A “filosofia de babá", artigo por Jacques Ribemboim*
04/09/2024 -
Ideia bastante referenciada e frequentemente adotada por governantes petistas, a “filosofia da babá’ parece ter se espalhado por todas as siglas partidárias. No Recife, os alicerces dessa doutrina foram plantados pelo prefeito João Paulo de Lima e Silva (PT), com seu slogan: “A grande obra é cuidar das pessoas!”. E a julgar pelos fatos de ter sido reeleito e emplacado um sucessor, a população parece ter gostado da ideia de ser “tutelada”.
A verdadeira cidadania
Contudo, em sociedades desenvolvidas, a “filosofia da babá” jamais vicejaria. Existe uma clara distinção entre “cuidar da cidade” (isto, sim, dever do prefeito) e “cuidar das pessoas”. Famílias com algum grau de lucidez geralmente escolhem dirigentes aptos a gerir o espaço comum com eficácia e que confiram fluidez à economia. Em suas vidas privadas, contudo, preferem cuidar dos seus, fazer escolhas livremente, formar redes afetivas como lhes aprouver. À exceção dos hipossuficientes e algumas populações fragilizadas, as pessoas adultas não desejam um governante tomando conta delas.
Ente salvador
Aliás, a ideia de um cuidador, uma nanny à brasileira, um salvador externo, uma entidade redentora, é frequente no território nordestino, onde não são poucas as doutrinas messiânicas, difundidas ao longo dos séculos, talvez como herança da religiosidade judaico-cristã e do sebastianismo lusitano. Toda essa expectativa alcançou nossos dias em decorrência da precariedade educacional e econômica dos habitantes e da reprodução de modelos políticos arcaicos, como o morgadio e o coronelismo, passados de pai para filho, de avô para neto, de bisavô para bisneto.
Voto cativo
Sejamos realistas: no estado paternalista, quanto maior a dependência do cidadão, maior o poder de controle e perpetuação dos mandatários. Não vale impulsionar investimentos privados para geração de renda e emprego, inclusive de pequenos negócios. Não vale o cuidado com o meio ambiente ou o compromisso com o desenvolvimento. O que vale é o endividamento público escandaloso, o inchaço estatal, o aumento da carga tributária. Ao subsidiar parcela considerável da população por meio de transferências diretas, conseguem-se os votos para um novo quadriênio eleitoral, implodindo as chances de erradicação definitiva da miséria a médio e longo prazos.
Governantes-babás
A figura de “pai dos pobres” e o culto à personalidade, reflexos do populismo tão comum na América Latina, conferem alento aos incautos, mas faz a população de joelhos, mãos estendidas. Daí a importância – lexicográfica – da educação universal e de qualidade. Não obstante, entra governo, sai governo, e nunca políticas de fato comprometidas com a educação de base. Como fizeram com suas crianças a Europa, Israel, o Japão, a Coreia, a China. Lá, os cidadãos fogem dos tais prefeitos “cuidadores”. Sem educação não daremos nosso salto qualitativo rumo ao desenvolvimento. Nem nos veremos tão cedo livres dos governantes-babás.
*Jacques Ribemboim é economista e escritor. Da Academia Pernambucana de Letras. Concorre a uma cadeira na Câmara Municipal do Recife.
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