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Gol de Letra - Coluna semanal - A dopamina da política pernambucana, por Roberto Vieira*

23/09/2024 -

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A política pernambucana é avelós com momentos de mel de uruçu do Alto Bonito. Assim escreveria um cronista do início do século XX sobre os acontecimentos que mudaram nossa história. Porém, agora, em tempos de João e Tabata, o mais correto é afirmar que mel e avelós são uma questão de neurotransmissores. O pernambucano, apaixonado em tudo que faz, não vive os dias de urnas com frieza e matemática absolutas por culpa da senhorita dopamina. 





Flagra

A ditadura permitiu eleições para governadores em 1982. Marcos Freire pula na frente de Miguel Arraes e disputa contra Roberto Magalhães o poder estadual. Muita gente aposta em Freire, mas imagens de um suposto flagra da esposa do candidato com um dos amigos do candidato num motel de Brasília abala a campanha. Eram dias de machismo incorrigível. Marcos Freire era o galã da política estadual. Aquilo era escândalo para ninguém botar defeito. Marcos Freire e sua esposa relatam que houve um sequestro e as forças de segurança fizeram as fotos à força para chantagear o político. Por outro lado, a ditadura afirma que o casal estava no motel quando foram surpreendidos pelos militares. Marcos perdeu a eleição. O Nordeste tem a vitória da Aliança Renovadora Nacional, Arena, partido do governo, em seus nove estados, inclusive Pernambuco.   





Jane

Duas décadas se passaram. O agora prefeito Roberto Magalhães perdeu a cabeça e vai até o jornal ameaçando o colunista social como Tarzan. A escultura de Francisco Brennand no Marco Zero é o motivo da discussão. Tudo porque a escultura lembra a imagem do órgão sexual masculino e a esposa do prefeito não teria gostado de uma escultura desse tipo na entrada da cidade. A rede de intrigas toma conta do processo eleitoral e a oposição com João Paulo se aproveita do episódio para vencer por uma pequena margem de votos naquela eleição tida como perdida.  

Heloísa

Francisco Rosa e Silva tem 54 anos. É dono de Pernambuco e do Diário de Pernambuco. Nessa ordem. Dinheiro não falta a Rosa e Silva, mas isso de mandar em todo mundo cansa. Viaja muito. Milionário, mulheres de todo o mundo sonham com o olhar e a conta bancária do oligarca. Mas Francisco só tem olhos para o Poder. O coração repousava na juventude quando se casou com Maria das Dores, a mãe de Rosinha, ou melhor, de Chiquinho Rosa e Silva, seu herdeiro. Só que Rosa e Silva é viúvo e o escritor Graça Aranha chega em Recife, trazendo à tiracolo sua filha Heloísa. Francisco enlouquece. Move mundos e fundos pelo amor de Heloísa. Consegue. Casam-se. Heloísa tem 16 anos. Cego de amor e dopamina, Francisco não enxerga o surgimento de Dantas Barreto que toma o poder em Pernambuco e muda o destino da nossa história. 





Dopamina 

O momento do atual prefeito é feito de velocidade e excitação. A sua administração e campanha política são observados no ritmo frenético da paixão ou da dopamina. Existe a felicidade, as memórias positivas, a sensação de que pode superar qualquer obstáculo, quadro típico em overdose de paixão. Sabemos também que durante essa paixão ocorre a redução de outro neurotransmissor: a serotonina. Por isso também sentimos obsessão pela pessoa amada. O córtex pré-frontal quando desliga no amor, diminui nossa capacidade de raciocínio, faz com que executemos movimentos irrefletidos de defesa da pessoa amada ou que julguemos dopamina da esposa com um amigo o que não passa de chantagem política. Mas, no caso específico de Rosa e Silva e Heloísa, é curiosa a falta de análise histórica de um dos períodos mais turbulentos da nossa história, sem a narrativa do poder dos neurotransmissores na vida de um homem de cinquenta e poucos anos, olhos azuis, poderoso, oligarca, ex-presidente interino da República, o qual jogou tudo para o alto pelo amor de uma jovem de 16 anos. Concordo que avelós e mel são poéticos, mas talvez seja chegada a hora de complementar a análise da história pernambucana com o eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal. Misturando Manuel Bandeira, Oliveira Lima, Arvid Carlsson, Alceu Valença e George Barger, tudo ao som da belle de jour. 

*lROBERTO VIEIRA é médico e cronista. Escreve a coluna Gol de Letra nas segundas-feiras no Jornal O Poder. E conhece de perto os superpoderes dos neurotransmissores
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