imagem noticia

Retorno ao século passado. O Brasil volta aos padrões dos anos 1940/1950, análise por Marcelo Tognozzi*

16/03/2024 -

imagem noticia
Tenho a exata sensação de estar voltando no tempo ao constatar que o Brasil de hoje está com cara do Brasil antigo. Na administração da premiada ministra Marina Silva, no mês passado as queimadas na Amazônia bateram recorde, uma alta de 298%. Na mata atlântica os incêndios cresceram 18%. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe). O incrível é que nem os jornais daqui ou do exterior estamparam manchetes denunciando a Amazônia em chamas; virou normal.

Dengue

O Brasil convive com a pior infestação de dengue de todos os tempos, com casos ultrapassando a casa do milhão, sem que o governo federal tenha corrido para comprar vacinas. Em Brasília, epicentro da crise, os hospitais públicos e privados estão congestionados. E com um agravante: as pessoas chegam com dengue e acabam pegando Covid, porque esta outra peste voltou a infernizar com força total. Esta semana morreu de dengue o jornalista Paulo Pestana, um dos principais assessores do governador de Brasília Ibaneis Rocha, vítima da falta de prevenção do governo a que servia.

A dengue é uma peste anunciada

Há mais de 40 anos convivemos com o mosquito e não há outra forma eficiente de combate que não a prevenção. O que fizeram para prevenir? Nada. Não basta fazer propaganda pedindo para as pessoas agirem, transferindo para elas uma responsabilidade que deve ser do Estado.
O Brasil tem mais de 80% da sua população com baixa renda, baixa escolaridade e baixa capacidade cognitiva. Imaginar que estas pessoas irão resolver o problema sozinhas é no mínimo falta de bom senso.

Enquanto isso

A ministra Nísia Trindade acredita que resolverá o problema da dengue com dia D e outras panacéias. Em 2024, estamos convivendo com doenças como sífilis, tuberculose e, pasmem, até a lepra ressurgiu. Estas três moléstias são filhas da miséria, da falta de higiene e da irresponsabilidade do poder público.

População de rua

Grande parte dos doentes integram o contingente da população em situação de rua, proibida de ser removida por decisão do Supremo. População de rua tem de ser tratada com política pública capaz de devolver a dignidade perdida. Mas isso não tem sido prioridade.
Gente que mora na rua vira um problema de saúde pública, um vetor de doenças para a população mais vulnerável como idosos e crianças.

Favelização

Brasília, por exemplo, está sendo favelizada em regiões como o setor de embaixadas, ocupado por 133 representações diplomáticas, a UnB ou o Plano Piloto, onde é cobrado um dos IPTUs mais caros do país. As pessoas ocupam espaços públicos, fazem suas necessidades ali, e algumas criam galinhas, como os vizinhos das embaixadas.
Uma parte da região central da capital virou uma imensa cracolândia. Não é possível que o direito individual do morador na rua prevaleça sobre o direito coletivo da imensa maioria. Nem vou mencionar os exemplos do Rio e São Paulo, famosos por estas mazelas.

Tuberculose, lepra, sífilis

Apenas em 2022, foram 78 mil novos casos de tuberculose no Brasil e no Hospital de Base de Brasília, o mais importante hospital público da capital, todos os dias 14 pessoas são diagnosticadas com a doença. Foram 17 mil novos casos de lepra, com 90% das notificações do continente americano concentradas no Brasil. Os casos de sífilis cresceram 7 vezes na última década e devem continuar aumentando.

Lula e Lewandovsky

O presidente da República, sempre tão preocupado com a pobreza, está ocupado em interferir na Petrobras e na Vale do Rio Doce, a primeira uma empresa de economia mista e, a segunda, um conglomerado privado. Ou em fazer política internacional com o fígado, tirando o urso para dançar. O verbo é polarizar: eu polarizo, tu polarizas, nós polarizamos. Aqui, no exterior, nas redes sociais, em qualquer lugar.
O mesmo governo incapaz de controlar as queimadas não consegue prender 2 bandidos fugitivos de uma penitenciária de segurança máxima em Natal que estão dando olé na polícia do doutor Ricardo Lewandowski, um homem fino e elegante que não merecia pagar este mico depois de uma carreira brilhante no judiciário. Ainda que prendam os 2 meliantes agora, o estrago já está feito e o doutor vai levar este episódio incômodo para sempre em sua biografia.

Passado mas com futuro

Enquanto isso, a
agenda do país está refém da investigação de uma suposta conspiração de golpe de estado comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Que o caso precisa ser esclarecido e os culpados punidos todos nós concordamos, mas esta não pode e nem deve ser a principal agenda de um país que está voltando aos anos 1940 ou 1950 do século passado, convivendo com doenças que deveriam estar erradicadas ou que foram erradicadas e estão correndo o risco de voltar como a poliomielite.
O Brasil com cara de passado, não é absolutamente um Brasil sem futuro. É um Brasil que precisa seguir em frente, dar prioridade à vida, independente da polarização, do fígado dos governantes, mesmo que o espetáculo seja bárbaro, como no poema de Carlos Drummond de Andrade.

*Marcelo S. Tognozzi é jornalista e consultor. Uma das principais referências da imprensa brasileira contemporânea.

NR - Autorizada a postagem do artigo, originalmente publicado no Poder360. O título foi mudado e os intertítulos inseridos à revelia do autor.

Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.

Confira mais notícias

a

Contato

facebook instagram

Telefone/Whatsappicone phone

Brasília

(61) 99667-4410

Recife

(81) 99967-9957
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Jornal O Poder - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Jornal O Poder.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Jornal O Poder implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar