É Findi – Cultura e Lazer – Recesso, crônica, por Romero Falcão*
11/01/2025 -
Cronista raiz
Início de ano, O "Poder" entra em recesso, o Pilates também suspendeu as atividades por uma semana. Em contrapartida, a comilança de fim de ano se excedeu-natural pra quem tem apetite e bolso. Minha maneira de ver, sentir, se indignar, se expressar através da escrita se recolheu durante essa pausa. Ressaca criativa? No entanto, as maravilhas, mistérios e misérias do cotidiano não gozam de recesso. E o cronista de verdade, ao pisar na rua, fareja em cada esquina, a beleza e a dor da metrópole. O cronista raiz não tira folga, traz para a ponta da pena as chagas da urbe. O cronista raiz levanta o texto sobre a "flor que rompe o asfalto", Já o cronista ‘nutella’ se concentra no buquê bonito e cheiroso. O cronista raiz tropeça na calçada, chega em casa senta o dedo no teclado, chacoalha o desprezo do poder público. O ‘nutella’ se preocupa com o couro do sapato arranhado.
Sessão de selfies
Estou longe de um cronista raiz, mas receio me tornar um ‘nutella’ definitivo, daqueles que caminham pelo centro do Recife ou de São Paulo, completamente indiferente como se passeasse pelos corredores de um shopping de luxo tomando sorvete, olhando vitrine. Perdi a mão, a cólera, a fúria? Adaptando Marx - "Diga-me o que comes e eu te direi quem és". Diga-me o que escreves e eu te direi quem és. Sim, senhor, leitor, andei de aplicativo, de ônibus, a pé pela cidade. Vi e ouvi coisas que dariam contos, crônicas, e nem sequer estirei uma linha no papel, na tela do computador. Nenhuma intenção, palavra de peso, de choque, totalmente apático diante de um Ano Novo no calendário e tão velho nas mazelas, nos medos. Surpreendentemente, o que me ocorreu foi uma compulsiva sessão de selfies. Emporcalhei o meu Instagram de fotos como uma digníssima celebridade. O holofote da imagem - pedra de toque do mundo contemporâneo - ofusca o que seria preciso ser escrito, firmado no olho de quem me lê.
"Motor para a escrita"
Desse modo, o cronista aspirante à raiz se retraiu junto com a vergonha de não produzir coisa alguma, nem um esboço no guardanapo da cafeteria, não consegui transmitir ao menos uma inervação do politicamente incorreto. Voltei para casa me sentido vazio, medíocre, carregado de culpa. Mas como disse o escritor e poeta, Jean Genet: "A culpa é um excelente motor para a escrita".
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo
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