Longevidade

Penso no dia que fiz 60 anos decidi que viveria mais 60. Passaram-se quase vinte desde então e a possibilidade aumenta à medida em que driblo, conscientemente ou não, as adversidades apresentadas aos meus dias.
Procuro novidades, repenso certezas antigas, contraponho os meus aos modos diferentes da sociedade mantendo a expressão, “penso logo existo”, do filósofo francês René Descartes, no frontispício da construção de minha existência. Monto e remonto pensamentos, sentimentos, considerando o antigo redescoberto e o novo surgido.

Espaço e tempo

Esses movimentos me dão razão para estar presente no meio de outros, com essa configuração biológica e o complemento subjetivo que nos faz únicos, ao menos nesse canto do universo e até onde percebemos.
O tempo, nem tão rei quanto no passado, é compreendido de forma a ser deformado pela ciência que já o enlaça em tramas com o espaço e forma um tecido maleável. Em outra ponta ela, a ciência, vence nosso estado de degradação orgânica quando se antecipa aos acontecimentos, elastecendo o que há de concreto ao tempo em que lança novos desafios à nossa subjetividade.

Minha experiência

Mas, tenho repensado essa certeza: será que vou precisar viver 120 anos? Preciso conhecer tantas coisas que ainda não sei? Sou uma parte minúscula de um sistema que tomou conta desse planeta e vem se estabelecendo, baseado na experiência coletiva. Leio um texto na língua que ouvi desde o nascimento, aprendi a amassar a banana no prato junto à farinha láctea na cozinha, regra de três no colégio, a suportar o desprezo de uma namorada e a perda de minha mãe, além de usar breguetes tecnológicos no dia a dia.
Certamente passei minha experiência vivida para outros em vários momentos e em diversas condições. Por vez farão uso e passarão adiante. Então, por que cargas d’água preciso estar presente por tanto tempo aqui? Enquanto penso nessa questão, vou existindo por aqui. Até qualquer dia.


* AJ Fontes, engenheiro aposentado, contista e cronista AJ Fontes reflete a cerca do tempo de vida