Zabumba arrefece

Na colina de Olinda, nos dias de Momo, o Trombone amanhece calado, represado na garganta. Vassourinhas não varre uma nota de frevo. No Recife Antigo não é diferente, o Pistom se queixa triste, por que Nelson Ferreira tão pouco presente? Vem o São João, Sanfoneiro e Sanfona desolados, cada vez mais escanteados. A multidão dança outro ritmo. Zabumba arrefece. O Berrante assume o comando militante, instiga o instrumento Pé de Serra, lacra : "Deixa de ser conservador, preconceituoso, junta-se a nós, aprende a amar outras batidas". O pandeiro de Jackson jaz em silêncio. Qual seria o tom do compositor e habilidoso cronista, Antônio Maria? Comporia um lamento Frevo - Canção?

Guitarra sorumbática

Na mesma cadência segue o ‘Rock In Rio 2024’. A Guitarra sorumbática pensa em Jimi Hendrix, tenta tirar um solo do mix enjoativo que se tornou o tal evento. João do Rio, cronista cortante, criador do Febeapá - Festival de Besteira Que Assola o País - com sua pena afiada trocaria ‘Rocky In Rio’ por "Mistura Rio"? O braço do Baixo fica macambuzio, deprimido. As baquetas da bateria envergonhadas. Os mais ativistas dirão. É a diversidade, seus estúpidos! Sim, gosto da diversidade, do olhar mais amplo, inclusivo, panorâmico sobre a sociedade. Mas talvez exageramos na dose, perdemos tradições, referências, parâmetros, nos diluímos de tal maneira que o líquido é quem determina a forma, ou melhor, não há mais forma. O fundamento pasteurizou-se. Tudo cabe dentro do São João, do Rock, do Carnaval. Meu carro pode ter focinho de Porsche e motor de fusca. Basta eu querer, e daí ?

Medida da desconstrução

Eu sei que a arte tem alma insurreta. O modernismo mexeu em paredes sólidas . Mário de Andrade emergiu um Brasil plural, diverso, múltiplo, livre das correntes. No entanto, os modernistas sabiam a medida da desconstrução. Inovaram na arquitetura sem desprezar a base.

*Romero Falcão, cronista, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo