É Findi – Cultura e Lazer – As mangas de dezembro – Crônica, por Aderson Simões*
11/01/2025 -
O fim de ano se aproxima. O Sol do verão pede passagem, mas os ventos de agosto relutam em ceder o lugar. O Recife dorme, agasalhado por um manto de nuvens brancas. O fim do ano se aproxima anunciado por Ipês que desabrocham suas flores, amarelas ou cor de rosas, trazendo um ar primaveril à cidade. Os cajueiros ficaram para trás, substituídos pela florada das mangueiras. Os shoppings se vestem para o Natal. Lâmpadas coloridas começam a enfeitar prédios e praças. Um certo cantor é despertado de seu sono criogênico e logo anunciam mais um especial com ele.
As mangueiras centenárias se enfeitam com frutos em tons que vão do verde ao vermelho. Já se vêm moços e velhos em suas bicicletas trazendo longas varas de bambu. Época de fazer um dinheirinho com a coleta e o comercio da cobiçada fruta. A cidade se mostra generosa para eles, garantindo uma espécie de décimo terceiro para quem não é assalariado. Qualquer tipo serve: manguito, manga espada, rosa ou outra denominação. Nada escapa, se deixar para trás outro passa e leva. Um carro para ao lado do coletor que se transmuta em vendedor.
- E aí patrão, vai levar uma manguinha hoje? Tudo escolhida, inchada e tirada no leite. Essas são mais doces que as do cemitério de Santo Amaro. Terrível estratégia de marketing.
- Quanto custa?
- A Espada fica a dez a dúzia e a rosa, quinze.
- Faz por dez a rosa?
Eu não entendo porque se regatear por algo que é bem mais barato que no supermercado, de melhor qualidade e ainda por cima está ajudando a um necessitado. Certamente este comprador “esperto” não barganha ao receber a conta em um restaurante caro.
As mangas de dezembro me remetem à minha infância onde no terreno da vizinha se agigantava uma velha mangueira que produzia os frutos mais doces das que já provei. Alguns galhos invadiam o lado de cá, mas era no lado de lá onde estavam as mais graúdas. Pular o muro e atirar pedras era minha rotina. Voltava com umas cinco mangas nas mãos, outras tantas na barriga e a cara lambuzada. Certa vez fui pego no flagra. Isso não tá certo. Pula o muro, fica atirando pedras que quebram as telhas e por cima derruba mais verdes do que as maduras. Não me importo avisando. Quando quiser é só pedir e pegar uma vara que fica no chão, ao lado da casa. Não me fiz de rogado e aproveitei a oferta. Dia sim, dia não, lá estava eu batendo palmas na frente do portão. No final deixava algumas com ela e trazia tantas quanto coubessem no espaço entre a camisa e a barriga.
*Aderson Simões, engenheiro, professor aposentado, ator teatral e escritor. Autor do livro ‘A Morte do Comendador’
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