
YouTube tira do ar grito pungente em defesa dos animais por José Nivaldo Junior*
29/04/2024 - Jornal O Poder
Enquanto continuamos aguardando uma lágrima pública pelo cavalo que morreu atropelado nas imediações da cidade de Limoeiro, PE, o YouTube, que tanto reclama quando é censurado, tirou do ar o vídeo que O Poder postou com exclusividade. A dramática e realmente chocante imagem de um cavalo, atropelado e morto. Bem, entendemos que o YouTube, como empresa privada, tem direito de hospedar ou fazer check-out nos vídeos que bem entender. Por que postamos isso? Certamente não foi para incitar a violência. Nem para fazer sensacionalismo, quem nos acompanha sabe que essa não é nossa praia. O objetivo era realmente chocar quem deveria estar tão preocupado com outros animais assassinados nas rodovias pela incúria geral. Cavalos mortos, apodrecendo a céu aberto, é imagem constante para quem circula pelas estradas do País. Além de por em risco o patrimônio e a vida das pessoas que trafegam pelas estradas e ruas urbanas e rurais. Lamentamos, YouTube. Mas segue a vida.
Falso moralismo
Vivemos no país das falsidades. E, desculpem a rude franqueza, no país das patifarias. Não quero dar lição de moral a ninguém, pois de falsos moralistas o planeta anda abarrotado. Nem interessa se é assim no mundo inteiro, na França, na Bahia ou na Coreia do Lado. Lamentavelmente, é assim por aqui. O país onde vivemos. E onde, dentro do nosso limitado alcance, temos o compromisso de criticar para tentar aprimorar.

O triste fim do cachorrinho
Minha penúltima intenção é criticar quem lamentou a morte do cachorrinho que passeava extraviado e torturado por uma companhia aérea irresponsável e burocrática. O lamento foi uma manifestação de aprimoramento da consciência coletiva. Um ser vivo merece respeito ao ser assassinado por omissão. Aplausos.
Por quem os sinos dobram?
O lamento vem ante o doloroso silêncio frente a mais de 3.600 mortes humanas naquele dia, sendo 130 assassinatos intencionais. Um cachorrinho morto por omissão ocupa, para autoridades e mídia, mais que 130 humanos assassinados intencionalmente.
Em Limoeiro
Tenho forte ligação afetiva com Limoeiro, cidade já no agreste pernambucano, a uns 80 km da capital. Minha família tem raízes lá. Dr. José Nivaldo, meu pai nasceu lá, no distrito do Cedro. Vivi parte da minha vida circulando por ali. E o triste episódio que vou abordar ocorreu nas imediações da UPA que, bem cuidada por sinal, ostenta o nome do meu pai.
O caso
Um motorista de táxi, retornando de uma corrida, protagonizou um bizarro porém corriqueiro acidente nas rodovias do País. Na madrugada chuvosa de um domingo, ontem, 28/04, conforme publicado em primeira mão aqui pelo Jornal O Poder, um taxista, trafegando em velocidade apropriada, foi atropelado por um cavalo com vocação para assassino. Ou vítima.
Nem a primeira nem a última
Acompanhei
na juventude alguns casos desses. É incrível. O animal, cavalo, boi ou búfalo, bode grande ou jumento, literalmente, voa para dentro do veículo. Assim morreu há muitos anos o promotor Jaime Adrião, nas imediações da cidade deJoão Alfredo. Homem digno. Honrado por filhos que seguiram sua trilha na Justiça, no sentido pleno da palavra. No caso, uma vaca atropelou o seu veículo. O ilustre homem da lei morreu na hora. Passei pelo local a tempo de testemunhar o desmantelo. Imagem traumatizante até hoje.
Dessa vez
O motorista escapou por centímetros. E não houve mortes porque o táxi não levava passageiros.
Culpa do Governo Federal? Da governadora do Estado? Do Serviço de Proteção aos
Animais? Da Polícia Rodoviária? Dos proprietários do animal? Do lamentável bispo de Nazaré da Mata? Tem alguém culpado nessa imensa Casa da Mãe Joana chamada Brasil?
Não foi acidente
Podia-se falar em acidente se fosse algo episódico. Não é. Até nas grandes cidades, animais atravessam pistas de alta velocidade. De dia, pode-se, com sorte, evitar. Em noite escura, resta ao motorista apelar aos orixás. Isso sem falar nos cavalos torturados dia e noite por seres humanos miseráveis, literalmente, que exploram até a morte animais esqueléticos que compartilham as ruas do Recife, por exemplo, com mendigos, drogados, motos, carros de luxo e ônibus que carregam pessoas como se fossem animais. Os sofridos cavalos se destacam na paisagem de uma cidade linda por natureza.

E a lei?
O Senado Federal é integrado por 81 senadores. A Câmara Federal é formada por 513 deputados. Qual deles já se ocupou do tema?
Projeto em ritmo de tartaruga
O deputado Joao Maia, (PL/RN) já cuidou do assunto. Apresentou tardio porém fundamental Projeto de Lei. A deputada Zambelli deu um empurraozinho. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara aprovou. O Projeto de Lei 1211/21, proíbe a presença de animais soltos nas vias e determina aplicação de multa a proprietários, posseiros ou tratadores. O texto altera o Código de Trânsito Brasileiro. O projeto determina punição a quem permitir ou deixar de adotar providências que impeçam a circulação, em via pública, de animais de sua propriedade. A multa é escalonada de acordo com o porte do animal, mas em todos os casos a infração é considerada gravíssima.
Só que
O projeto empancou, feito mula birrenta. Assim, ninguém vai ser responsabilizado no caso que estamos tratando. A estrada é estadual. O secretário ou secretária de Agricultura e etc, anônimo(a) como 94% do atual primeiro escalão da governadora Raquel Lyra, tá nem aí, até agora.

Culpa
O animal, com vocação para assassino, trafegava imprudente, sem faróis, na contra mão de uma descuidada e não sinalizada rodovia estadual. Conhecemos bem os perigos da PE 90. Quadrúpede estúpido, circulando em noite de chuva por estrada tão maltratada. A culpa, pois sim, é do cavalo.
*José Nivaldo Junior, acadêmico da APL, jornalista, publicitário e marqueteiro político é de Surubim- PE.