Artigo – Israel inicia a invasão por terra do Sul do Líbano e dá início a nova fase da guerra contra o Hezbolah. Por Ricardo Rodrigues*
01/10/2024 -
Aquela oportunidade de discursar perante a Assembleia Geral da ONU, o primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, jamais perderia. Ele até pensou em não ir ao evento. Pelo menos isso foi o que disse no início de seu discurso na sexta-feira. Afinal, sabia perfeitamente que não seria bem recebido por muitas das delegações ali presentes. Mas as dúvidas quanto a subir ao púlpito da Assembleia Geral, se existiram, dissiparam-se por completo horas antes de deixar o hotel rumo ao prédio da ONU.
Sinal verde
Nos momentos que antecederam sua ida à ONU, Netanyahu usou os equipamentos de comunicação que sua delegação havia instalado no apartamento do hotel para falar com o alto-comando militar de Israel. Com base no que ouvira dos militares israelenses, Netanyahu autorizou, dali mesmo, o bombardeio aéreo ao “bunker” que servia como quartel general do Hezbolah nos subúrbios de Beirute. Foi o sinal verde para matar o Líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah.
“Nós estamos vencendo!”
Foi de posse dessa notícia bombástica que Netanyahu se dirigiu, com altivez, ao púlpito das Nações Unidas para falar à Assembleia Geral. Do alto da tribuna, ele contemplou, com um certo desdém, as inúmeras delegações que se retiraram do recinto em protesto às ações militares de Israel em Gaza e no Sul do Líbano. Da mesma forma, fez ouvido de mercador para as longas vaias que insistiam em entrecortar seu discurso. Nada conseguiria tirá-lo daquele estado de espírito.
Em seu discurso, Netanyahu fez questão de frisar que Israel não seria “um cordeiro levado ao abate”. Salientou também que tinha uma mensagem para a Assembleia Geral da ONU e para o mundo do lado de fora daquele edifício: “Nós estamos vencendo!”
Tinha do que se gabar. Israel acabara de executar uma campanha militar exitosa contra seu arqui-inimigo, Hezbolah. Uma campanha digna de entrar para os anais da história mundial da inteligência militar, primeiramente, com a detonação de “pagers” assassinos, que mataram dezenas de militares do Hezbolah, além de mutilar milhares deles. Depois, o Mossad identificou a localização de dezenas de comandantes das forças militares do Hezbolah para torná-los alvos de bombardeios aéreos certeiros. Por fim, nem mesmo o líder máximo do Hezbolah, que vinha comandando o grupo a mais de 30 anos, escapou da inteligência e dos bombardeios israelenses.
Escalada de tensão
Não há dúvidas de que a campanha israelense no Líbano deixou as lideranças do Hezbolah aturdidas. Os “pagers” assassinos aniquilaram sua comunicação. A eliminação de comandantes experientes destituiu suas forças militares de gestão estratégica nas frentes de batalha. A morte de Nasrallah deixou o movimento sem liderança. Enfim, gerou o caos.
O resultado empoderou Netanyahu de tal modo que, alheio às críticas dos inimigos e aos temores dos aliados, decidiu elevar a tensão na região, escalando os conflitos. Ontem, iniciou uma invasão terrestre do Sul do Líbano, visando ao extermínio do Hezbolah enquanto força militar. Antes, já havia atacado alvos dos Houthis, no Iemen. Isso, enquanto continua a campanha militar contra o Hamas em Gaza.
Riscos
Os temores dos aliados de Israel não são infundados. Apesar de enfraquecido, o Hezbolah não deve ser subestimado. Ainda possui um arsenal invejável e conhece melhor do que ninguém o território que o exército israelense acabou de adentrar. Há riscos de uma guerra terrestre no Sul do Líbano tornar-se outra guerra interminável, como a da Ucrânia. E, pior, de se expandir, trazendo para o conflito outros players que atuam ou têm interesse na região.
Não sei se, no fundo, esse não seja o objetivo de Netanyahu: transformar a guerra contra os grupos paramilitares do Hamas e do Hezbolah em uma guerra do Ocidente contra o chamado “Eixo da Resistência”. Seu discurso na Assembleia Geral da ONU pode, inclusive, ser interpretado como um chamamento, uma convocação ao Ocidente para enfrentar o inimigo comum.
Na hora que os tanques de guerra israelenses atravessaram a fronteira com o Líbano, Israel deu início a uma nova fase do conflito com o Hezbolah. A guerra agora passa a ser uma guerra de atrito, que tende a ser prolongada. Esperemos que a soberba induzida pela vitória da estratégia da inteligência e dos bombardeios não leve os israelenses a uma cegueira quanto às consequências de suas ações. Esperemos que os israelenses tenham planejado sua saída da nova guerra de desgaste que se inicia da mesma forma que planejaram sua entrada. Todos sabemos como estes conflitos começam, mas uma vez iniciados, ninguém faz ideia de como encerrá-los.
*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Ele escreve sobre política internacional para O Poder às terças-feiras.
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