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Entrevista do domingo com Marcelo Tognozzi - Fundos e escritórios jurídicos internacionais ganham US$ bilhões com tragédias alheias

25/05/2024 -

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Tom Goodhead comanda o escritório de advocacia londrino Pogust Goodhead, na esquina de Mark Lane com London Street, um dos endereços mais caros da City. Tom e seu sócio Harris Pogust se especializaram em defender vítimas de desastres ambientais como o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), a mina de sal-gema da Braskem em Maceió (AL), a contaminação do rio de Barcarena, no Pará, por resíduos tóxicos, e até crianças abusadas.

Marketing

Embora pareça uma ONG, o PG tem como objetivo principal o lucro, como faz questão de frisar Harris Pogust em suas declarações. Os valores de fraternidade e empatia são mero marketing. Importante são os ganhos, de preferência em dólares, euros ou libras. É isso que os move. A mina de ouro do Pogust Goodhead é a justiça de países como a Inglaterra, Holanda ou Estados Unidos. São nesses países que conseguem se mover com desenvoltura. Faz alguns anos o escritório de Tom e Harris vem faturando alto às custas dos desastres e sofrimentos – dos outros. Ambos levam vida de marajá, com jatinhos particulares, imóveis de luxo e farras homéricas. O Poder360 já mostrou como vivem estes advogados, que chegam a pagar US$ 150 mil (cerca de R$ 730 mil) por ano para seus estagiários.



Catástrofes “caçadas”

Entretanto a questão central não é esta, uma vez que lucrar com a desgraça alheia não tem nada de ilegal, embora questionamentos éticos e morais para este tipo de ação também possam ser legítimos. Recentemente, o PG se uniu ao fundo abutre Gramercy, o qual aportou cerca de US$ 550 milhões para financiar diversas ações coletivas contra catástrofes que são ‘caçadas’ pelos advogados marajás, especialmente na América Latina.

A entrevista

Este trecho, abre o artigo do consagrado jornalista Marcelo S. Tognozzi no Poder360 deste sábado, 25/05. Amigos de longas datas, nosso diretor-geral, José Nivaldo e Marcelo Tognozzi tinham um almoço agendado. Conversa vai, conversa vem, o tema do artigo virou entrevista. Os principais trechos seguem abaixo.

O Poder - Explique como funcionam os “Fundos Abutres” no mercado internacional.

MT - Fundos abutres são conhecidos no mercado por lucrar com a desgraça alheia, seja comprando dívidas com desconto, bancando litígios ou pressão legal, como faz o Gramercy ao financiar as ações judiciais do PG. Fundado em 1998 por Robert Koeningsberger, o “abutre” Gramercy administra US$ 5 bilhões em carteira. Em parceria com o PG, atua para que casos sob jurisdição da justiça brasileira sejam julgados por tribunais estrangeiros, os quais sentenciam empresas ou pessoas físicas e as obriga a fazer acordos bilionários.

O Poder - E essa 'babilaca' vai para quem?

MT - O problema é que, nesses casos, o montante desembolsado pelas corporações não são 100% destinados para as vítimas e a reparação do meio ambiente. A Vale oferece pagar R$ 127 bilhões – atenção: R$ 127 bilhões – de indenização pelos prejuízos causados em Mariana. É uma indenização recorde, maior do que qualquer outra já paga no mundo. Se agir rápido, o governo Lula evita que o PG e seu parceiro abutre, focado na exploração de carniças financeiras no Brasil, Turquia, África, Colômbia e México, mordam um naco gordo do dinheiro que deveria ser das vítimas de Mariana. Se vivo fosse, Joge Luis Borges certamente escreveria um novo capítulo para sua História Universal da Infâmia homenageando esta turma. No processo para ressarcimento pelo desastre de Mariana, movido no Reino Unido, Harris e Tom pedem R$ 230 bilhões – quase 100 bilhões a mais do que a Vale está oferecendo ao governo brasileiro para reparar os danos. Porém, se tiverem sucesso no pleito, o escritório PG e o fundo abutre embolsarão praticamente a metade do valor pedido– quantia suficiente para reconstruir boa parte do Rio Grande do Sul.

O Poder - Este problema é exclusivo do Brasil?

MT - Não, pelo contrário. O jornalista Ronald Mizen, do australiano Financial Review, publicou na última quarta-feira (22/05) reportagem mostrando que o Gramercy aposta em ações com potencial de render US$ 135 milhões por ano. Entre suas apostas preferenciais estão os processos do escritório PG, de Harris e Tom, que recebeu US$ 550 milhões em empréstimos para financiar suas demandas judiciais.



O Poder - Quanto esses caras querem abocanhar da tragédia de Mariana?

MT - Somente no caso Mariana, de acordo com o Financial Review, o PG espera um retorno de US$ 36 bilhões, o que renderia ao Gramercy nada menos que US$ 10,8 bilhões. Procurado pela reportagem, Tom Goodhead guardou silencio. Muito além da questão econômica, esta prática significa o esvaziamento de fato – e pelo Direito - do nosso Poder Judiciário.

O Poder - E como reage o STF?

MT- O Supremo Tribunal Federal, tão viril nas punições aos seus críticos, políticos e jornalistas, assiste impávido, como se este tipo de manobra fosse a coisa mais natural do mundo. Abre mão do seu poder e da sua soberania sem a menor cerimônia ou constrangimento, porque, como cantava Rita Lee, “bwana, bwana, seu desejo é uma ordem”. A mina de ouro explorada pelos advogados ingleses e seu parceiro abutre remete o Brasil à época da colônia, quando a Justiça era tutelada pela metrópole e nossas leis valiam pouco ou quase nada. Na prática, aqueles caricatos juízes de peruca branca e cachinhos dos tribunais britânicos se impõem sobre nossa soberania. Enquanto isso, nossos ministros do Supremo, seguem debatendo os problemas brasileiros em excursões pelo exterior. Aliás, este seria um bom tema para a próxima viagem de suas excelências.



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