
200 anos da Confederação do Equador e o Seminário de Olinda, artigo de Antônio Campos*
20/01/2024 - Jornal O Poder
O ano de 2024 marca uma importante memória histórica pernambucana: o bicentenário da Confederação do Equador, movimento político, de cunho separatista, contrário à centralização imperial que regia o Brasil. A articulação revolucionária aconteceu no ano 1824, iniciada em Pernambuco e estendendo-se pelas províncias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
À época, pouco tempo fazia que a independência do Brasil (1822) havia sido declarada. No entanto, a influência do governo português ainda era grande no País, sob as leis da primeira Constituição Nacional. Assim, o fechamento da Assembleia Constituinte naquele ano e a nomeação pelo imperador do governador Francisco Paes Barreto para Pernambuco foram estopim para o movimento de ampla participação popular e intelectual.
A história da Confederação do Equador entrelaça-se, de forma indireta, com um patrimônio religioso importante para a cidade de Olinda, que ainda atua nos dias de hoje: O Seminário de Olinda. Fundado em 1800, no prédio que antes abrigara os jesuítas, o seminário foi responsável pela formação intelectual de Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, conhecido popularmente como Frei Caneca, um dos maiores idealizadores e combatentes do movimento separatista.

O religioso foi aluno do primeiro curso de filosofia da instituição, além de, posteriormente, utilizar citações de autores que faziam parte do currículo do Seminário de Olinda. Os escritos eram divulgados por Frei Caneca em um jornal fundado por ele mesmo, com objetivo de alertar os pernambucanos sobre abusos do governo imperial.
Mesmo com grande articulação a Confederação do Equador foi sufocada pelo governo brasileiro no mesmo ano de seu início. Muitos morreram nas lutas sangrentas ou condenados à morte, após prisão, como o Frei Caneca. Nos dias atuais, o movimento precisa ser lembrado à memória do povo Pernambucano como fortalecedor da identidade local de um povo que se opõe às injustiças.
* Antônio Campos, advogado, escritor e Membro da Academia Pernambucana de Letras.
