
É Findi – Cultura e Lazer – Mané Pereba, crônica de Xico Bizerra*
14/09/2024 -
Fiquei estarrecido. Meu amigo pagou 120 reais pra fazer barba e cabelo em uma dessas barbearias modernas que estão na moda. E ainda teve que agendar o horário com uma semana de antecedência. Deus me defenda. Mané Pereba, no mercado público perto de minha casa, cobra $ 8,00 – se o cliente ficar em pé e $ 10,00 – se sentado em confortável tamborete. Agora, tá cobrando uma taxa extra de 1 real por conta do ventilador, última geração, instalado no salão. E ainda tem o brinde de aparar o excesso de cabelo nas sobrancelhas e na venta, cortesia de Mané.
O apelido
Deve-se a uma pereba crônica em sua mão esquerda, decorrente de um corte de sua própria navalha, quando se iniciou na profissão. Ressalte-se que em nada o fato interfere no bom desempenho de seu ofício. Faz mais 15 anos que corto o cabelo com Mané e não me arrependo, apesar de eventuais cortes desnecessários ao longo da trajetória. Mas faz parte.
Tentei convencer meu amigo a experimentar Mané, mas até agora ele resiste. Besteira dele, ‘tá gastando’ dinheiro à toa.
De pai para filho
Fui lá, paguei a menor taxa e conheci Mané Perebinha, herdeiro profissional do pai, iniciante no ‘metier’, mas já demonstrando talento. Cortei com ele e fiquei satisfeito. Mais teria ficado se não tivesse saído de lá com dois caminhos de rato na minha já não tão bela cabeleira. Mas é do jogo. Afinal de contas, economizei 110 contos. Na média, uma economia de 55 contos em cada corte.
Vizinhança
O salão de Mané fica vizinho ao do senhor que conserta relógios e em frente ao do sapateiro. O alfaiate, que ficava ao lado, fechou as portas. Hoje tem lá um consertador de celular. Tomara que Perebinha resista aos avanços modernos atuais, siga os passos do pai e que não exija agendamento para futuros cortes.
*Xico Bizerra, poeta, cronista e compositor