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VOA PASSARINHO - ENCANTOU-SE ZÉ CLÁUDIO, MEU ABRAÇO PARA MANÉ TATU

13/12/2023 - Jornal O Poder

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José Nivaldo Junior*

A morte de um pai não é tão dolorosa como a de um filho, por exemplo. Segue a ordem natural das coisas. É o que dizem e eu até concordo. Porém, existem certos pais que deixam uma cratera impreenchível, na vida e na sociedade. Salvo como consolo em momentos de despedida, dores de perdas não se comparam. Cada qual tem o seu perfil. A sua própria complexidade. A sua infinitude. O seu sentimento intransferível. Consulte sua própria alma, querido leitor, e provavelmente haverá de concordar.

MEU PAI
Na noite da sua morte, dirigi até Surubim. Escolhi o melhor uísque que tinha em casa e levei. Bebemos, eu e meus irmãos, devagar, em torno do caixão, quase a noite inteira. Contamos histórias, procuramos fazer uma despedida leve. Se chorei, foram poucas lágrimas. Semana passada, escrevi sobre ele, como faço agora, madrugada adentro. A propósito dos 70 anos do Hospital São Luiz, de Surubim, o qual ajudou a instalar e foi o primeiro diretor. Sozinho no quarto do hotel, chorei de ensopar a camisa. E já se passaram 10 anos. A dimensão da perda se tornou maior com o passar do tempo.



ZÉ CLÁUDIO
Arte, não é o meu forte. Gosto ou não gosto. Como professor, explicava os grandes nomes da antiguidade e do renascimento, os contidos nos livros didáticos. Só. Nem mesmo os queridos Laurindo Pontes e Carlos Marinho, que me introduziram no ambiente dos monstros sagrados das artes olindenses, me transformaram em conhecedor. Apreciador, é uma boa definição e um bom limite. Assim, quando um belo domingo Liliane e Sérgio Longman promoveram um almoço para nos apresentar a Zé Cláudio (Roberto Franca e Pedro Eurico presentes), algo, digamos, não rolou. O que depois passaram a chamar de química, não aconteceu. O que deveria ser o início de uma bela amizade foi adiado.




EIS QUE
Zé Paulinho Cavalcanti, Marcelo Teixeira, Carol Fernandes, Fernando Menezes, Fernando Castilho, Juraci Andrade, Pedro Jorge, Abenaildo, mantivemos ali pelos anos 1990, um almoço tipo confraria. Nas quintas-feiras, no Leite, o mais antigo restaurante em funcionamento do Recife e do Brasil. Os "titulares" podiam trazer convidados. Eis que um dia, Zé Paulinho nos chega com Mané Tatu. Pessoa bem fora do convencional. De uma personalidade tão forte que chega a arranhar. Com o espírito tão suave que embala qualquer fantasia. Uma obra de arte ambulante, que se transforma como as fases de um artista. Pintor ele mesmo, de grande talento e poucas fases.





A GALERIA
Ninguém no mundo tem tantas obras de arte de um pintor como Zé Paulinho tem de Mané Tatu. Eu, longe, participei dessa, digamos, fila de adquirentes. Montei em casa, certa época, uma espécie de galeria Mané Tatu. Zé Cláudio soube. Por mais que aparentasse certa indiferença com relação à arte do filho, tinha um orgulho enorme. Quando viu as fotos belíssimas dos quadros, restabeleceu comigo a química que deveria ter rolado no primeiro encontro. Sem muita frequência mas com profundidade. Tanto que, já ai com 82 anos, prestigiou com a esposa, Leonice ("Mãe" para Mané) minha posse na Academia Pernambucana de Letras. Casa na qual ele podia ter ingressado, se quisesse. Além de quadros, escreveu livros que são obras de arte. Assim pude desfrutar um pouco do enorme ser humano por trás da obra. De uma visita, trouxe um quadro. Adquirido a preço afetivamente simbólico, "arte não se dá, se vende", se Zé Cláudio não dizia algo assim, fica dizendo. Obrigado, Mané.

E O ABRAÇO
Vai ser esse, aqui e agora, quando você ler puder esse texto, querido Mané Tatu. Não cabe justificativa, mas não vou poder comparecer ao velório. Zé Paulinho me representa. Só te digo, Mané, que você é um filho espetacular. Como gente e artista. Nesse campo, impôs o seu estilo próprio à sua obra, meio rústico e áspero, transcendendo personalidade. Que se inspira, mas não copia nem imita o seu pai. Uma dialética perfeita. A primorosa aparente imperfeição que demarca os seus traços é uma sublime interação com Zé Cláudio. Como se disesse: pai, eu sou melhor que você, mas não quero parecer, porque te respeito muito. A grande glória de um artista é deixar um sucessor maior que ele.
Você é a melhor homenagem que Zé Cláudio podia ter na vida.
Força, muita força nesta hora.
Segue em paz.
Agora, com dois anjos velando por teu caminhar.

* José Nivaldo Junior é feliz amigo de muitos amigos. Entre eles, Mané Tatu.
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