
DESPEDIDA - MORTE DE DEMINHA ENCERRA UM CAPÍTULO DA POLÍTICA
29/12/2023 - Jornal O Poder
José Nivaldo Junior
Waldemar Borges Rodrigues, carinhosamente tratado por Deminha, morreu na madrugada de hoje, sexta-feira (29/12/23).
Ele tinha 93 anos e faleceu em casa, dormindo, de causas naturais. Deminha é provavelmenre o último dos politicos de referência em Pernambuco que iniciou sua carreira antes do golpe de 1964. Deminha foi um dos ícones de uma geração que a vida confrontou com uma realidade imperiosa: como agir diante da ditadura militar. Ele optou pelo caminho da bravura, da resistência, do sacrifício. Desculpem os que tomaram outros caminhos. Seres humanos como Deminha são os melhores.
Formado em agronomia, Deminha, como era conhecido, ingressou na política em 1962, quando foi nomeado para a Superintendência para a Reforma Agrária (Supra), que tinha atuação nos estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
DEPOIMENTO
Em notável artigo publicado hoje no blogdofinfa, o jornalista Márcio Didier reproduz um expressivo depoimento de Deminha: “Era o tempo às Ligas Camponesas. Muitos conflitos agrários. Muitas contradições. A desapropriação do Engenho Galiléia foi realizada por um usineiro, Cid Sampaio, na época governador. Me liguei muito aos sindicatos rurais e às Ligas Camponesas. Era difícil trabalhar o Agreste e Sertão de Pernambuco. A cultura paternalista impedia a ampliação da luta sindical, diferentemente da Zona da Mata onde tudo era efervescência”, lembrava Deminha.
APÓS A DITADURA
Estabeleceram-se os fundamentos da Resistência. A ditadura criou dois partidos, a Arena, do governo, o MDB da oposição. Consentida, patrulhada, tutelada, perseguida, tolhida. Ao lado da luta no exílio, da resistência armada, o MDB transformou-se, em parte e gradualmente, em instrumento da oposição real. Deminha se filiou. Agiu no limite do tolerável. Ele mesmo conta. "Foi quando me convenceram a ser candidato a deputado estadual. Meus amigos achavam que era mais importante ser candidato, aproveitar o momento eleitoral e denunciar a ditadura. Isso era mais importante do que ser eleito".
Melhor explicação, impossível.
ASSIM
Deminha foi candidato a deputado estadual pelo MDB, em 1966, em oposição ao regime militar. Foi eleito com 4800 votos. No entanto, em 13 de março de 1969 foi cassado pelo mesmo regime que combatia.
LUTA CLANDESTINA
A partir daqui, sigo com o blog Dantas Barreto. Deminha voltou a mobilizar os movimentos camponeses e partiu para o exílio, no Paraguai. Mesmo longe, continuou participando dos movimentos sociais.
WHASHINGTON
Após seis anos no país vizinho, recebeu convite para trabalhar nas Organizações dos Estados Americanos (OEA), em Washigton, onde ficou por 10 anos. Só em 1987 Deminha retornou ao Brasil, quando Miguel Arraes assumiu o Governo de Pernambuco pela segunda vez, para comandar o Prorural. Também foi secretário adjunto de Agricultura, no governo de Carlos Wilson, e depois coordenou o Dnocs no Estado. Já na gestão do governador Eduardo Campos, atuou no Promata.
MENSAGEM
Convivi com Deminha muito menos do que gostaria. Em todos os contatos percebi uma aura que o cercava. O distintivo das pessoas especiais. Deminha transbordava simplicidade, generosidade, grandeza.
Recebam a familia e os amigos as minhas condolências. Especialmente a Wal, o filho, deputado Waldemar Borges. De muitos mandatos, cargos e missões. Político digno e competente. Gente do bem, à imagem e semelhança do pai.
