Outubro Rosa: a quem cabe essa luta?
01/10/2024 -
Uma reflexão sobre a conscientização e saúde de mulher
Criado na década de 90, o Outubro Rosa é um movimento internacional pela conscientização e prevenção do câncer de mama, uma doença que continua a afetar milhões de brasileiras e ainda é a principal causa de morte por câncer em mulheres no Brasil, com estimativa de atingir 74 mil mulheres em 2024.
Diagnóstico precoce
Se consideramos que as chances de cura podem chegar a 95% se a mulher for diagnosticada precocemente, parecem inverossímeis os dados divulgados pela UNAME, associação civil dedicada ao apoio às iniciativas de saúde pública, sobre o aumento de 86,2% da taxa de mortalidade pela doença nos últimos 22 anos no país.
Fatores que dificultam o diagnóstico e o tratamento
Envelhecimento populacional, obesidade, tabagismo e consumo excessivo de álcool ajudam a explicar o aumento na incidência de câncer de mama entre a população, mas a mortalidade encontra-se diretamente relacionada ao diagnóstico em estágio avançado. Segundo estudo publicado neste ano na prestigiosa revista científica ‘The Lancet’, a desinformação e o estigma associado à doença são fatores que dificultam o diagnóstico e o tratamento.
Mamografia para mulheres de 50 a 69 anos
A Organização Mundial da Saúde recomenda mamografia de rastreamento para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos, sendo uma garantia legal que casos de suspeita de neoplasia maligna tenham acesso a exames diagnósticos em até 30 dias. A partir do diagnóstico, o tratamento da doença pelo SUS deve ser iniciado no tempo máximo de 60 dias, é o que determina a Lei Federal 12.737/12.
A realidade demonstra, porém, que apenas 34% das pacientes de origem SUS iniciam o tratamento antes dos 60 dias, contra 48% do setor privado, conforme estudo divulgado em 2021 pela Fundação do Câncer. Não há dúvidas de que a dupla jornada familiar, os obstáculos para ampliação da escolaridade e a busca pelo posicionamento profissional da mulher deixam máculas na sua saúde.
INCA
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer – INCA, a prevenção, além dos exames de rotina, está diretamente associada ao controle do peso corporal e à prática de atividades físicas, as quais precisam ser estimuladas por todos, instituições públicas e privadas, inclusive por órgãos de classe como a OAB.
Momento de reflexão
Outubro, além de ser o mês da conscientização sobre o câncer de mama, pode e deve também ser visto como um momento de reflexão sobre a saúde integral da mulher, tanto física quanto mental. Em estudo inédito realizado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o censo da advocacia identificou que 52% da classe reconhece os esportes e a atividade física como meios para melhorar sua saúde e qualidade de vida, ainda assim baixíssimos são os estímulos para tais práticas.
É ultrajante acessar o portal de transparência da Caixa de Assistência aos Advogados de Pernambuco e identificar que um órgão com ativo circulante médio de 30 milhões ao ano mantém ativas quatro categorias masculinas de futebol, com treinadores disponíveis duas vezes na semana, enquanto que para as mulheres advogadas que desejem se dedicar a essa prática, além de terem que financiar elas próprias o seu transporte semanal e a mensalidade do campo de society, só dispõem de equipe técnica uma vez na semana.
Equidade de gênero
É necessário repensar o papel das empresas e da sociedade na promoção da equidade de gênero. As instituições podem e devem adotar políticas mais inclusivas, que incentivem não apenas a equidade salarial e o apoio à maternidade, mas aos cuidados com a saúde da mulher. O censo da advocacia 2024 apontou que apenas 8% dos advogados estão vinculados ao plano de saúde da OAB. Desses, apenas 2% são jovens advogados, o que demonstra cabalmente a ausência de acesso e apoio institucional ao cuidado integral com a nossa saúde.
Outubro Rosa: reflexão sobre todas as nossas batalhas
O Outubro Rosa deve ser uma oportunidade para que cada mulher possa refletir sobre si mesma. É mais que um símbolo de luta pela saúde da mulher. É um convite à reflexão sobre todas as nossas batalhas, mostrando que o caminho para uma sociedade mais justa e equitativa passa, necessariamente, pela valorização e respeito ao trabalho e à saúde feminina.
Seja na luta contra o câncer de mama, seja na busca por seu espaço no mercado de trabalho, as mulheres enfrentam desafios imensos. É hora de nós mulheres nos conscientizarmos e reconhecermos quem realmente se compromete com o nosso avanço, que 2024 seja um ano de renovação da nossa esperança.
Texto de:
Fernanda Resende, advogada, professora universitária e presidente do Sindicato dos Advogados de Pernambuco.
Encaminhado por:
*Rosa Freitas é doutora em Direito, advogada, servidora pública e autora dos livros Direito Eleitoral para Vereadores e Vereadoras, e outros disponíveis na plataforma Hotmart e Direito Eleitoral para Prefeitos, Editora Igeduc.
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