É Findi – Cultura e Lazer – Caiu na rede é peixe? Crônica, por Ana Pottes*
14/09/2024 -
É desse jeito mesmo
As redes sociais são construídas por pessoas que em interações emitem opiniões e posicionamentos sobre fatos do cotidiano e, nessa ótica, encontramos tanto aqueles nas atividades do trabalho ou com grupos de amigos e familiares quanto os chamados influencers. Um termo besta tão presente nos noticiários policiais da atualidade, se refere a formadores de opinião que, a partir de ideias e posições, induzem e geram comportamentos, arrrebanhando seguidores em grande número.
A vida digital, dotada de outras regras de convivência, faz surgir informações com a rapidez de rastilho de pólvora e, seguindo essa lógica, um influenciador é um comunicador cujo sucesso ao criar os conteúdos, irá modificar o estilo de vida dos seguidores. Na essência são marqueteiros virtuais pagos por empresas cujos “produtos e serviços” eles “vendem”. Atualmente, as notícias que nos chegam nos levam a duvidar, cartesianamente, de muitas das informações.
Uma conversa boa
O jornalista Luís Filipe Castro publicou um artigo cujo título chama atenção: Pesquisa revela que o Brasil é o país dos influenciadores digitais. Nele discorre sobre pessoas que influenciavam jovens em um passado não tão distante e eram agentes de transformação. Eles possuíam cultura e conhecimento de peso sobre os assuntos que tratavam e quase sempre eram destaques nas áreas. Figuras como Ulysses Guimarães, na política; Carlos Drummond de Andrade, Di Cavalcante, na literatura e nas artes respectivamente, juntos com músicos e filósofos propagavam ideias de uma época influenciando a maneira de agir, o raciocínio e o pensamento de uma geração.
Uma conversa de outro jeito
Desde o início do século XXI vem eclodindo mudanças radicais e os meios de comunicação evoluíram com as tecnologias de ponta. Se antes eram jornais, revistas, rádios, conversas nos bares, a modernidade apresenta os canais de internet que, de rede em rede, nos traz ao que temos hoje em velocidade gigantesca. Nem as conversas nos bares resistem e os celulares tomam assentos, dominando as mesas.
O face a face, olhar nos olhos do outro, acaba ocupando curtos espaços do nosso tempo, pois as telinhas arrebatam as atenções. Como as atividades de influenciador digital estão, quase sempre, associadas a um produto que se quer vender, há grandes interesses em jogo e tudo em troca de muito dinheiro. Os novos gurus possuem milhões de seguidores apaixonados agindo de acordo com suas ideias. Em um estudo realizado pela Nielsen em 2022, citado no artigo do jornalista Luiz Felipe Castro, os dados da pesquisa indicam um fato inusitado: o número de influenciadores digitais supera o de engenheiros civis e se igualha ao dos médicos existentes no Brasil.
Nas plácidas margens
Ao que nos parece há um solo propício nas terras brasileiras para o crescimento de informações superficiais e, algumas vezes, mentirosas sobre temas de peso na vida de um país. Claro, existem aqueles influenciadores dotados de conhecimento para falar sobre temas importantes, entretanto há um predomínio de uma cultura vazia, onde os valores são momentâneos numa busca por se tornar celebridade e obter poder econômico.
Meses atrás li uma matéria sobre a China ter banido influencers das suas redes por conta de estilos extravagantes, de ostentação e por “violarem as regras de autodisciplina”, aspectos, na minha compreensão, carregados de subjetividades, mas a China é um país dotado de um sistema de forte controle social.
Aqui entramos em outro ponto nevrálgico ligado ao mundo virtual. Como fiscalizar uma rede? É possível fazer regulação dos influencers sem que se caia na vigilância exacerbada, na censura, com o estado prescrevendo as falas dos cidadãos? O mundo conhece de perto as consequências de ações ditatoriais. Há quem defenda a necessidade de rígidos controles, mas há também quem levante a questão de que os limites regulatórios já existem e se encontram em uso, não se fazendo necessário outros, pois as extrapolações devem ser corrigidas e punidas, quando preciso, pelas leis do país, pelo seu sistema judiciário. Ouvi do escritor e filósofo Luiz Felipe Pondé palavras sobre sua preocupação com o assunto, do receio em conceder tanto poder ao Estado.
Insere-se outra polêmica: Onde assentaremos as bases das redes sociais - na liberdade de opinião e do livre pensar ou na censura?
*Ana Pottes, psicóloga, gosta de escrever crônicas, contos e poemas sobre as interações emocionais com a vida. Autora do livro de poemas: Nem tudo são flores, mas...elas existem!
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