O Agreste Setentrional – Na data de hoje 200 anos atrás: fez-se um Conselho de todos os oficiais para se tomarem medidas de segurança para a divisão
01/10/2024 -
Por Fernando F Guerra
Continuamos com a publicação de textos do historiador Fernando Guerra extraídos do seu trabalho “O Agreste Setentrional e a Confederação do Equador”, na postagem de hoje, iremos falar sobre a passagem pelo povoado de Couro Dantas, no município de Riacho das Almas.
Riacho das Almas e Frei Miguelinho
No dia 1º de outubro fez-se um Conselho de todos os oficiais e pessoas de inteligência para se tomarem medidas de segurança para a divisão. Nomeou-se um novo secretário para a divisão e caiu a nomeação sobre nossa pessoa”, registra Frei Caneca.
Estratégia
“Nesse momento foi estabelecida uma nova estratégia para a marcha” com três batedores à frente, uma guarda avançada cinquenta passos atrás, depois outra guarda avançada suficiente e à sua retaguarda o 1º Batalhão, o Estado Maior e à retaguarda uma peça de calibre 1 reforçado em 3, a bagagem e depois o 2º Batalhão com outra peça de calibre 1 e depois de tudo, uma guarda de retaguarda para ajuntar os soldados que ficassem debandados pelos matos e estradas.
2 de outubro
“Na manhã do dia 2 de outubro a divisão saiu de Couro Danta em uma marcha de quatro léguas e fomos tomar quartéis (...) no lugar chamado Topada. O inimigo que marchava adiante de nós comandados pelo frade de que já falamos nos quis obstar a passagem em um lugar chamado Onça, mas foram atacados e debandaram”.
Frei Miguelinho
Topada, no atual município de Frei Miguelinho, era um “arraial de muitas casas com uma pequena igreja” situado nas proximidades do riacho com o mesmo nome, tributário em sua margem esquerda do Capibaribe, que divide hoje os municípios de Frei Miguelinho, primitivamente chamado de Olho D’Água da Onça e Vertentes.
O povoado
O povoado de Topada teve o seu nome mudado para Valdemar Lima comandante de um grupo de militares que buscavam juntar-se à Coluna Prestes, tendo sido morto em emboscada nas suas proximidades. Após a revolução de 1930 foi considerado um herói.
Divisão Confederada é atacada em Couro Dantas, município de Riacho das Almas
Dia 30 de setembro de 1824
Após dormirem em Bateria, na manhã do dia 30 “levantando o acampamento e posta a divisão em marcha não seguiu aquele método que era racional e prudente para proteção da divisão, porquanto logo depois da guarda avançada comandada pelo capitão Antônio Carneiro Machado Rios, marchou o estado maior e depois deste o batalhão em uma maneira confusa e desordenada”, descreve Frei Caneca em seu diário de viagem.
O inimigo
“Chegando a divisão a Couro Danta, légua e meia de distância, esqueceram-se todos de ser aquele ponto em que, segundo avisos, o inimigo pretendia tirar a desforra do Limoeiro, e assim o satisfazemos com nosso estrago e perda”.
Capibaribe
Na margem do Capibaribe, por onde deveriam prosseguir viagem, “o caminho era estreito, ficando um despenhadeiro para o rio, cuja descida além de ser íngreme e rápida estava coberta de arvoredo e à esquerda (margem direita do rio) corria um lombo de terra da altura de cinco braças (…) com umas trincheiras naturais de pedregulho e este trânsito teria de extensão bem suas trinta braças”.
Divisão
A divisão em marcha não seguira o método que era racional e prudente para sua segurança, precavendo-se contra grupos armados que iam adiante provocando emboscadas.
O Frei
O Frei Jerônimo de São José, o mesmo personagem que fora rechaçado em Limoeiro, reorganizou-se e atacou as forças liberais impondo-lhes perdas consideráveis em Couro Danta, hoje Couro Dantas, cuja margem esquerda do rio pertence ao município de Frei Miguelinho e sua margem direita ao município de Riacho das Almas.
A guarda
“A guarda avançada adiantara-se e quando foi querer deixar atrás o lugar do perigo, rompeu o fogo inimigo na frente, nos lados e no centro”. Nessa investida ficaram vários mortos entre os patriotas.
Desordenadamente
“João Cândido que por sua desgraça ia também desordenadamente diante da guarda avançada, recebeu uma descarga da trincheira da frente e caiu imediatamente morto, caindo também ferido o capitão Carneiro, com três tiros de chumbo e palanquetas, (1) sem poder se levantar.
O governador
O governador ferido de chumbo e não podendo sustentar nas rédeas do cavalo espantado, caiu pela ribeira abaixo entre os inimigos que ocupados em dar descargas para cima não o viraram ou o reservaram para depois.
João Lisboa
João Soares Lisboa, que ia igualmente depois do governador das armas, ao apear-se do cavalo para fugir do perigo foi ferido d’uma palanqueta no vazio direito que lhe ficou sobre o umbigo, com outra em um braço. Morreram logo um soldado e pouco depois o valente Manoel de Carvalho que caiu e foi dizendo: Adeus minha pátria! Saíram feridos vinte dos quais morreram depois alguns”.
Sensível
“João Soares Lisboa uma das pessoas cuja falta era mais sensível, logo que foi ferido deu os mais claros indícios de não sobreviver a esse desastre; veio a morrer no dia seguinte trinta e duas a trinta e três horas depois de ferido. Português de nascimento era brasileiro por afeição.
Liberdade
Decidiu-se pela liberdade do Brasil e por esta se dedicou a escrever o Correio do Rio de Janeiro, único periódico do Rio dito pelos franceses. Pelo periódico da oposição pela sua decisão em favor da liberdade foi degredado para Buenos Aires e depois pela intriga dos Andrades ficou oito meses preso no Rio de Janeiro para ser degredado por oito anos, saindo da prisão pela dissolução da assembleia, por um perdão dado pelo Imperador e se passou a Pernambuco onde trabalhou quanto esteve em seu poder para sustentar a liberdade das províncias do Norte contra o despotismo do Rio de Janeiro. E para se entender melhor o plano da tirania escreveu "O Desengano dos Brasileiros”.
Enterrado
Foi enterrado no último dia do mês de setembro no álveo do Capibaribe onde o manto das águas da represa do Jucazinho lhe cobre os restos mortais e lhe dão o sossego da eternidade.
Perturbação
Após essa “primeira perturbação e muitas desgraças deitaram-se linhas pelo rio e ribanceiras e batendo-os ainda se mataram alguns calhambolas”. (2) (O Poder com Correio do Agreste)
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