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Artigo – O que acontece quando a frota americana se defronta com navios e submarinos russos em Cuba, bem próximo dos Estados Unidos? O jornalista Ricardo Rodrigues* analisa esta situação.

18/06/2024 -

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Quando três navios de guerra e um Submarino nuclear russos aportaram em Havana, na quarta-feira passada, a sinalização da Rússia para os Estados Unidos não poderia ter sido mais cristalina. Mais do que uma sinalização, tratou-se de uma resposta tão rápida quanto contundente à decisão do Presidente Biden de permitir o uso de armamentos americanos pela Ucrânia para atingir alvos dentro do território russo. O recado foi bem simples: podemos suprir nossos aliados, que são seus adversários, com o poder de fogo e a capacidade de atingir alvos também dentro de seu território.
A presença das embarcações de guerra russas para supostos exercícios no Oceano Atlântico, a menos de 150 km da costa da Flórida, nos Estados Unidos, constituiu um lembrete do perigo que o precedente aberto por Biden poderia representar em termos de uma escalada do conflito, hoje contido geograficamente.





Lembrando outubro de 1962

A chegada dos navios russos a Havana certamente fez a velha guarda norte-americana, incluindo os dois candidatos à presidência, recordar da crise desencadeada nos Estados Unidos pela descoberta de mísseis balísticos soviéticos em Cuba, durante o governo de John Kennedy, em 1962. O episódio, retratado em livro de Robert Kennedy, e no filme “13 dias que abalaram o mundo”, revela como Estados Unidos e União Soviética chegaram a flertar com uma terceira guerra mundial, de caráter nuclear. A crise se deu quando o governo americano foi surpreendido com dezenas de mísseis balísticos soviéticos em Cuba e com a construção, em estado avançado, de uma base de lançamento de mísseis na ilha. Para pesquisadores como Arthur Schlessinger e Graham Allison, a crise dos misseis soviéticos em Cuba só não se transformou na tão temida guerra nuclear porque o Presidente Kennedy e o líder soviético Nikita Khrushchev chegaram a um entendimento, através de canais diplomáticos não-convencionais.





Chegada pouco discreta

Ao contrário do que aconteceu em 1962, quando prevaleceu o elemento surpresa, por parte dos soviéticos, as embarcações de guerra russas agora chegaram de forma muito pouco discreta. Seus comandantes, certamente seguindo ordens do Kremlin, fizeram questão de manter os transponders de suas embarcações ativos para quem quisesse acompanhar suas movimentações. E, segundo o jornal Miami Herald, muitos residentes da Flórida monitoraram os navios por meio de aplicativos de tráfego naval. Saliente-se que, na qualidade de embarcações militares, seus comandantes têm a prerrogativa de desligar seus transponders, caso desejem permanecer não detectados. Não foi o caso.

Preocupação dos Americanos

O governo dos Estados Unidos apressou-se em declarar que a visita da frota russa não representava uma ameaça à região. Entretanto, não mediu esforços para acompanhar as movimentações de perto. Aviões norte-americanos projetados especialmente para identificar submarinos não pararam de voar nas proximidades da Flórida. E não foram poucos. De acordo com a revista Newsweek, mais de 12 aviões P-8A Poseidons, da Marinha americana, também conhecidos como caçadores de submarinos, foram desviados para a região. No dia seguinte à chegada da frota russa em Cuba, a Marinha dos Estados Unidos também despachou um submarino nuclear para a base americana em Guantánamo, em Cuba. Segundo postagem da Marinha nas redes sociais, a parada do submarino em Guantánamo foi apenas uma visita de “rotina” àquele porto. Logo após a chegada do submarino americano na base naval de Guantánamo, foi a vez dos canadenses aportarem em Cuba com um navio de guerra de sua propriedade. Ou seja, americanos e canadenses demonstraram um elevado grau de preocupação com os exercícios da marinha russa na região, apesar de sua retórica discordante.
A preocupação não é infundada. O submarino russo que aportou em Cuba na semana passada pertence a uma classe de embarcações que tem tirado o sono de militares norte-americanos e da OTAN nos últimos anos. Isso porque os submarinos russos da classe Yassen são difíceis de rastrear e estão preparados para atacar alvos no mar e em terra. Para a revista The National Interest, a classe Yassen de submarinos representa um avanço significativo da tecnologia naval russa e uma ameaça substancial para a Marinha dos Estados Unidos e para as forças da OTAN.





Ataques em solo russo

Além da declaração de Biden acerca do uso de armas americanas para atingir solo russo, um outro incidente certamente contribuiu para que Putin decidisse levar à cabo sua demonstração de força em Cuba. Refiro-me aos ataques supostamente executados pela Ucrânia em estações russas de radar. Usadas como sistemas de alerta precoce para ataques nucleares, essas estações de radar encontram-se há mais de mil quilômetros de distância do front. Para Putin, a tentativa de destruir esses sistemas de alerta precoce para ataques nucleares constitui uma sinalização de que a OTAN talvez esteja, de fato, contemplando um ataque nuclear em território russo. Se o ataque nas estações de radar aconteceu sem o consentimento da OTAN, a iniciativa poderia ser entendida como uma tentativa da Ucrânia de expandir o conflito para além de suas fronteiras, estimulando a Rússia a atacar com ogivas nucleares alguns países da Europa.
Seja como for, esse ataque ucraniano a estações de radar na Rússia levou Putin a fazer declarações ameaçadoras aos membros da OTAN. Nas suas palavras, “esses países não devem esquecer que são pequenos e densamente habitados, o que é um fator que deve ser levado em conta na hora que começam a falar em ataques dentro do território russo”.
Seja por soberba, seja por cegueira diplomática dos principais líderes deste mundo multipolar, vamos nos aproximando cada vez mais do abismo de uma catástrofe nuclear. Alheios ao perigo, seguimos caminhando rumo a esse abismo, como se estivéssemos virtualmente acorrentados a uma “marcha da insensatez”, para usar o conceito cunhado pela historiadora Barbara Tuchman.
Ah! como faz falta a serenidade de um John F. Kennedy!

Autor

*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Escreve sobre política internacional.
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