqueirão. Isso aconteceu após a abertura de comportas do açude de Camalaú, que também integra o projeto de transposição do Rio São Francisco, pelo Eixo Leste, no Cariri do estado.
SAÍDA
Aguardada com muita expectativa, a transposição do Rio São Francisco, foi uma das saídas para evitar um colapso no abastecimento de Campina e demais cidades abastecidas por Boqueirão.

A CHEGADA
Com o pior nível desde a fundação, no fim da década de 1950, Boqueirão começou a receber as águas do Rio São Francisco em 2017, com a expectativa de sair do volume morto em até três meses. O açude que abastece 1 milhão de habitantes em Campina Grande e outras 18 cidades chegou a 2,9% da capacidade total, situação que fez Campina Grande e outras cidades entrarem em uma crise hídrica histórica e adotarem medidas rigorosas de racionamento.
O ENCONTRO DAS ÁGUAS
A água da transposição do Rio São Francisco chegou à cidade de Monteiro, na Paraíba, através do eixo leste. Neste trecho, a água é captada na cidade de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco e viaja por 208 quilômetros até chegar à cidade paraibana. As águas chegaram a Monteiro, no dia 8 de março daquele ano.
O CENÁRIO
Com esse cenário, o açude começou a receber as águas da transposição do Rio São Francisco, mas essa obra apresentou problemas e colaborou pouco com a recarga de Boqueirão. No entanto, Boqueirão só conseguiu recuperar a sua capacidade hídrica e garantir o abastecimento de mais de 1 milhão de paraibanos, após as chuvas dos últimos invernos.
A TRANSPOSIÇÃO
Concebido para ligar 12 bacias hidrográficas do Ceará ao Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), o Cinturão das Águas (CAC) é uma obra de infraestrutura hídrica. A ligação à Transposição do São Francisco é feita a partir do Eixo Norte e é a principal obra do PISF no estado do Ceará. A transposição tem como principal meta, ajudar a resolver a crise hídrica na região, fornecendo água para consumo humano, agricultura e outros fins.
O PROJETO
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), é a maior obra de infraestrutura hídrica do País. Com 477 quilômetros de extensão em dois eixos (Leste e Norte), o empreendimento visa garantir a segurança hídrica de cerca de 12 milhões de pessoas em quase 400 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde a estiagem é frequente.
VALORES
A obra orçada em R$ 14 bilhões do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) tem como objetivo levar água para regiões secas e semi áridas do Nordeste brasileiro.
NASCEU
O projeto nasceu em 1985, mas só saiu do papel em 2007. Segundo o MIDR, a obra está com 98,98% de execução, restando serviços complementares, que, de acordo com o governo federal, não comprometem a operação do PISF que já fornece água aos estados.
EIXOS
A transposição do Rio São Francisco é dividida entre dois eixos principais: o Eixo Leste, que tem 217 km e cruza municípios da Paraíba e de Pernambuco, e o Eixo Norte, com 260 km de extensão, cruzando municípios de Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A EXECUÇÃO
A execução do projeto consiste em captar água do Rio São Francisco para estações de bombeamento. As bombas elevam a água por tubos até a parte mais alta do canal e, daí em diante, a água segue canal abaixo por força da gravidade até chegar a uma nova estação.
MANUTENÇÃO
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) explica que a paralisação de alguns serviços na transposição pode ocorrer em casos de manutenções preventivas e ou corretivas das estruturas, testes no sistema e durante ajustes operacionais. A estrutura também não necessita de bombeamento contínuo e pode interrompê-lo uma vez atingidos os níveis dos reservatórios.
A OBRA
O Rio São Francisco responde por 70% de toda a oferta de água do Nordeste. A região, onde vivem 28% da população brasileira, conta somente com 3% da disponibilidade de água do País.
A NASCENTE
O Rio São Francisco nasce a 1,8 mil metros de altitude na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e percorre 2,8 mil km –atravessando os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Sua vazão média é de cerca de 2,8 mil metros cúbicos por segundo.
FAVORECE
A obra da transposição já passou por três governos, e desde o seu nascedouro, visa favorecer 12 milhões de habitantes de 390 municípios do agreste e do sertão dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Além de garantir segurança hídrica, o projeto também colabora para transformar regiões pobres e áridas em áreas produtivas.
CINTURÃO
O Cinturão das Águas é formado por 145,3 km de caminhamento, compreendendo segmentos de canal a céu aberto, túneis e sifões, com a função de aduzir a água derivada da barragem Jati, no município de mesmo nome, situada no Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), na região hidrográfica do Rio Salgado, até as nascentes do Rio Cariús, no município de Nova Olinda, na região do Alto Jaguaribe.
A ESPERANÇA
Entre invernos, secas prolongadas, mudanças de governo e seguidas interrupções, os nordestinos acostumados a conviver com as intempéries climáticas, esperam que a transposição se torne a redenção da região.