
Brio, crônica, por Malude Maciel*
23/01/2025 -
No lar da minha infância, escutávamos, pelo rádio, músicas na voz de Luiz Gonzaga, que tinha como parceiros excelentes compositores que primaram em bem expressar, com sua arte, os fatos cotidianos.
Uma delas, denominada: "vozes da seca", de autoria do médico Humberto Teixeira, consiste num dos mais autênticos protestos da música popular brasileira. Serviu de bandeira aos movimentos estudantis de outrora e ainda hoje consideramos atualizada porque chama o indivíduo a confiar em seus valores, na força produtiva, além de mexer com os brios de um povo forte que não deve ser humilhado nem menosprezado jamais.
Uma estrofe assim conclama os ouvintes: "Sr. doutor... uma esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão." Uma apelação contundente.
Auxílios
Quando foi instituído o auxílio ‘Bolsa Família’, imaginávamos que seria em caráter de emergência, por um tempo determinado, um plano emergencial que durasse apenas um período, enquanto as famílias cadastradas pudessem ser preparadas, qualificadas para o trabalho, assumindo sua responsabilidade de cidadania. Assim seria formidável.
No entanto, os beneficiados ficaram viciados, acomodados, conformados a viver na total dependência da ínfima esmola que o governo oferece numa atitude paternalista, atrofiante e eleitoreira.
Presente de grego
Sabe-se que o ser humano gosta de ganhar presente sem fazer força, sente-se feliz sendo agraciado com algo, esquecendo o que representa tal benesse que lhe cativa e escraviza, ficando refém na permanente mendicância. Nem sempre as pessoas despertam para o mérito da questão. Sem educação o desenvolvimento mental e intelectual é precário levando indivíduos a trilhar por caminhos pré-fabricados, como fazem os rebanhos.
Esses programas causam limitações, tolhem perspectivas de progresso individual e coletivo, pois é preciso caminhar com os próprios pés.
*Malude Maciel, Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, ACACCIL.