
Vitoriano, um poema viajadíssimo de Felipe Bezerra
06/04/2024 -
Seguimos inexoravelmente
inundados de desesperos,
regidos em uníssono
pela imanente orquestração do tempo.
Vivemos plantados nas superfícies,
respirando sem profundidade,
sem semearmos o cérebro
de decentes fluxos de oxigênio.
Enxergarmos sempre uma parcela
das realidades possíveis,
tecidas por sentidos desconexos
e desatentos, distraídos ao sabor
ácido dos algoritmos.
Espiamos por cima de cercas
que nos limitam as paisagens
e subordinam as reflexões.
Há uma imensidão de juízes à espreita,
que nos observa cheios de certezas,
cimentadas sobre lapsos de consciência,
cujas suscetibilidades foram plantadas
pela expertise da artificial inteligência.
E assim seguimos,
sem sentirmos com segurança plena
o que nos satisfaz completamente.
Sem desfrutarmos da tranquilidade inserta na simplicidade, que, na essência,
é a sofisticação máxima.
Até que uma nova tendência,
uma orquestrada urgência
ou uma fazenda de relevância
nos defina a nós mesmos.
Eis o mal do século.
O abismo que se aproxima,
com o brevíssimo aceno
das ressoadas do Apocalipse.