
Lembrança – O cronista Romero Falcão narra a história do homem que tinha Sílvio Santos na palma da mão
19/08/2024 - Jornal O Poder
Sábado e domingo de Sílvio Santos. Nas telas, no rádio, na conversa de botequim, nos grupos de Zap. Na pintura do artista de rua: "Vai com Deus, Silvio!" Ao invés da dancinha do Tik Tok, Sílvio Santos sorria na última entrevista. As redes sociais viram que o mar estava pra peixe. Fisgaram o apresentador com todas as modalidades da pesca, do arpão ao mergulho submarino. Mas mais do que tudo isso, o ex-camelô marcou sua história na memória "Do meu Brasil brasileiro, terra boa e gostosa".
Na mão de um sujeito
No entanto, foi dentro do ônibus que vi o guru da comunicação na palma da mão de um sujeito. Sempre ele, o ônibus, banquete para os cronistas. Um homem no centro do coletivo conta em voz alta:
- Eu apertei a mão do Sílvio Santos
- Que mão fina, suave, minha gente
- Vocês estão pensando que é mentira?
- Pois foi com esta, e levantava a mão direita como troféu
- Eu guardo ele aqui na palma da minha mão
Olha ele aqui
O povo sentado, permanece calado ante a criatura que tem Sílvio na carne, numa imaginária tatuagem. E grita
- Olha ele aqui! Voltava a mostrar o feito na mão espalmada. Me interessei pelo caso- uma próclise que começa errada. Pensei em provocar. Por acaso o senhor tem alguma prova que apertou a mão do Sílvio Santos? Mas logo recuei, duvidar daquela euforia, seria quase heresia, poderiam me lançar pela janela do ônibus.
Devoção
Na segunda viagem, a voz do saudoso comunicador reverbera de vários celulares em último volume. Entrevistas, a marca do riso repetidamente já gravado no toque do celular? Observo a devoção. Entretanto, jamais esperava o que estava por vir:
Um senhor senta ao meu lado. Dessa vez instigo de verdade
---Sílvio Santos morreu?
De olhos espantados,
Olha pra mim como quem procura um desaforo
Ooooo.... sen, sen,sen....nhor.....mo mo mo mo rmora em em que que pla pla pla planeta?
Vendedor no alto-falante
O homem é gago. Por uns instantes me vi longe do ônibus, dentro das barcas Rio- Niterói, onde o talentoso vendedor armava alto-falantes sob a lua da Guanabara, sob o sol do seu riso.
