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Cristina Tavares - Uma guerreira do povo brasileiro que a nova geração não conhece, artigo de Sylvio Belém

20/06/2024 -

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Cristina Tavares Correia foi antes de tudo uma guerreira, lutando com muita garra e determinação na defesa de várias causas. Sempre voltadas para o interesse nacional e do povo trabalhador. Filha do médico José Tavares Correia e de dona Mercês, teve suas raízes em Garanhuns , onde o pai fundou o Sanatório Tavares Correia , embrião do complexo hoteleiro da família com outras unidades e
no Recife e em Maceió. Na sua juventude tornou-se amiga do grande pensador francês Jean Paul Sartre e de sua mulher, a escritora Simone de Beauvoir, com quem conviveu em Paris. Aproximou -se também de Miguel Arraes , na época exilado na Argélia e escreveu o livro 'Conversações com Arraes'. Depois, substituiu o jornalismo pela política, elegendo-se deputada federal por três mandatos consecutivos, sempre se destacando como defensora das questões nacionalistas e populares.
Na sua passagem pela Câmara de Deputados participou de grandes debates, que demarcaram sua inteligência e grande poder de argumentação, dois dos quais relato a seguir.

Confrontos históricos

No primeiro, por ocasião de uma discussão sobre o aborto, que ela defendia, foi contraditada pelo deputado Paulo Maluf, que argumentou: "Deputada , V. Excia já imaginou quanto o Brasil teria perdido se a senhora sua mãe tivesse optado pela prática do aborto?", De imediato, Cristina retrucou: "Deputado Maluf , vejamos sob outro ângulo. V, Excia já imaginou quanto o Brasil teria ganhado se a senhora sua mãe houvesse praticado o aborto?". Risadaria geral e Maluf, atônito, sem saber o que dizer.
No segundo, quando um deputado pernambucano comparou a trajetória dos dois, criticando-a porque embora de uma família tradicional usava suas energias em defesa dos trabalhadores, enquanto ele, oriundo de uma família humilde , se preocupava mais na defesa da classe empresarial . Sem pestanejar, Cristina emendou : " tens razão deputado , ambos traímos nossas origens ".

Deus

Em 1982, por ocasião de sua campanha eleitoral, tive a oportunidade de ver a maneira direta e corajosa como dialogava com o povo nos comícios. Numa visita ao município de Tabira, que enfrentava uma violenta estiagem , ela com o microfone em punho perguntou a seus assustados ouvintes : " Por que vocês sofrem desse jeito?". _ "É a vontade de Deus", respondeu um dos presentes. E ela , a seguir , " existe um só Deus, ou mais de um?". Vem a resposta , prontamente: " oxente dona, só um". Concluiu então a deputada , " então aqui Deus castiga vocês , enquanto trata bem demais o povo rico do Recife onde tem água sobrando". Sem condições de argumentar, o sertanejo limita-se a murmurar: _ "É Deus quem quer...", provocando a desafiadora conclusão dela: "Vocês têm que lutar contra essa injustiça, que não parte de Deus , mas dos homens". Nos olhares conformados de todos vi um brilho diferente, diante daquela mulher simples e valente, que lhes falava de forma direta e numa linguagem que os políticos não costumavam usar.

Despedida

A última vez que a encontrei foi em 1988, no aeroporto dos Guararapes, quando eu viajaria com a delegação do Santa Cruz, nosso clube, para uma partida pelo campeonato nacional. Ouvi dela o pedido: "Traga a vitória de lá, que eu garanto a de cá." Referia-se a sua candidatura a vice-prefeita do Recife. Não ganharam o Santa Cruz, nem ela, que , a partir de então, iniciou sua última e decisiva luta contra o mal que , infelizmente a levou precocemente, deixando um vazio na cena política pernambucana e nacional.

Enfim

No fim de seus dias ainda escreveu 'A última célula', onde descreve o tratamento nos Estados Unidos na luta contra contra a doença.

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