Ano novo, pensamentos nem tão novos

- Como foi de passagem de ano, Seu Antônio?
- Bem, e o senhor, Seu Antonio?
- Com saúde.
- Graças a Deus!
- Graças.

Sigo eu, pela estrada de chão batido meio às fazendas e sítios no terreno acidentado entre as serras das Russas.
O nome é comum entre os moradores da região: o caseiro do vizinho; o sitiante, amigo de Paçoca, minha cachorra, e outros locais e estrangeiros.
A mim foi dado em homenagem ao avô materno, grafado sem acento por descuido de papai e do escrevente que registrou minha existência burocrática nesse mundo. Contudo, não importa, somos todos Antônio: o feirante da Rua do Comércio ou do Cafundó da minha infância em Caruaru; o colega malandro do ginasial no Colégio Municipal da Capital Agrestina e do amigo inteligente da faculdade; sem esquecer os doutores das letras, leis, cálculos, da saúde, na robótica, TI e equivalentes.

Antônio para todos os lados

Há Antônio escondido em Fernando, Carlos, Luís e, vira e mexe, aparece um novo e esquisito encapsulando o abençoado. Embora o meu tenha um companheiro, fui habituado pelos pais, tios e primos a atender o composto Antonio José, carregando garboso e orgulhosamente a marca da Pátria Antonina da qual faço parte.
Diria um político, em comício, que independentemente da corruptela gráfica, tenho essa marca que vara o mundo de um a outro, os pontos cardeais e seus vãos, por tempos infindos. Marca que fez, faz e fará a história de cada canto desse planeta. Ele se calaria para ouvir a massa aclamar com palmas e repetir o nome: Antônio, Antônio, Antônio.

De fato, são tantos lutadores, pensadores, escritores, inventores, atores, além de caminhantes a passar entre ruas, vielas e becos do mundo que tomaria folhas e folhas de papel ou bits e bits de informações virtuais. Citar o romano Marco Antônio, braço direito de Júlio Cesar; meu xará querido: Santo Antônio, carregado de amor; Antônio Carlos Jobim, compositor de músicas que marcaram vidas no Brasil e além mar; Antônio de Nóbrega, multiartista que nos encanta com sua dança, música e personagens do nosso folclore, seria como imprimir quatro pontinhos coloridos em uma folha de papel duplo-ofício.

O que importa é sentir no coração, e nas carnes todas do corpo, a força e firmeza oferecidas por essa marca.

Contam em enciclopédias guardadas nas bibliotecas e em sites soltos nas nuvens que nós, Antônios, somos valiosos, até inestimáveis e, claro, inigualáveis.

Mas, isso a gente sabe desde o primeiro choro, não é?


*AJ Fontes, contista e cronista, engenheiro aposentado, e eterno estudante na arte da escrita, publicou o livro de contos: Mantas e Lençóis. Publica um conto sobre o amor.