
Artigo - O Catecismo Segundo Carlos Zéfiro, por Zé da Flauta"
12/12/2024 -
Aos 15 anos, descobri que o verdadeiro catecismo da vida não estava na paróquia, mas nas páginas amareladas de um caderno clandestino que circulava de mão em mão como uma relíquia sagrada. Era o "O Catecismo", escrito por um tal de Carlos Zéfiro, que nunca apareceu na minha aula de religião, mas ensinava coisas que nem o padre ousava mencionar. Era a nossa biblioteca de Alexandria particular, guardada a sete chaves dentro de uma mochila velha e, claro, sempre longe dos olhos da minha mãe.
A imaginação
Ler aquelas histórias era como uma iniciação filosófica, só que muito mais emocionante do que Platão jamais imaginou. Entre as curvas desenhadas a lápis e os diálogos que misturavam ingenuidade e audácia, aprendíamos que o mundo era maior do que a pracinha do bairro e mais complexo do que qualquer equação da aula de matemática. Ali, Zéfiro nos apresentava um universo onde a imaginação tinha o papel principal, e as mãos... bem, essas faziam hora extra.
O proibido
Mas havia algo mais profundo escondido ali, algo que só percebi anos depois, já com os calos nas mãos substituídos por calos na alma. As histórias não eram só sobre desejo; eram sobre descobertas, sobre a inquietação de querer entender o que estava do outro lado da porta. Eram sobre a busca pelo proibido e a celebração do humano em toda sua confusão e vulnerabilidade. E, no fundo, era uma lição sobre o tempo: o quanto ele voa e o quanto a gente muda, mas nunca esquece o primeiro livro que fez o coração disparar.
Não era só imagens
Hoje, penso que Carlos Zéfiro era mais do que um desenhista de cenas picantes; ele era um filósofo da simplicidade, um cartógrafo da juventude. Ele nos ensinava que crescer é um processo esquisito, que mistura culpa, riso e uma curiosidade que nunca morre. No fim, Zéfiro não vendia só revistas; ele vendia espelhos para que a gente se enxergasse, ainda que fosse à luz fraca de um banheiro trancado. E quem nunca se trancou com seus próprios pensamentos, que atire a primeira revista.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo do cotidiano e escritor.
