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Desafios da comunicação - O povo sobe no Uber, mas a Globo vai de táxi? Crônica por Emanuel Silva*

11/01/2025 -

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Nos saudosos anos 80, uma jovem Angélica subia de táxi em ritmo de hit e marcava seu destino para a TV Globo. Foi sucesso, é verdade. Mas, algum tempo depois, o táxi começou a perder espaço. Não sumiu — ainda há quem o prefira —, mas a hegemonia se foi, atropelada pelos apps de transporte. Uber e afins chegaram democratizando (palavra da moda), modernizando e dando aquela famosa "disrupção". Os táxis tentaram resistir: buzinas, protestos, apelos emocionados e até regulamentações com sabor de IPVA. O resultado?

Não desapareceram

Mas ficaram para o banco de trás.
Curioso como essa história tem se repetido em outros cenários. Saímos das ruas e entramos no universo das telas. De um lado, as redes sociais e as plataformas de streaming, oferecendo entretenimento sob demanda e um algoritmo que sabe mais sobre você do que sua mãe. Do outro, a TV Globo, outrora rainha absoluta, agora um pouco como os taxistas de outrora: nostálgica pelo protagonismo perdido.

De 39 pontos para o banco de trás

O Jornal Nacional já foi como aquele táxi de luxo que todo mundo chamava nos anos 2000. Registrava uma audiência média de 39 pontos em São Paulo. Era o horário nobre, o Brasil parava para assistir. Mas 2024 chegou, e o que restou foi uma média anual de 23 pontos, uma queda de 41% em duas décadas. Para piorar, em dezembro, a emissora bateu seu recorde negativo: 9,9 pontos de audiência na Grande São Paulo. Pela primeira vez na história, ficou abaixo dos dois dígitos.



O táxi virou aplicativo?

Não. A Globo virou passageira.
A perda de audiência entre os jovens é notável. Eles trocaram o controle remoto pelo celular, e a TV aberta, antes inquestionável, se transformou em uma opção — e não mais "a" opção. Essa migração drena não apenas audiência, mas também os anunciantes, que preferem investir seus milhões em plataformas digitais e redes sociais.
Mas o que faz a Globo (e a velha mídia)?
Como veterana teimosa, ela combate as redes sociais com o fervor de quem tenta estacionar um táxi em vaga reservada para Uber. Alguns jornalistas — especialmente da GloboNews —, outrora defensores da liberdade de expressão, hoje parecem incomodados com o que chamam de "terra sem lei". Pedem regulamentações, censuras e tudo que possa fazer o relógio voltar a 2000. O curioso? Estão tentando ganhar espaço nas mesmas redes que criticam, postando cortes de programas e opinando por likes.
Ver isso é quase tão inusitado quanto um taxista parar no meio do trânsito para perguntar ao motorista do Uber como se chega à rua certa. É contraditório, é desconfortável, mas é onde estamos.

Tudo muda.

Aceitem. Dói menos.
A TV Tupi foi pioneira e virou saudade. A Manchete, que nos deu novelas icônicas, também desapareceu. O Grupo Abril, que nos entregou a Veja e a Capricho, encolheu até virar rodapé de sua própria história. A Globo ainda está viva, com muito poder e relevância. Mas eterna? Bem, nem os burros que puxavam as charretes acreditavam que o automóvel fosse pegar. E deu no que deu.
A questão é que a Globo tenta ser o Uber da comunicação — só que sem aplicativo. É como o táxi insistindo na bandeirada fixa enquanto o público já está pedindo um carro com desconto e ar-condicionado.

As excelências e suas charretes

E as excelências que compram essa briga? Ah, elas são um caso à parte. No passado, os donos de charretes se revoltaram contra os automóveis. Havia quem jurasse que carro era moda passageira. Hoje, vemos algo semelhante: tentativas de regulamentar, taxar, censurar e "domar" as redes sociais. Querem nos devolver à era das charretes, mas o problema é arrumar cavalos para todos. O pior? Quem insiste nessa ideia é como o burro puxando a carroça — preso a uma lógica que já não faz sentido.
A dor de “cotovelo”
O povo, no fim, faz suas escolhas. Monta seu cardápio: uma dose de Netflix, um punhado de TikTok, talvez um podcast e, quem sabe, uma espiada no YouTube. A Globo (e a velha mídia), como os táxis, ainda tem espaço. Só que não é mais a única. A dor de perder o protagonismo é maior do que a concorrência. Mas, no fundo, é uma questão de adaptação. E como a história ensina, quem não se adapta… fica para trás. Seja dirigindo uma charrete, um táxi ou um conglomerado de mídia, cujo vermelho entrou na logo prata.

*Emanuel Silva, é professor e cronista.



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