Bairro do Cordeiro – por Carlos Bezerra Cavalcanti *
03/09/2024 -
Símbolo da resistência
Na área existiu o Forte do Arraial Novo do Bom Jesus, símbolo da resistência e epicentro das tropas vitoriosas nas memoráveis Batalhas de 1648 e 1649, nos Montes dos Guararapes, Por ocasião da Insurreição Pernambucana, que culminou com a rendição dos invasores, em 27 de Janeiro de 1654.
No local do Forte o Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) mandou erguer um monumento com uma cruz, em homenagem a esse reduto e seus heróis, ficando o local conhecido como Cruzeiro do Forte.
“Arredores do Recife”
Segundo Pereira da Costa no seu “Arredores do Recife”, em 20 de Agosto de 1616 houve a nomeação régia do Coronel Ambrósio Machado possuidor de um grande trato de terra situado no extremo sul da ilha de Antônio Vaz, ou Santo Antônio, nas vizinhanças da Campina do Taborda, em frente ao Forte das Cinco Pontas e onde havia uns poços de que se proviam d’água moradores do povoado, chamados cacimbas do Ambrósio e que existiram até nossos dias, no sítio chamado de Bairro Baixo e que desapareceram com a construção do grande prédio da antiga Fábrica Caxias, fronteira ao citado forte. Se fazia a travessia do rio de um lado, sendo por passagem de Ambrósio Machado.
Confiscado o engenho de Ambrósio Machado pelos holandeses e vendido a um particular da sua gente; dada a restauração de Pernambuco, em 1654, foi incorporado aos bens da Coroa, pela Fazenda Real e de fogo morto como ficou o Engenho, foi uma parte de suas terras adquirida pelo Capitão João Cordeiro Mendanha, que militou na Guerra da Restauração, desde seu início, como ajudante de ordens do Chefe João Fernandes Vieira e no qual fundou ele um grande partido de cana.
Tempos depois, foi a propriedade arrematada em hasta pública pelo Capitão José Camelo Pessoa, Senhor do Engenho Monteiro e a qual constava então, não só do aludido partido de cana, como de mais dois sítios, que em outros tempos pertenceram a Dona Isabel Cardoso e ao Capitão João Nunes Vitória, que militava na Guerra contra os holandeses o que tudo consta da respectiva escritura lavrada a 16 de Novembro de 1707, ficando assim essas terras do extinto Engenho Ambrósio Machado incorporadas às do Monteiro, até que em fins do século XVII, obtendo-as Sotero de Castro, por compra feita aos proprietários do referido engenho, fundou um outro a que deu o nome de Cordeiro em homenagem ao citado Capitão e também agricultor João Cordeiro Mendanha , e como já então era conhecida a localidade. Decorre também daí o nome de passagem do Cordeiro, a que primitivamente tinha o do originário proprietário “Ambrósio Machado”. A localidade, que constitui hoje um Bairro bastante aprazível, mantém o tradicional nome de “Cordeiro’. Possuindo os limites que se vê na planta:
A Igreja da paróquia atualmente Matriz do Cordeiro, invoca São Sebastião e foi fundada em 1900. Está localizada próxima ao início da Av. General San Martin, às margens da Av. Caxangá (maior reta urbana do Brasil), onde também encontramos a: Exposição de Animais. Toda a área desse parque e adjacências pertenceu ao empresário Cláudio Brotherwood, homenageado com o nome da rua que liga o Cordeiro aos Torrões. O nome oficial do Parque é Professor Antônio Coelho, ficou conhecido como Parque de Exposição de Animais, Por sediar, durante mais de 50 anos, a tradicional Festa de Exposição de Animais e Produtos Derivados, conhecida, popularmente, como Exposição do Cordeiro. Nela são expostos os melhores exemplares de gado da região nordestina, além de máquinas e implementos agrícolas.
Exposição de Animais
A festa se prolonga por quase 10 dias no final de Novembro, dispondo de shows artísticos, com músicas regionais, comidas típicas, bebidas, vaquejada e outras atrações do folclore da Região. Na imensa área ocupada pelo Parque com aproximadamente 12 hectares, funciona a sede da Secretaria de Agricultura. Durante os meses do ano são realizadas outras festas no recinto, como a Feira dos Municípios, Exposições de Cavalos Manga Larga e Campolina, além de outros eventos invariavelmente ligados à bucólica vida sertaneja.
Os Bovinos e os Eqüinos são lembrados, através de esculturas em alguns pontos do Parque, um belo monumento ao Zebu e outro ao cavalo “Mossoró” (o primeiro campeão do Grande Prêmio Brasil, oriundo do Haras Maranguape, em Paulista.)
No Bairro do Cordeiro, em frente ao Pátio do Mercado (feira livre), foi edificado o: Hospital Getúlio Vargas
Conhecido inicialmente como hospital do IAPTEC, está localizado no início da Av. General San Martín. Funciona atualmente como um dos Hospitais de Emergência do Recife. Sua construção foi iniciada no Governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra e concluída no seguinte, ou seja, na segunda gestão de Getulio Vargas de quem herdou o nome.
Vivenciamos, nesse Bairro, boa parte da nossa inesquecível juventude, motivos pelo qual, os tempos pretéritos nos deixam muitas saudades. Os cinemas “Cordeiro”, próximo ao antigo Beco do Correio e o “Brasil”, quase defronte à Exposição de Animais, ambos na Av. Caxangá.
No calçamento da Rua D. José Pereira Alves, “Rua da Pracinha” (a única calçada do Bairro, nos idos de 1962), Por isso mesmo apelidada de “Rua Calçada” existiam as peladas de futebol com bolas de borracha “arranca unha”, no trecho entre as casas de dois Lucianos, Gaguinho e Tarzan coincidentemente, residências de dois Desembargadores, Drs. Artur e Adauto. Nessas partidas de futebol sobre os paralelepípedos da rua, os carros, ao transitarem naquele trecho, tinham o efeito de uma máquina fotográfica, pois nas suas passagens, os peladeiros, como eram de praxe, tinham que ficar imóveis, nas mesmas posições em que se encontravam, como nas brincadeiras de “Mandrack”, pois, não sendo assim, alguns se beneficiavam com a situação, avançando, matreiramente, para o gol, (pena esses tempos também não terem parado).
Na Pracinha da Rua “Calçada”, também se jogava futebol, com um detalhe, que a barra não ficava de frente para o goleiro, que nesse caso nem existia, porém de lado, entre o poste e uma árvore, já na beira da rua. No centro do improvisado campo, existe ainda hoje, como testemunha tangível, uma palmeira, muitas vezes, involuntariamente, trombada pelos peladeiros menos atentos.
Nessa rua e na sua paralela, (Francisco Vita) moravam conhecidos jornalistas e célebres intelectuais como: Cláudio Tavares, Mauro Mota, Reinaldo Câmara pai de dois desses peladeiros (Ricardo e Roberto); Paulo França Pereira, (genitor de Sílvio e Saulo); Vanildo Bezerra Cavalcanti, do qual descendo, juntamente com meus irmãos Antônio, Alice, Marilda, Aroldo e Vanildinho, os dois últimos, também. peladeiros. Na Travessa Firmino de Barros, onde, naquele tempo, terminava a Rua Pais Cabral, residia o seu “Xando”, funcionário do Departamento de Produção Animal, pai do Dr. José Muniz Tavares, atual Procurador Geral da Justiça e de Ednaldo Tavares o (moçada dos bastidores da Rede Globo).
Em Dezembro, anualmente, no Bar de Vado, na Av. Caxangá, esses cordeirenses promovem uma reunião de confraternização com outros companheiros daquela época como: Hélio Coutinho (bolinha), os irmãos Júnior, Marcelo (banana) e Carlos Lago, Canhoto, ex-craque do Santa Cruz, Zé Batista, (Peru) , Chico Negromonte (palavrada) e seus irmãos João e Mário (chorão), Deputado Federal pela Bahia, Enilson, Carlos (oncinha), João do Osso, Jayme, Anderson, Wilhams, Balila, Catedrático da UFPe e Edinilton Vasconcelos , consagrado técnico de voleibol feminino e muitos outros, jovens cinquentões. O grupo é chamado de “Turma da Pracinha”, cujo lema é: eu era feliz e sabia.
* Carlos Bezerra Cavalcanti, sócio efetivo e benemérito do IAHGP
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