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Uma nova era. O homo tecno. – Por Antônio Campos*

27/11/2024 -

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As redes sociais, os games, a internet estão impactando a leitura de livros e até a forma dos homens orarem.
I. Uma nova era fortemente impactada pelo mundo digital
O mundo atual online, com cerca de 60% das pessoas conectadas, tem tirado o tempo para o convívio das pessoas e a leitura de livros.
Segundo Nicholas Carr, em seu livro A Geração Superficial, já não se aprofunda em nada. É um mundo superficial em que as pessoas leem uma manchete nas redes sociais e partem para outra. Ou que o google ou Chatgpt da OpenIA viraram os oráculos
E mais: o excesso de conectividade tem gerado uma geração ansiosa, depressiva, síndromes de pânico, suicídios de jovens, algo que merece uma grande reflexão. E na era da conectividade reina a solidão.
Ora, se não tem sobrado tempo nem para o convívio pessoal desejável, quanto mais para leitura.
Essa é uma questão nuclear, mas há outras questões também relevantes, como a falta de acesso ao livro ante a grande desigualdade social no Brasil.
Na sua mais ampla forma, essa inaudita espécie representará a tentativa de dominação de uma era tecnológica sobre a era humana. E será marcado pela extinção do sapiens e prevalência do tecno sapiens, ou como podemos chamar, do Homo Tecno.

II. A leitura no Brasil.
A pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, em sua sexta edição, com cerca de cinco mil e quinhentas entrevistas realizadas pelo Instituto Ipec relata que ao longo dos últimos dez anos os brasileiros vêm lendo cada vez menos.
Entre abril e julho deste ano, cerca de 5.500 entrevistas foram realizadas pelo Instituto Ipec, com o objetivo de traçar um perfil do leitor no país. De 2007 a 2024, o percentual de leitores caiu de 55% para 47%, enquanto o de não leitores cresceu de 45% para 53%, ultrapassando o número de leitores pela primeira vez.
São considerados leitores, para os parâmetros da pesquisa, os indivíduos que leram pelo menos um trecho de uma obra – física ou digital – nos três meses anteriores.
O Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos 5 anos.

III. Algumas anotações
Temos alguns problemas na atualidade como a compulsão por drogas, jogos, redes sociais e pelo uso do celular, que no Brasil já tem mais celulares do que pessoas.
A tecnologia está impactando a forma de orar.
Um interessante livro é Aprender a rezar na era da técnica, de Gonçalo M. Tavares, autor português que esteve duas vezes na Fliporto.
Um exemplo, é o podcast “café com Deus pai” em que diariamente lança episódios bíblicos e o fiel ouve e entende aquilo como se tivesse feito a sua oração diária.
Em Olinda, a biblioteca pública municipal está fechada há mais de 4 anos, com 22 mil volumes sendo deteriorados.
Um dos meus planos em curso é fazer a biblioteca digital em Pernambuco e fazer um aplicativo para tanto, tendo uma curadoria para os livros que lá constarão.

IV. O hábito de leitura no Brasil enfrenta diversos desafios, muitos deles relacionados a fatores culturais, sociais e econômicos. Eis algumas razões que explicam por que os brasileiros estão lendo pouco:

1. A internet, os games e as redes sociais estão roubando o tempo para ler livros.

2. Baixo incentivo à leitura desde cedo
• Educação básica deficiente: Muitas escolas não priorizam a formação do hábito da leitura. O foco está em ler por obrigação, como para cumprir currículos, e não por prazer.
• Falta de acesso à literatura: Algumas famílias não têm o costume de incentivar a leitura, o que contribui para que a criança não associe livros ao lazer.

3. Falta de acesso a livros
• Custo dos livros: Os preços dos livros no Brasil são considerados altos para grande parte da população.
• Bibliotecas insuficientes: Muitas cidades carecem de bibliotecas públicas bem equipadas e acessíveis.

4. Questões econômicas
• Desigualdade social: Em regiões mais pobres, a prioridade está na sobrevivência, e a leitura pode não ser vista como uma necessidade.
• Pouco tempo livre: Muitas pessoas trabalham longas horas ou têm rotinas exaustivas, o que limita o tempo dedicado a atividades como a leitura.

5. Concorrência com outras formas de entretenimento
• Tecnologia e redes sociais: O tempo que poderia ser usado para ler é muitas vezes gasto no celular, assistindo vídeos ou navegando nas redes sociais.
• Mídias audiovisuais: Filmes, séries e podcasts muitas vezes oferecem narrativas mais rápidas e acessíveis para a maioria.

6. Baixa valorização da leitura
• Falta de exemplos: Em muitos casos, figuras públicas ou influentes não promovem a leitura como um hábito positivo.
• Cultura imediatista: Ler exige concentração e tempo, características que não combinam com o ritmo acelerado da vida moderna.

7. Políticas públicas insuficientes
• Falta de estímulo governamental: O Brasil carece de políticas efetivas de fomento à leitura, como programas de incentivo à compra de livros ou maior investimento em bibliotecas e campanhas de leitura.
• Corte em subsídios: Recentemente, houve debates sobre a taxação de livros, o que poderia dificultar ainda mais o acesso.

Como mudar esse cenário?

A mudança requer esforços conjuntos de diversos setores:
• Escolas e famílias: Incentivar a leitura desde cedo com livros acessíveis e de qualidade.
• Políticas públicas: Investir em programas de incentivo à leitura e democratizar o acesso a livros.
• Sociedade: Promover a leitura como algo prazeroso e acessível, integrando-a ao cotidiano.
• Educar as pessoas para o equilíbrio no uso da tecnologia, celulares e redes sociais.

Afinal, a leitura de um livro deve ser uma forma de felicidade.


*Antônio Campos, advogado, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.

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