Madalena Arraes nos disse adeus. Mas sempre cabe lembrar como Madalena entrou na história de Pernambuco e do Brasil. Miguel ganhou a eleição por uns doze mil votos, sendo acusado de herege e adepto das ideias de Marx. Por isso, houve um espanto quando encontramos Miguel entrando na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Leme, para se casar com Madalena.

Tudo vale a pena


Era um sábado de chuva no Rio de Janeiro e Miguel estava nervoso ao lado dos seus oito filhos. Viúvo, político, inteligente, popular, Miguel lutara para conquistar o coração de Madalena Saboia Fiuza, mas quando ela entrou na igreja com vestido branco e curto, tudo valia a pena.


Cerimônia íntima

Repórteres e cinegrafistas foram proibidos na cerimônia, segundo os gritos de um alto-falante contratado de última hora. Duzentas pessoas assistiram e testemunharam a benção de Deus ao governador acusado de ateu. Um Chevrolet branco aguardava o casal do lado de fora da igreja e quando partiu com os noivos foi para uma pequena recepção antes da lua de mel.





Crônica do casamento

Para escrever o relato deste casamento lendário, nos valemos da escrita de um jovem cronista que faria famoso com seus livros sobre a ditadura no futuro: Fausto Wolff. Sim. Porque o casal que disse o sim naquele sábado de 1962, iria percorrer os caminhos do Palácio do Campo das Princesas e do golpe militar de 1964 – Madalena irada contra os militares que prendiam seu esposo.

Separados pela prisão e juntos no exílio

Viveriam separados por Fernando do Noronha e pela prisão no Rio de Janeiro. Seriam exilados nas mil e uma noites da Argélia, passando pelas noites de dúvidas e indagações sobre o futuro em Paris. A mesma Paris onde Miguel e Madalena se conheceram – ela cursando a Sorbonne onde foi classificada em primeiro lugar no curso de língua francesa. Madalena comungava todos os domingos nas igrejas de Paris e carregou essa fé nos anos de exílio, entre filhos e saudade. Enquanto Dona Lúcia, sua mãe, tocava órgão nas igrejas da Candelária e Santo Inácio.


Texto sobre o amor

Muitos dirão, qual a importância dessas informações no momento do adeus de Madalena? Realmente não sei. Mas Miguel e Madalena não suspeitavam do futuro que lhes aguardava naquela primavera carioca. Tinham o mesmo sorriso das irmãs Carmem Lúcia e Denise, eleitas rainhas dos jogos de primavera no Rio de Janeiro. O texto é sobre o amor. O amor de Miguel e Madalena. Madalena que hoje nos disse adeus para se encontrar com o Deus que vivia em seu coração. E quem sabe com Miguel. Mas aí já depende da fé de cada um de nós.